Mecias de Jesus e Jorge Messias. Fotos: divulgação.

A declaração do senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), garantindo que irá trabalhar para eleger o Procurador-Geral da República (PGR), Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal, é uma obra-prima da política brasileira em sua versão mais desavergonhadamente conveniente. Não causa espanto que um senador tente construir pontes em Brasília; o que chama atenção é a velocidade com que ele passa por cima das próprias convicções no momento em que surge a chance de se aproximar de um futuro ministro do STF.

De um lado está o presidente Lula, seu desafeto histórico, que formalizou a indicação de Jorge Messias sem surpresas, nesta quinta-feira (20). Do outro, Mecias, que até ontem fazia questão de se posicionar como antítese do petismo, agora se apresenta como soldado voluntário para garantir a ascensão de um nome escolhido exatamente por aquele que ele combate. E esse trabalho já começou. Mecias de Jesus já parabenizou o Bessias pela formalização da indicação e já garantiu que vai andar de “gabinete em gabinete” no Senado Federal, antes da sabatina que oficializará o novo ministro do Supremo Tribunal Federal.

A pergunta é inevitável: o que explica tamanha disposição súbita para ajudar o adversário? Certamente não é conversão ideológica. Também não é uma guinada democrática em nome da institucionalidade. O que há aqui é o mesmo fenômeno que move boa parte da política nacional, a velha gravidade do poder, que puxa para perto aqueles que sabem que, amanhã, podem precisar exatamente da pessoa que hoje ajuda a colocar no topo. Mecias não está trabalhando por Lula; está trabalhando por si mesmo. Sabe que ministros do Supremo não se esquecem dos padrinhos parlamentares. E sabe também que, no jogo de Brasília, um gesto de apoio vale mais que anos de discurso inflamado.

A ironia é que Jorge Messias, durante anos apelidado de “Bessias” pela Dilma Rousseff (PT) e transformado em símbolo das turbulências políticas do passado, volta à cena carregando consigo o apoio de alguém que representou justamente o campo oposto. Mecias não só aceita a indicação do presidente que combate; ele se adianta, sorri e diz que vai trabalhar para garantir que o indicado chegue lá com folga. É o tipo de movimento que evidencia o instinto de sobrevivência política em sua forma mais pura. Quando um futuro ministro se torna mais útil do que um adversário ideológico, abandonam-se as diferenças, fazem-se as pazes silenciosas e muda-se o discurso com a naturalidade de quem troca de terno.

O senador usa a palavra trabalhar como se o eleitor não soubesse o peso real desse verbo na política. Trabalhar significa articular, buscar votos, proteger interesses, negociar apoios e colher créditos. Significa se colocar na fila para futuros favores. É uma ação que nunca nasce da lealdade, mas de cálculo. E cálculo é algo que Mecias demonstra dominar com desenvoltura. Se o preço para agradar o futuro ministro do Supremo é engolir por alguns dias sua oposição ao presidente, ele o faz sem hesitar. No fim das contas, o custo é pequeno diante do potencial retorno.

Há quem veja nisso pragmatismo. Mas é mais que isso. É a confirmação de que, em Brasília, adversários não são obstáculos; são apenas degraus temporários. O senador pode continuar criticando Lula em discursos, entrevistas e redes sociais, mas quando o Planalto aponta alguém para o STF, ele pula na frente para dizer que está à disposição. Se há coerência aqui, ela não é política, é utilitária.

Mecias sabe exatamente o que está fazendo. E é por isso que sua declaração merece ser lida não como gesto de grandeza, mas como a estreia pública de um novo movimento estratégico. Ele não começou a trabalhar pelo Messias de Lula. Começou a trabalhar para o Bessias que ele próprio precisa ter no futuro.

E nisso, convenhamos, ele foi mais transparente do que gostaria.

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