As famílias brasileiras trocaram os supermercados pelos estabelecimentos que vendem no atacado e varejo, apelidados de “atacarejo”. Uma pesquisa realizada pela Nielsen apontou que 60% dos consumidores frequentaram lojas deste tipo em 2018, enquanto que 58% fizeram compras em supermercados. Foi a primeira vez que o levantamento apresentou esse formato, pois, até então, os supermercados eram o segmento mais citados pelos entrevistados.
Para se ter uma ideia, uma pesquisa do Instituto Data Popular mostrou que, em 2010, apenas 12% dos entrevistados faziam compras coletivas no atacado. Em 2015, o percentual subiu para 32%. A partir da recessão econômica, quando as famílias precisaram encontrar meios de otimizar os gastos, os atacarejos enxergaram nas pessoas físicas um novo público alvo e abriram a possibilidade de compras por unidades.
A microempreendedora Mariana Alves, de 39 anos, foi uma dessas consumidoras. “Alguém comentou comigo que era mais vantajoso comprar no atacado. Eu vim e fiz o teste. Não sei dizer exatamente quando eu economizo. Para mim, a maior vantagem é a possibilidade de comprar em grandes quantidades, porque eu faço feira para dois meses e para duas famílias, a minha e a da minha mãe”, contou.
Para o diretor de um desses estabelecimentos, Claudemir Carmo, a política dos dois preços é um dos principais diferenciais do segmento. “Essa possibilidade atende às necessidades dos diferentes perfis de clientes que frequentam as lojas da rede. Com a dinâmica, o cliente não precisa adquirir grandes quantidades de um determinado produto para aproveitar preços mais competitivos”, comentou. Atualmente, sete em cada dez consumidores do Assaí são pessoas físicas, que já representam 50% da receita da rede.
Segundo a Nielsen, 60% dos lares brasileiros (31,6 milhões de famílias) compraram mensalmente nos atacarejos em 2018, um aumento de 9% em relação ao ano anterior. O resultado representou um crescimento de 12,3% nas vendas do segmento, enquanto que os supermercados médios tiveram alta de 3% no mesmo período.
O educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, lembrou que as famílias foram obrigadas a reformular os hábitos de consumo por conta da recessão econômica, buscando marcas alternativas e melhores preços. “Embora o País não esteja mais em crise, na prática, a vida das famílias continua muito difícil. E como os atacarejos oferecem preços atrativos, eles continuaram na rota de preferência das pessoas físicas”, comentou. O conferente Adriano Ramos, de 43 anos, que faz compras em atacarejos há cinco anos, afirmou que economiza até 12% comprando no atacado. “O maior diferencial de preço está nos produtos de limpeza”, revelou.
Mais dados
60% dos consumidores passaram a comprar em atacarejos por conta do cenário econômico mais desafiador. Destes, 98% disseram manter a preferência e confirmam que irão continuar fazendo suas compras nas lojas do segmento mesmo após a melhora da economia.