O governador pediu e a Assembleia aplaudiu. Como de praxe, já que a maior parte dos deputados estaduais de Roraima deve até a alma ao governador Antonio Denarium (PP), o Poder Legislativo, chefiado por um subserviente aliado, aprovou por 15 a 3, o Projeto de Lei 387/22, que autoriza o governo a tomar terrenos da prefeitura de Boa Vista. Em clara manobra de enfraquecimento ao prefeito da capital, Arthur Henrique (MDB), Denarium que sequer assumiu ainda seu segundo mandato, já põe as garras de fora e mostra a que veio. A campanha para 2024 já começou.
Após vender diversas propriedades do Estado, e doar para empresários lotes generosos no Distrito Industrial, o governo do Estado diz que precisa desapropriar terrenos do município para a construção de escolas estaduais. Dizendo ele. Porque se for para escolas, até nem por isso, o prefeito o faria de bom grado. Porém, até onde se viu, o atual governador fechou dezenas de escolas em sua gestão. Ao invés de reabri-las, ele opta por deixar a prefeitura ainda mais enfraquecida, com um patrimônio infinitamente menor que o do Estado. As áreas, que eram pensadas para a construção de unidades de saúde e praças públicas, ficarão agora à mercê do governador, para quando, E SE, as obras da educação comecem. Não se espantem se os terrenos ficarem intactos, sem nenhuma utilização, pelos próximos quatro anos.
Para começar, o governador deveria olhar para as escolas estaduais que estão aos pedaços, antes de falar em construir novas unidades. Se quiser um bom exemplo, está aí na foto. O prédio da Escola Estadual Ayrton Senna, na orla do Rio Branco, Centro Histórico da capital. Um edifício histórico, em área hipervalorizada, que atende logisticamente à comunidade estudantil de diversos bairros, tá servindo como ponto para consumo de drogas. A estrutura completamente comprometida e abandonada é de responsabilidade da Secretaria Estadual de Educação, hoje comandada por Nonato Mesquita, ex-superintendente geral da Assembleia, amigão de Soldado Sampaio (Republicanos). O prédio está lá, esperando o tempo o desabar.
Reformar a Escola Ayrton Senna parece não ser viável para o governador, porque ali é tombado pelo Patrimônio Histórico. Só pode reformar, mantendo as caraterísticas originais do prédio, assim como acontece com o Teatro Carlos Gomes e a Casa da Cultura, na Jaime Brasil. Como maus entendedores da Cultura e da Educação, os que estão à frente da atual gestão não compreendem a importância histórica e cultural da revitalização desses espaços. Se pudessem derrubar para construir outra coisa, como fizeram com o prédio da SEED na bola do Centro Cívico, ou vender, assim o fariam.
Como Educação e Cultura são levadas pelo atual gestor como temas coadjuvantes a uma sociedade, é pouco provável que alguma obra de impacto seja vista nesse sentido pelos próximos quatros anos. A prioridade agora é a evolução do agronegócio de grande porte, para os grandes empresários aliados, pelo nosso interior. A educação a gente já viu como tem sido tratada, desde 2018. Balcão de negócios. E não é nunca em prol dos estudantes.
Só falta agora desapropriar a Orla Taumanan para plantar soja.