Prefeitura está retirando internet gratuita das praças públicas (Foto: Divulgação/PMBV)

Boa Vista começou a experimentar um grande movimento de retrocesso na inclusão digital. É a desinclusão digital. Como não têm competência para montar um serviço de vigilância e ocupação das praças pela Guarda Municipal, em especial as que ficam nos bairros periféricos, a prefeita Teresa Surita (MDB) mandou retirar a internet de todos as praças públicas como forma de evitar aglomeração de “pessoas desocupadas,’ em especial de venezuelanos. 

Até na Praça das Águas, no complexo poliesportivo Ayrton Senna, o cartão postal da cidade, onde ela diz que está preparando para o turismo, a prefeita mandou retirar a internet. Estamos caminhando para nos tornarmos a única Capital do país sem locais públicos com serviço de internet gratuita. Significa que Boa Vista está enfrentando uma vergonhosa limitação da internet fixa em praças públicas.

É importante lembrar que a Organização das Nações Unidas (ONU) entende que o acesso à internet é um direito humano e que desconectar a população da web viola esta política. É esse direito que está sendo negado pela Prefeitura de Boa Vista, fato que se torna mais grave ainda porque somos um Estado onde há um grande número de refugiados que dependem da internet para se comunicar com familiares em seu país de origem.

Embora haja um boxe da Guarda Municipal exatamente na Praça das Águas, de frente para o Portal do Milênio, mesmo assim nunca houve um serviço não só de segurança efetiva, mas também de orientação aos estrangeiros, que andam de bicicleta pela calçada entre pedestres, sob risco constante de atropelar principalmente crianças e idosos, além de alguns sob atitudes suspeitas. A retirada da internet foi a alternativa irresponsável e xenofóbica para evitar os estrangeiros.

No bairro Cidade Satélite, onde Teresa mora, a internet foi retirada recentemente, onde serviço era usado não só por venezuelanos para manter contato com seus familiares, mas também por brasileiros que têm nesse serviço público uma maneira gratuita de se socializar, se divertir e se informar. Mas, com a falta efetiva de segurança pública, os traficantes ocuparam o local e as pessoas que fazem caminhada passaram a ser assaltadas.

Essa realidade se repete em outros bairros, onde a insegurança tem afugentado as famílias das praças, as quais estão sendo reformadas a um custo muito alto com o dinheiro do contribuinte para logo em seguida serem largadas aos marginais, traficantes e assaltantes. Além das depredações que chegam rápidas quando o poder público se ausenta no zelo com o espaço e na segurança das pessoas.

A praça do bairro Cambará, recém-reformada, já está depredada e tomada pela insegurança. A marginalidade tomou conta da praça, que passou a ser local de venda de drogas e assaltos. Pais preferem se deslocar para o Centro por temerem ficar com suas crianças naquela praça. O mesmo ocorre com a praça do Cidade Satélite.

Enquanto isso, a Guarda Municipal é determinada para atuar em ronda ostensiva, fazendo o trabalho da Polícia Militar, em vez de estar ocupando efetivamente as praças públicas. E todos os milhões usados na reforma desses locais estão sendo destruídos pelo vandalismo, e logo essas mesmas praças irão consumir outros milhões em obras de reforma, uma atrás da outra, enchendo o bolso de empreiteiros e, quem sabe, da corrupção.

Ao mandar retirar a internet das praças públicas, a prefeita pensa que vai reduzir a marginalidade nesses locais e afugentar bandidos. Ela acredita que todos os venezuelanos são marginais e que somente bandido usa internet de graça nas praças públicas. Agindo assim, Teresa não só viola o direito das pessoas de estarem conectadas com o mudo, como também pune os imigrantes indistintamente, como se todos fossem bandidos.

Esse é um caso sério e grave que merece urgente intervenção do Ministério Público de Roraima (MPRR). Trata-se de um direito coletivo sendo violado, além de uma agressão aos imigrantes. Seria bom que o MP aproveitasse para verificar as obras de reforma das praças e a ausência de segurança, que acaba servindo para afugentar as famílias e assim largar esses locais ao vandalismo, o que significa mais gastos de dinheiro público em reformas intermináveis.

Ou o Ministério Público não consegue sentir um cheiro ruim nisso tudo? Ou está achando normal retirar a internet gratuita, praças sem segurança entregue ao vandalismo e seguidas obras de reforma a custo milionário?

*Colunista

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