A Prefeitura de Boa Vista foi acometida por um surto impressionante, jamais visto em duas décadas da atual administração, algo beirando um prenúncio de fim de mundo. Trata-se da participação da prefeita Teresa Surita (MDB) no 1º. Infothon Boa Vista, evento que tem a finalidade de abrir discussões sobre Transparência, Fake News e Primeira Infância. Um momento que merece atenção especial.
Já que a prefeita agora parece querer se redimir e enveredar por novos caminhos, ela precisa rever seu perfil no Facebook, onde tem 1,2 milhão de seguidores e 1,3 milhão de curtidas (!). Isso para uma política de um Estado que mal tem meio milhão de habitantes.
São números de artistas famosos para uma prefeita de uma esquecida cidade acima da Linha do Equador. Apesar dessa impressionante marca, Teresa faz pouco caso dessa rede social com números fantásticos e adotou o Twitter, onde só tem 22,2 mil seguidores, como seu principal canal de comunicação e interação com os internautas.
Como pode um político desdenhar de um perfil com números de popstar? Político vive de púbico e audiência. É um dado para uma reflexão em um momento onde o fake está sob intenso questionamento e repúdio por quem busca uma sociedade baseada na verdade e na transparência. Só para comparar, essa mesma “popularidade” no Facebook não é refletida no YouTube, onde Teresa tem apenas 457 inscritos em seu canal.
Outro fato a ser observado nesse surto municipal é o item Transparência, em que a Prefeitura de Boa Vista é contumaz em não informar dados e números sobre obras e contratos milionários, a exemplo dos R$65 milhões gastos em um suposto plano de mobilidade que nunca foi apresentado à opinião pública. Quem foi buscar informações sobre tal empreendimento teve que recorrer à Justiça e ainda assim não conseguiu até hoje.
A mesma falta de transparência cerca as demais obras municipais, como as obras de reforma, ampliação e construção de praças. Ninguém sabe a respeito de valores, especificações, aditivos e outros dados necessários para fiscalizar a correta aplicação dos recursos públicos. Tudo o que a Prefeitura não quer que o público saiba e que os órgãos fiscalizadores ignoram.
Com relação ao item Primeira Infância, a Prefeitura abandonou, desde a primeira gestão da prefeita, há quase duas décadas, ao menos seis obras de creches pró-infância, só retomando a construção há alguns meses quando Teresa decidiu ser a “rainha da primeira infância”. Mesmo assim, há obras fantasmas que só estão no papel, como a creche que deveria existir no Caimbé, justamente um dos bairros que mais sofre o impacto da imigração venezuelana. Mas lá só existe o terreno onde uma creche deveria estar funcionando.
Quem quis saber informações sobre esse escandaloso abandono de construção de creches teve que recorrer a Brasília, porque a Prefeitura nega qualquer informação a respeito de obras, convênios ou qualquer coisa que diz respeito a aplicação de recursos públicos.
Ainda no quesito Primeira Infância, só para relembrar, Teresa se negou a fornecer alimentos para as crianças estrangeiras que estavam em abrigos. A Prefeitura também não se mostra preocupada com o grande número de crianças morando na rua, esmolando nos semáforos, feiras e supermercados, além de não ter uma política voltada para esse público, a não ser instalação de estátuas de animais nas praças, que deixam a cidade bonita, é verdade, mas oculta uma realidade que se torna uma bomba silenciosa que irá explodir lá na frente.
Criança na ociosidade, fora da creche, ou na permissividade das ruas, significa pequenos cidadãos (independente de nacionalidade) que logo poderão cair na marginalidade, que é um passo para pequenas infrações, que por sua vez é a porta de entrada para a criminalidade. E o que já é crítico por ação do crime organizado pode se tornar pior ainda.
Essa é a conjuntura da Prefeitura de Boa Vista, que parece querer se redimir. Ou será apenas uma encenação para um evento até bem intencionado, mas que logo tudo será esquecido assim que o circo midiático cessar? Vamos observar as movimentações e aguardar que surja um novo cenário de transparência de verdade, sem notícias mentirosas ou maqueadas, com uma política voltava à infância além do lúdico, que efetivamente faça inclusão social e escolar como política efetiva de governo, e não projeto de marketing político ou pessoal. É disso que Boa Vista precisa e clama.
*Colunista