Foto: Igorh Martins/Divulgação

A prefeita Teresa Surita (MDB) decidiu usar suas mídias para se passar como vítima das críticas sobre a “indústria das multas” e tentar fazer a opinião pública crer que as pessoas que a criticam seriam contra os “pardais”, como são chamados os radares eletrônicos. Ninguém dentro de suas faculdades mentais em ordem seria contra medidas destinadas a evitar acidentes com feridos e mortos no trânsito.

O que o contribuinte boa-vistense almeja é que não haja uma política do “arrocha nas multas”, sem a existência de uma política de conscientização e educação para um trânsito melhor, que ande de mãos dadas com um projeto de mobilidade urbana, o qual possibilite ajudar a desafogar o pesado trânsito e que incentive as pessoas a usarem o transporte público.

Mas a prefeita Teresa Surita usou quase R$60 milhões em um projeto de mobilidade urbana sem a existência de um plano de mobilidade e sem um Plano Diretor. Isso mesmo: fez obras de mobilidade urbana sem um plano de mobilidade urbana. Não se trata de uma simples redundância! Como Boa Vista não tem um Plano Diretor, significa que as obras foram feitas de acordo com a cabeça da prefeita e a sanha das empreiteiras cujos contratos são uma caixa-preta, já que não existe transparência.

Sem planos que privilegiasse o transporte coletivo, os ônibus foram sufocados pelo táxi-lotação, que por sua vez estão prestes a serem engolidos pelo moto-táxi. Na inexistência de uma política de transporte coletivo, o povo se vira com suas bicicletas caindo aos pedaços ou compra motos e carros financiados com prestações a perder de vista. E o trânsito se tornou essa confusão generalizada a ponto de se tornar uma guerrilha, em que a chegada dos venezuelanos sem a mínima noção de trânsito só ajudou a complicar ainda mais a situação que já era caótica.

Com o projeto de mobilidade que só ajudou o bolso das empreiteiras, o transporte público tornou-se essa mistura de confusão no trânsito e desespero de quem depende de ônibus, um serviço tão precário que empurra as pessoas a buscarem outra alternativa para se locomoverem. As paradas de ônibus com ar-condicionado, construídas com o dinheiro da mobilidade e que demoram uma eternidade, acabam servindo de abrigo para venezuelanos em situação de rua. Tem até parada de ônibus onde não passa ônibus, no elitizado bairro Caçari.

Como as pessoas são forçadas a se virar – com suas bicicletas, carros e motos – e o transporte público tornou-se um canibalismo entre ônibus, lotação e moto-táxi clandestino, o trânsito nas largas ruas de Boa Vista acabou no caos, um bom ambiente em que a “indústria das multas” prospera sob o óbvio argumento de que os imprudentes precisam ser punidos. E dá-lhe multa, porque é impossível não pegar multa numa cidade onde as avenidas têm limite de velocidade diferenciado (40Km, 50Km e 60Km/h).

Mas esse caos poderia ter sido evitado se realmente os R$60 milhões tivessem sido aplicados em mobilidade urbana de verdade, com transporte público de massa subsidiado (assim como ocorre em países desenvolvidos), viadutos (cadê o “mergulhão” no semáforo do Ibama, prometido pela prefeita na campanha eleitoral?), campanhas educativas, pardais bem visíveis e sinalizados, além de outros investimentos em um Plano Diretor que planeje o crescimento da cidade.

Agora a prefeita tenta eximir-se de suas responsabilidades e acusa quem critica a “indústria das multas” implantada na Capital. Ainda dá tempo de consertar tudo isso, mas haverá um custo muito maior para o contribuinte, pois o Município ainda terá que começar a pagar o empréstimo desses quase R$60 milhões concedidos pela Caixa Econômica Federal. Porém, esse ônus ficará para o próximo prefeito ou prefeita, porque Teresa agora tem outras ambições políticas, de preferência sem que haja críticas e contestações, algo que ela abomina mais que ações judiciais.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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