
A organização Médicos Sem Fronteiras encerrou em dezembro as atividades que mantinha em Roraima desde maio de 2023 na Terra Indígena Yanomami e na Casa de Apoio à Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana em Boa Vista.
O projeto teve foco no combate à malária, no fortalecimento da rede local de atendimento e na atenção à saúde mental, com ações adaptadas à realidade cultural dos povos Sanöma, Ye’kwana e Yanomami.
Na região de Auaris, onde fica o polo base com maior concentração populacional da Terra Indígena Yanomami, a organização reformou e ampliou unidades de saúde. As estruturas passaram a usar redes em vez de camas e sinalização em Sänoma, Ye’kwana e português, com o objetivo de aproximar o atendimento das práticas tradicionais.
Lideranças locais relatam que pajés e profissionais de saúde passaram a atuar de forma integrada, com rituais de cura sendo combinados ao atendimento no posto.
Segundo a organização, o cenário atual é diferente do quadro observado no início da emergência sanitária declarada pelo governo federal em 2023, quando eram frequentes casos graves de desnutrição, malária avançada, desidratação e acidentes com animais peçonhentos.
Com a intensificação da prevenção e da promoção de saúde nas comunidades, médicos relatam queda expressiva no número de pacientes em estado grave atendidos no polo de Auaris.
Dados do Ministério da Saúde citados por MSF indicam redução de 20,7 por cento nos casos detectados de malária no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024, de 17.952 para 14.233 registros.
O relatório aponta manutenção de transmissão elevada na Terra Indígena Yanomami, mas com melhora nos diagnósticos e queda nas formas graves e nas mortes. Entre janeiro e junho, os óbitos passaram de dez em 2023 para nove em 2024 e caíram para três em 2025.
Em Boa Vista, MSF também apoiou a Casa de Apoio à Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana, que recebe pacientes encaminhados do território. As equipes atuaram em consultas médicas, saúde mental, promoção de saúde e melhorias de saneamento, com ações educativas sobre manejo de lixo, nutrição e prevenção da malária nas malocas ocupadas por diferentes etnias. A proposta foi reforçar a capacidade do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Ye’kwana na oferta de cuidados na capital.
A saúde mental foi outro eixo de preocupação, em especial entre jovens afetados por rupturas nas tradições e mudanças no modo de vida. Em quase três anos, o trabalho incluiu atividades de psicoeducação, mobilização comunitária, primeiros cuidados psicológicos, ações psicossociais e grupos de apoio, que alcançaram 5.582 participantes. Foram realizadas 523 consultas individuais em saúde mental, com predominância de mulheres e adultos jovens, além de capacitações voltadas a trabalhadores do distrito de saúde indígena.
No encerramento do projeto, MSF concentrou esforços em uma transição considerada responsável e sustentável. A organização promoveu treinamentos para profissionais de saúde e membros das comunidades com o objetivo de repassar rotinas médicas e operacionais às equipes locais. A entidade afirma que pretende compartilhar as lições aprendidas em Roraima em futuras ações com povos indígenas no Brasil, mantendo o enfoque em abordagens culturalmente sensíveis e integradas às práticas tradicionais de cura.







