Quem teve que amanhecer nesta segunda-feira na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Cidade Satélite, na zona Oeste de Boa Vista, mais uma vez sentiu o peso do descaso da Prefeitura de Boa Vista com este setor essencial para a população. Há muito tempo que a situação por lá já anda “uma bagunça”, “de cabeça pra baixo”, como confidenciou uma servidora em desabafo para tentar aplacar a raiva das pessoas que estavam na fila e aliviar a situação para o seu lado.
Naquele posto de saúde, a UBS Aygara Motta Pereira, que fica no bairro onde mora a prefeita Teresa Surita (MDB), só tem um médico atendendo à população, mas este único médico está de licença médica (isso mesmo, sem intenção de rimar nada). E quem precisa de atendimento está sendo orientado a buscar o Hospital Santo Antônio, para o caso de crianças (sufocando ainda mais aquela unidade, que é para urgência e emergência), ou a UBS mais próxima, no caso o posto de saúde do bairro Caranã.
No Caranã, os servidores do posto fazem cara feia para quem mora em outro bairro. Quem não mora na área daquele bairro tem que chegar às 15h para que seja atendido somente à noite, geralmente saindo depois das 22h – e há casos de gente que fica até meia-noite porque não há outra saída. Então, é óbvio que os mais doentes correm para o Pronto Atendimento do Hospital Geral de Roraima (HGR).
A alternativa dada aos moradores do Cidade Satélite que já tem consultas agendadas é o atendimento por uma enfermeira – que neste caso nada pode fazer senão acalmar o doente (talvez com um copo d’agua) ou, no máximo, aplicar uma injeção e medir a pressão; ou será que ela está fazendo algum procedimento?! Os demais pacientes foram orientados a voltarem somente em dois meses, que é o prazo para o retorno do médico. Ao saber da informação, uma senhora que já retornava pela segunda vez ficou com a voz embargada, porque não tem outra saída.
Trocando em miúdos, o bairro mais populoso da Capital, onde mora a prefeita, não tem um posto de saúde que atenda a demanda para sequer realizar uma consulta médica. Só para lembrar, a Prefeitura estendeu o atendimento deste posto para a noite em 2016. Quem estava hoje na fila do desespero, descobriu que a situação é periclitante em outros setores, a exemplo da odontologia, cujo atendimento feito pela dentista é na base do suplício: são distribuídas apenas 10 fichas a cada quatro meses (isso mesmo: dez fichas), que é o tempo mais curto para essas dez pessoas terminarem seu tratamento.
Mas uma senhora que estava hoje, na UBS, disse que seu atendimento com a dentista já perdura por sete meses, pois os servidores dizem que, quando chove, há infiltrações no gabinete odontológico, o que impediria ligar os equipamentos por risco de a dentista e sua auxiliar levarem choque. Porém, na ficha dessa senhora consta que, nos dias em que o atendimento é suspenso, é anotado como se tivesse sido um atendimento normal. Um absurdo atrás do outro.
Essa é a realidade da saúde pública do governo Teresa Surita, que administra a cidade pela rede social Twitter, onde tudo funciona perfeitamente, como nos institucionais que passam na TV e divulgados na internet. Como é precário o atendimento em boa parte dos postos de saúde, não é à toa que o serviço de emergência e urgência do HGR fica superlotado todos os dias do ano, pois a pessoa doente não tem a quem recorrer, a exemplo de quem mora no Cidade Satélite neste exato momento.
Se no local onde a prefeita mora a situação é essa, que deveria ser o “cartão de visita” dela, imagine nos demais bairros populosos. Só lembrando que o Cidade Satélite abriga os maiores conjuntos habitacionais da cidade e recebe alta carga da imigração venezuelana. Enquanto isso, quando fala de suas pretensões políticas futuras, a prefeita acha que administrar um Estado é só pegar o Parque Anauá para encher de luzes e flores, como se Roraima se resumisse ao Centro de Boa Vista e não houvessem coisas essenciais a resolver.
*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br