O presidente da comissão especial designada para a análise dos currículos dos candidatos a uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RR), deputado Soldado Sampaio (Republicanos), tem feito o possível e o impossível para adiar a escolha do novo integrante da Corte de Contas por uma única e simples razão: apesar do parecer contrário do Ministério Público à candidatura da primeira-dama, Simone Denarium, o governador tenta encontrar meios legais para mantê-la na disputa. Isso, como é nítido, com o aval e irrestrito apoio do deputado que é o presidente do Poder Legislativo.
Contrariando o pedido pessoal feito pelo senador Mecias de Jesus (Republicanos) para que desse prosseguimento sem os candidatos Régys Freitas e Simone Denarium, Sampaio enviou um comunicado público à imprensa onde diz que a sabatina com os pretensos candidatos será realizada “em nova data a ser definida”, já que não se sabe por quais caminhos legais a equipe jurídica da família do governador deve seguir. É certo que a defesa tem se desdobrado para encontrar os artifícios legais de recolocar Simone na disputa.
Do outro lado, aguardando as cartadas de Sampaio, está o deputado Jorge Everton (União), com sangue nos olhos, e cobrando de seus apoiadores união entre os deputados e pressão sobre o presidente da Assembleia. Mecias de Jesus já mandou um recado direto ao deputado Sampaio, caso este trate o assunto como não-prioritário: se Jorge Everton não for o escolhido, Sampaio pode dar adeus à disputa pela prefeitura de Boa Vista pelo Republicanos no ano que vem. Completamente fechado com o governador Denarium, o presidente da Assembleia não obedecerá ao senador de seu partido.
Com Simone e Régys fora da disputa, é certo que Jorge Everton será o nome aprovado pela Assembleia. Ainda que o governador esteja contando com votos que já lhe foram prometidos em troca de cargos e de outras benesses, os parlamentares temem a retaliação popular após a aprovação de Simone. Até lá, tanto o governador do Estado quanto o presidente do Poder Legislativo tentarão, a todo custo, emplacar o nome da primeira-dama, ainda que para isso, forçem as brechas necessárias para retomar a disputa. No direito, nada é impossível.
A queda de braço entre Denarium e Mecias tem se tornado insustentável nos bastidores do Palácio do Governo. O próximo passo, segundo interlocutores, é a retirada de Mecias de Jesus dos espaços de poder que o senador ocupa atualmente dentro da estrutura governamental. A Caerr, inclusive, maior reduto de indicações do senador, já teria nova destinação (incluindo um novo diretor-presidente) até julho.
Sem a força estatal, Mecias terá seu poderio reduzido aos montes. Contaria com o apoio de seu partido – que ocupa poucas cadeiras no parlamento estadual – se tornaria de oposição ferrenha ao governador, e viria a chance de se tornar governador com o apoio da máquina estatal se esvair pelo ralo.
Se Simone voltar ao páreo, Sampaio sinaliza sua saída do Republicanos , migrando para o partido Progressistas (PP), a convite do próprio Denarium e também do senador dr. Hiran, que não estaria disposto a romper com o governador em nome de Mecias. E este posicionamento do doutor senador também despertou a ira de seu colega de parlamento. Hiran já tem sido visto por Mecias como um inimigo oportunista, que só está do lado de quem tem mais a oferecer.
Mecias vai sendo isolado
Pelo andar da carruagem, Mecias de Jesus terminará ladeado apenas por seus fieis escudeiros: Gabriel Mota, Albuquerque e Stélio Denner, na Câmara Federal, e Gabriel Picanço, Marcos Jorge e Tayla Peres no legislativo estadual. Com este saldo, a nova oposição não conseguiria travar nem votação para aprovar medalha.
Mecias se vê encurralado, perdendo espaços, e, antevendo o tamanho do problema, já começa a buscar formas legais para derrubar Hiran Gonçalves, a fim de que o suplente, J.R. Rodrigues, assessor especial de Mecias há mais de 20 anos, assuma a cadeira de dr. Hiran no Senado Federal.
Agarrado a oportunidade de que Denarium sairá com a imagem extremamente arranhada pela tentativa de enfiar Simone goela abaixo no Tribunal de Contas, Mecias tenta a todo custo deixar tudo amarrado, para que seu o prejuízo não seja tão grande, e seu sonho de sentar na cadeira do governador, ainda mais tão distante.
É cobra engolindo cobra.