Os vereadores não terão muito trabalho para conseguir provas, caso queiram mesmo instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a denúncia de irregularidades no contrato da empresa responsável pela coleta de lixo urbano e de áreas indígenas, além do serviço de jardinagem na cidade. Já existe um dossiê completo e detalhado sobre o suspeitíssimo contrato entre a Prefeitura de Boa Vista e a empresa paulista Sanepav Saneamento Ambiental.
Por ventura houver alguma dúvida entre os nobre vereadores da Capital, é só acompanhar um pequeno resumo desse dossiê de 500 páginas em um artigo publicado nesta coluna, na semana passada (leia o texto na íntegra aqui). No artigo, fiz uma compilação das principais irregularidades apontadas com base em documentos e publicações no Diário Oficial do Município, além de acurada apuração dos fatos para checar informações de empresas envolvidas.
A CPI da Sanepav (ou CPI do Lixo, como queiram) só não sai se forças nem um pouco ocultas agirem e a base aliada da prefeita Teresa Surita (MDB) enterrar o assunto, como tem feito ao longo da administração. As evidências apontadas no dossiê são irrefutáveis e chamam a Câmara de Boa Vista a cumprir com o seu papel de fiscalizar as ações do Executivo municipal, finalidade esta para a qual os vereadores são bem pagos pelo contribuinte.
Conforme o artigo publicado, as irregularidades vão de licitações com indícios de irregularidades, aditivos suspeitos, cobertura de outras empresas paulistas para direcionar licitações a ligações incestuosas com empresas. A Sanepav vem sendo contratada e recontratada durante as cinco administrações de Teresa Surita, ou seja, há quase 20 anos! São quase R$400 milhões pagos a ela, isso fora o contrato com outra empresa que pertence ao mesmo dono, a Beta Clean & Service Ltda, cuja sede fica no mesmo endereço da Sanepav, em um condomínio industrial de luxo em São Paulo.
Só essas evidências são muito mais graves do que o valor do pagamento feito pela Prefeitura para a Sanepav contratar trabalhadores de limpeza pública: R$10,5 mil por garis, os quais só recebem o salário de R$1,1 mil. O episódio dos garis, que despertou a necessidade de uma CPI, é apenas um dos fatos a ser esclarecido dentro do grande escândalo que se tornou o contrato milionário da empresa de uma forma global.
As informações estão aí, bem detalhadas para quem quiser investigar. Inclusive o Ministério Público já tem conhecimento do dossiê há tempos. E, agora, os vereadores vão terminar seu mandato sem esclarecer sobre a montanha de dinheiro público pago a uma única empresa, enquanto a população sofre com a falta de creches, postos de saúdes precários, Hospital da Criança sem estrutura e bairros periféricos na lama? As eleições estão chegando e o povo vai cobrar.
*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br