Em vias de ter sua cassação confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o governador Antonio Denarium (PP) tem buscado apoio dentro de todas as esferas de Poder no estado de Roraima. De servidores recomendados às redes sociais para defendê-lo à deputados e senadores pedindo clemência em seus púlpitos. Sendo o afastamento uma realidade palpável, é importante que façamos este balanço: Se Denarium deixar o governo hoje, qual será o seu legado como gestor? Vamos aos fatos.
Pegou um estado endividado e vai devolvê-lo endividado também. Não é porque não atrasou salários que as contas estão em ordem. O líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Coronel Chagas (PRTB), usou a tribuna esta semana para defender a permanência do governador, usando como primeiro exemplo o fato de sua antecessora, Suely Campos, ter sido pior. Já começa errando. Não se defende um governo alegando que “tem piores”. É o tipo de argumento usado pelos mesmos que acreditam que o político é bom por que “rouba mas faz”.
Além de dívidas ativas com a União, o governo Denarium ainda tentou, neste último ano, contrair um empréstimo quase bilionário para ser pago pelos próximos dez anos. O legado dele seria essa dívida para os próximos três governos. Tentou pegar esse dinheiro de tudo quanto foi jeito – dando, inclusive, como garantia, a palavra do governo federal, que logo se esquivou junto à Justiça. “Eu mesmo não”, confirmou o governo federal. O empréstimo está suspenso desde então.
A Justiça determinou que o Denarium refizesse a justificativa, detalhando, item por item, como esse dinheiro seria aplicado. De maneira amadora, o governo enviou a conta superficial, “x para a saúde, y para a reforma de escolas…”, como se bastasse isso para que o montante de R$ 805 milhões fosse liberado. Sem conseguir justificar a aplicação dos recursos de maneira realista, até então, fica barrado.
Legado de polêmicas
De seu negacionismo na pandemia à falta de cuidados com a economia naquela época, a unilateralização de investimentos para o agronegócio, a ausência de concursos públicos, a indicação da esposa para Conselheira do TCE-RR, a nomeação de cunhadas para o primeiro escalão, a indicação de parentes de aliados para as secretarias, o fatiamento de cargos entre deputados aliados, não faltam polêmicas no histórico do governador.
O maior fazendeiro de Roraima, eleito governador, que liberou licenças para queimar em época de estiagem, que defendeu o aculturamento de indígenas, que apresentou e/ou concordou com pautas antiambientais, chegando inclusive a sancionar uma lei – depois considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – para proibir a destruição de maquinário de garimpo ilegal, e outra que autorizava o uso de mercúrio na naturesza. Este é o legado que Antonio Denarium deixará vivo na memória de nosso povo.
O legado de operações da Polícia Federal envolvendo secretários de Saúde, com compra superfaturada de respiradores na pandemia e incontáveis processos licitatórios mal explicados, também, integram o legado dessa gestão.
Por fim, neste último ano, vieram também os escândalos policiais envolvendo o nome do governador e de pessoas próximas a ele. Um sobrinho preso por tráfico de drogas em uma de suas fazendas; uma irmã investigada por estelionato; um chefe de segurança acusado de planejar e executar a morte de um casal de empresários do agronegócio por disputas de terras.
É este o legado que tem sido escrito.
E as obras?
A feira do passarão foi entregue só de boca, permanece fechada. Foi só para fazer a foto e deixar a placa com o nome dele. Prédio da Secretaria de Educação, nada. Maternidade? Desacreditada, de tantos atrasos, só renovando o aluguel milionário da lona. Tudo anunciado e nada entregue. Parque Anauá às moscas. Totozão só lixo e entulho, a cara da dengue. Teatro Carlos Gomes, ficou na memória. HGR, ficou só no primeiro bloco – entregue quase pronto por Suely, e que já descasca. Prédio do IML? Hospital de Rorainópolis? Pontes de concreto como foram anunciadas aos montes? Pavimentação do acesso ao Tepequém, nosso principal destino turístico? Calçamento de vicinais? Só se foi no trajeto entre fazendas aliadas.
A gestão nunca levou a sério temas relevantes e com alto poder de transformação social, como a educação. Ao invés de se preocupar com incentivos, equipamentos, concursos, qualificação profissional dos professores, construção e reforma de unidades, preferiu fingir que tudo estava “cada dia melhor”. Denarium resumiu todos esses anos de hiato na educação a pagar gratificações-extras aos servidores. Fez apenas a primeira etapa: melhorou levemente o bolso do professor, que é quem tem peso na fala perante à sociedade, merecidamente, frizo, e só. Esqueceu que para se conseguir resultados expressivos no avanço de políticas educacionais , não é só com rateio de Fundeb que se trabalha. O nome disso é mordaça. É para calar os profissionais da educação com doses homeopáticas de reajustes e precatórios.
Com uma cunhada secretária ao longo do mandato, a pasta foi uma das mais sucateadas. Escolas em ruínas, professores sem equipamentos básicos de aula. Em muitas, faltou infraestrutura mínima: esgotamento correto, reformas prediais, manutenção… uma gestão que crê na militarização o fim dos problemas da educação. Educando na base do “cumpra-se”. Obediência ou repreensão. E se pagar em dia, pronto, tá tudo certo. Tá cada dia melhor.
Pagar é obrigação. Seja gratificação, rateio de Fundeb, salário ou hora-extra. Se o servidor tiver direito, o governo é obrigado a pagar mesmo e fim. Não fez favor nenhum. E o resto? Quê mais que esse senhor fez pela educação na rede estadual de ensino? Qual projeto a gente pode destacar aqui que elevou os índices em Roraima? Me cite um. Qual material novo foi adotado pela rede? Quais tecnologias estão disponíveis nas escolas? O que tem sido feito para preservar a saúde mental dos profissionais da educação? A secretaria tem absoluta ciência da quantidade de professores afastados por problemas de saúde, mas o que tem feito para amenizar isso? Nada. Não mexe uma pá. E acha que faz bem feito.
O homem que salvou Roraima
Dizer que ele é o homem que salvou Roraima e que por isso merece continuar quebrando o estado e sem conseguir finalizar uma única política pública concreta – em todas as esferas, com destreza – não merece, em hipótese alguma, ser lembrado na história como um gestor que fez bem ao nosso estado. Não fez. Passou longe de fazer. Fez bem, e muito bem, a si e aos seus, e com a cara lavada suficiente para alocar parentes e aderentes seus e de seus “sócios” (sejam eles políticos ou politiqueiros).
Roraima tem totais condições de ser muito mais que soja e frigo10. Se a gestão de Denarium foi boa para a turma deles, daqui, da outra ponta, enquanto trabalhador, lhe garanto: não foi. Se você não planta soja e não é um dos dez do frigo10, olhe aí ao seu redor, que você irá enxergar que a vida de ninguém mais melhorou.
Esse é o legado que Denarium vai deixar para Roraima. O resto é propaganda.