Venezuelanos ajudam a limpar regiões tomadas de barro em MG. Imagem: Arquivo Pessoal

A pequena Manhuaçu, na zona da mata mineira, abraçou o venezuelano Samuel Alejandro Juárez Rojas, 32, há um ano e três meses, quando ele fugiu da crise no país para viver no Brasil. A mesma cidade que o acolheu – e onde ele hoje é professor de inglês – agora precisa de sua ajuda após sofrer com as chuvas que castigaram Minas Gerais.

Essa cidade me acolheu, foi e é tão boa para mim. Agora precisa da minha ajuda. Eu sou muito feliz aqui, como não vou retribuir? Então eu dou uma mão agora para quem precisa, porque quando eu precisei, recebi”., disse Samuel Juárez

Segundo o último da Defesa Civil de Minas, 55 pessoas morreram e 53 mil ficaram desalojadas ou desabrigadas por conta das fortes chuvas que caíram no estado. Uma pessoa ainda está desaparecida. Rojas diz que começou a ajudar ainda no sábado (25), mas só conseguiu pôr a mão na massa no dia seguinte.

“No domingo saí para limpar a rua, recolher lixo e entulho. Andava com amigos, a gente chegava em um lugar que estava precisando e ia ajudar, trabalhar. Quando já estava mais ou menos pronto, saia e ia para outro local. Na segunda-feira, levamos algumas doações recebidas de um ponto para outro. A última coisa que eu fiz hoje [ontem] pela manhã foi fazer comida, preparar marmitas. Depois disso, fui para meu trabalho”, conta.

Longo caminho até Minas

Ao lado da mãe, Rojas deixou a Ciudad Guayana, já próximo à divisa com Roraima em 13 de outubro de 2018. Foi de carro até Boa Vista e, de lá, foi até a cidade mineira a convite de um pastor, que hoje chama de pai. Atualmente, ele e a mãe atuam como professores – ela de espanhol, ele de inglês – na cidade mineira.

“Eu fui acolhido aqui. Só ouço as pessoas falarem que sou bem-vindo, que vou ser feliz aqui, que fique aqui, que vou feliz aqui, que vai dar tudo certo. Isso para um estrangeiro é muito. Chegar no país do jeito que eu cheguei aqui, só com uma roupa que eu tinha dentro da mala. Deixei tudo para trás, e agora eu tenho um lugar, comida, trabalho, estabilidade. Eu tenho uma vida boa e tenho muitos amigos aqui”, diz. O venezuelano tem um filho de 5 anos, que hoje mora com a mãe – sua ex-esposa – no Peru, também fugidos da crise. Desde 2018 ele convive com a saudade de não ver a criança. “Quando saí de lá, trabalhava em uma empresa como diretor do departamento de marketing e encarregado do jornal. Não tinha planos de vir, ganhava em dólares; a minha situação não era a situação do resto da população. Mas mesmo tendo dinheiro, não tinha comida para comprar. A escassez foi muito forte um tempo. Não passávamos fome, mas era comida racionada. Foi quando meu pai [o pastor Sergio Vieira, de Minas] falou com meu irmão, convidou a gente e a gente veio”, disse.

Chamado atendido de imediato A ativista Beatriz Lourenço Prata é integrante da ONG Fraternidade Sem Fronteiras e trabalha no acolhimento de famílias venezuelanas em Manhuaçu. Ela conta que, ao ver a tragédia se instalar, fez o chamado para que os venezuelanos participassem da ajuda de limpeza e atendimento humano às vítimas das chuvas. “Nunca houve uma enchente dessa intensidade aqui. Entrei em contato com alguns venezuelanos, que imediatamente se dispuseram a ajudar”, conta. Segundo ela, entre crianças e adultos, existem hoje em torno de 80 venezuelanos na cidade. “Em alguns casos, os mais jovens vieram primeiro, e, assim que conseguiram trabalho, se organizaram e trouxeram famílias”, explica.

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