É errado pensar que as pessoas, com a chegada da tecnologia e menos papel, querem ler menos. Não procede. As pessoas querem ler bons textos, que mexam com seus sentimentos, que despertem sua curiosidade e, mesmo as contrariando, as façam criar novos pensamentos e mais argumentos.

O texto perfeito para quem busca mais no meio de conteúdos tóxicos na internet é aquele que o leitor põe o olho e diz: “Era isso o que eu sempre quis escrever”. Mas o que temos visto na internet são textos cada vez mais precários em ortografia, embora existam muitos com uma sagacidade impressionante a ponto de fazer o leitor perdoar o assassinato da gramática – para desespero dos puritanos que se contorcem até com as abreviações da forma fonética de os jovens se expressarem.

Mas o bom conteúdo sempre prevalece, fato que sempre valeu para o jornalismo de uma forma geral. Criar caput e lead bem simples e diretos para capturar os apressados, os ocupados e os de baixa escolaridade funciona. Mas um bom texto pode tranquilamente atropelar essa regra universalmente sagrada para o jornalismo.

Nesse novo mundo em que todos opinam e se informam em várias fontes que não a imprensa tradicional, inclusive sujeitos a fake news, o texto opinativo vem se tornando importante para que as pessoas confirmem, discordem ou reformulem sua opinião sobre a enxurrada de informações que chegam a cada momento na palma de sua mão.

Por isso, um texto longo, porém bem escrito, que tire o fôlego do leitor, tem seu grande mérito nessa balbúrdia da grande rede. Só para recomendar a quem acredita nos textões, sugiro ler o jornal El País Brasil, que tem feito a diferença no jornalismo brasileiro em que a imprensa tradicional vem levando bordoadas de todos os lados, a ponto de muitos nem saberem de onde vem o esculacho.

Escrever ruim e pouco já era uma realidade de há muito tempo, não só na comunicação. Não à toa a redação no vestibular é o grande divisor. A internet só expôs a fratura e deu espaço para os indolentes, mal intencionados, desqualificados e iletrados exporem seus lixos que antes não tinham espaço em lugar nenhum, a não ser em seus diários de gaveta. E o que já era mediano na imprensa foi ficando, mas este agora está sendo atropelado porque descobriu-se que o leitor é quem decide o que quer ler.

O público passou a decidir em todas as mídias. Veja a TV Globo, que foi obrigada a colocar o bobão do Faustão mais cedo, no meio da tarde, porque o telespectador quer aproveitar mais seu domingo com amigos e família, deixando o futebol na TV para mais tarde, à noite. A velha mídia está esperneando, mas vai ter que ceder. É obrigada a ceder.

A revolução está acontecendo em todas as plataformas. É o público quem está mandando. Ele quer bom texto, não quer mesmice daquilo que ele já leu nos grupos de Whats e nas redes sociais. Ele quer pensar, formar sua opinião a partir de quem respeita sua inteligência e mexa com seu coração. Sim, coração e mente sempre vão dar as ordens.

Quem não estiver atento a isso vai ruir. E a realidade irá mais fundo, remexendo a água turva, quando essa nova geração chegar, pois ninguém está dando atenção ao que ela está pensando e exteriorizando. Nem os pais sabem o que os adolescentes estão fazendo na internet. Vêm mais sustos por aí. Anota isso.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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