Garis de Boa Vista recebem um salário muito abaixo do que Prefeitura repassa a terceirizada (Foto: Folha de Boa Vista)

Agora faz todo sentido a ação uníssona dos veículos de comunicação ligados à Prefeitura de Boa Vista que, inesperadamente, passaram a dar visibilidade aos garis da cidade, mesmo eles sendo funcionários de uma empresa terceirizada. Os garis sempre estiveram lá, realizando seu importante trabalho, assim como as demais profissões, mas ganharam uma imensa campanha positiva durante toda a semana passada.

Essa grande campanha midiática tentava se antecipar à denúncia que viria a surgir, no fim de semana, feita pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação, Limpeza Urbana e Áreas Verdes (Conascon) e divulgada com exclusividade pelo Roraima 1. Conforme a matéria, a Prefeitura de Boa Vista repassa à empresa terceirizada Sanepav, responsável pela limpeza urbana na Capital, um valor mensal muito superior ao que é realmente é pago aos funcionários. É um valor dez vez maior, para ser mais preciso.

Em um país sério, essa denúncia resultaria em uma rápida tomada de decisão para ser investigada de forma contundente. Mas, como a nação foi tomada pelo espírito da Operação Lava Jato, que mudou os rumos políticos brasileiros, é de se esperar que os órgãos fiscalizadores e o próprio Executivo municipal façam a sua parte. Afinal, a denúncia aponta um contrato mensal de R$ 6,3 milhões para a Sanepav pagar 600 funcionários.

Conforme os cálculos da Conascon, os garis enaltecidos nas propagandas deveriam receber R$ 10,5 mil de salário, mas recebem R$ 1,1 mil apenas, um pouco mais do salário mínimo para uma profissão que trabalha duro. A revelação desses números está em um ofício enviado pela entidade sindical à Prefeitura de Boa Vista no dia 5 julho, quando decidiu questionar a política de reajuste salarial aplicada aos trabalhadores das empresas Sanepav e Beta Clean Serviços. Essas empresas recebem repasses milionários, algo que vem acontecendo desde os primeiros anos da administração da prefeita Teresa Surita (MDB). Somente a Sanepav recebe o generoso repasse de R$ 76,3 milhões por ano!

O questionamento de repasses milionários a empresas terceirizadas sempre foi feito, mas os casos são abafados para logo serem esquecidos. Espera-se que, desta vez, já que os garis ficaram famosos nas redes sociais Brasil afora, que esses números sejam fiscalizados e esclarecidos. Não só com relação aos garis, mas também a outras atividades, como jardinagem, trabalha que prossegue até mesmo no inverno, quando chove quase diariamente, mas os carros-pipas seguem molhando os canteiros da cidade.

Para dar mais enredo a esta denúncia, a prefeita Teresa acaba de anunciar concurso público com vagas para professores. A média salarial é um pouco de R$3 mil, mas para pedagogo e outras categorias o valor é de R$1,8 mil. Ou seja, se está sobrando dinheiro para pagar R$10,5 mil para garis, por outro lado está faltando dinheiro para pagar bem os professores, em especial aqueles discriminados no edital do concurso, mais um absurdo a ser explicado pela prefeita.

É necessário que este assunto ganhe relevância por meio das discussões na Câmara de Vereadores e das ações dos órgãos fiscalizadores. Não se pode admitir as discrepâncias de valores apontadas no ofício da entidade que representa os garis e também no edital do concurso lançado pela prefeita. Os fatos estão aí. Agora não se pode mais dizer que não existem fortes evidências. Torna-se questão de prioridade esclarecer esses números.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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