Foto: Roraima 1

Assim como não há uma política de governo para enfrentar e prevenir as consequências da seca, durante o forte verão roraimense, o mesmo ocorre quando se trata do inverno, quando as chuvas castigam severamente as populações mais pobres, especialmente aquelas que vivem nas cidades do interior do Estado. Pior situação ficam os produtores rurais, submetidos às mais duras provações da falta de estrutura nas estradas e vicinais.

Na Capital, com tantos recursos que já chegaram enviados pelo Governo Federal ao longo dos anos, não era mais para existir o transtorno que passamos a cada período de chuva. Embora a situação já tenha melhorado bastante, os problemas continuam, submetendo o contribuinte a situações difíceis a cada chuva, seja a intensidade que for. Não custa lembrar que Boa Vista foi planejada na década de 1940, mas as obras não acompanharam o crescimento da cidade.

Um dos grandes problemas para alagamentos nas ruas e avenidas de grande fluxo são as obras de drenagem com tubulações subdimensionadas, realizadas na base da corrupção, a fim de “economizar” dinheiro para as porcentagens cobradas nos esquemas, como tornou-se praxe na política (a Operação Lava Jato está aí para confirmar esse tipo de sem-vergonhice).

Existem obras de drenagem e de microdrenagem que precisam ser refeitas duas ou três vezes porque foram realizadas meia-boca, para sobrar grana para a corrupção. O resultado disso é que, ao refazer a obra, mais recursos públicos são destinados não só para aquele trabalho, mas para a “caixinha” do desvio, por meio dos aditivos que lotam as páginas do Diário Oficial.

É verdade que também existe a incompetência, a exemplo do que ocorre na Avenida Antares, no bairro Cidade Satélite, que é prolongamento da Avenida Parimé Brasil, no bairro Jardim Carnã. A avenida recebeu recentemente pavimentação, calçamento, iluminação e jardinagem, além de abrir mais uma rota para desafogar o trânsito. Mas a incompetência impediu que se evitasse alagamento na pista de rolamento, acumulando água em frente das residências.

Naquela via, um dos pontos críticos de alagamento fica na frente de uma pequena padaria, que há dois anos vê-se ilhada pela lama, causando sérios prejuízos financeiros aos proprietários e transtornos aos contribuintes (veja a foto acima que ilustra este artigo). A cada inverno, naquele ponto, é necessário fazer ao menos duas ações de tapa-buraco, pois a água acumulada acaba abrindo enormes crateras devido ao tráfego intenso.

Quem passa diariamente naquela avenida fica imaginando a dor de cabeça que enfrentam os donos daquela padaria, quando as chuvas caem. E tudo isso poderia ter sido evitado se houvesse zelo com o bem público, na hora de planejar obras. Agora será necessário quebrar o asfalto e o calçamento para no mínimo fazer uma microdrenagem. Mas quem disse que a Prefeitura está preocupada com isso?

Nos bairros mais afastados o cenário do sofrimento continua: falta de esgoto, de asfaltamento e de outras estruturas básicas para evitar o sofrimento da população. Há locais que ficam completamente isolados, a exemplo de ruas no bairro Senador Hélio Campos, onde apenas as principais são asfaltadas. Sem contar com obras subdimensionadas, inacabadas e mal elaboradas em vários outros locais, do Centro aos bairros, em especial os da zona Oeste, onde moram as pessoas mais pobres.

Assim como a seca acaba servindo de atestado de incompetência para os administradores públicos, o inverno revela as mazelas de nossa cidade, as quais ficam ocultas durante o verão, quando tudo parece perfeito. As chuvas ainda vão se intensificar, durante os próximos meses, quando os antigos problemas virão à tona. Mas a amnésia seletiva geralmente costuma acometer os cidadãos, fazendo-o esquecer dos sofrimentos que a cada ano ressurgem no inverno e verão.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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