O servidor público de Roraima tem diariamente sua capacidade cognitiva-comportamental colocada à prova, para conseguir driblar as condições de sucateamento de trabalho, além de ter de se adaptar sempre às firulas comumente anunciadas pela gestão Antonio Denarium (PP), como o troca-troca de chefias setoriais. E como reconhecimento pelos serviços prestados, valoriza aquilo que nada mais é do que sua obrigação: pagar os salários em dia.
Esse hiperdimensionamento que o governador faz a si próprio como um bom chefe, só tem um único parâmetro: Suely Campos foi muito pior. Na gestão dela o salário atrasou meses, e isso vai ficar na memória do trabalhador para sempre. Nesta comparação sofrível, ela perde. A partir daí é preciso entender que um bom gestor vai além e oferece condições reais de dignidade para se trabalhar e se viver. Foi onde a inércia tomou conta. Com muita publicidade e pouca ação, a vida real do servidor público do Estado não alavancou.
A quantidade de concursos até agora passou longe de ser a ideal e a necessária, requeridas pelas secretarias. Os reajustes salariais não atenderam satisfatoriamente a todas as categorias, e aquelas poucas que tiveram acréscimos mais vantajosos ainda não conseguiram cantar vitória diante de um cenário econômico caótico, cuja inflação não permite mais ao servidor público fazer um investimento maior, como comprar uma casa ou um carro.
Os seletivados não têm a mesma atenção do governador quanto aos demais, pois já tiveram seus rendimentos atrasados e hoje mesmo foram informados de que não terão 13° salário e nem férias, como ocorre com os outros vínculos. E de seletivo em seletivo, só os buracos vão sendo tapados na esfera pública. É notória a falta de sensibilidade de Denarium para entender que o funcionalismo público estatual merece muito mais do que pagamento agendado, com o décimo antecipado. E esse chão ainda é longo. Crédito, capacitação e valorização laboral são pontos que o governador desvia, enquanto cumprimenta seus servidores com um “cada dia melhor”.
A lenda da bruxa Tetê
Pintada por um time de marqueteiros como uma vilã do funcionalismo público, Teresa Surita (MDB) tem muito mais benesses a mostrar nesse quesito. Muitas vezes taxada como ruim para o servidor, com falsas notícias sendo replicadas à boca miúda, nenhum ato assinado por ela durante suas gestões frente à Prefeitura de Boa Vista comprovam essas alegações.
O gabinete do ódio mandou espalhar por aí que ela tinha duplicado a carga-horária dos servidores municipais, e reduzido benefícios, como se isto fosse juridicamente possível ou aceitável pela Câmara Municipal de Boa Vista. Disse ainda que se ela assumir o Governo de Roraima perseguirá comissionados, seletivados e até servidores efetivos que porventura tenham apoiado o governador, algo que também não consta em seu histórico, nem diante de discordâncias em lutas políticas ou sindicais.
O que é real e pode ser visto hoje na Prefeitura de Boa Vista é que o servidor tem condições decentes de desenvolver suas atribuições em quaisquer setores do município. Prédios novos, equipados, modernos, seguros, como qualquer cidadão pode conferir pessoalmente. Esse tipo de investimento é fundamental em uma relação de respeito entre gestor e servidor. Como exigir resultado sem dar condições para que o seu trabalho seja feito? Não existe.
Além disso, ao invés de cortar os benefícios como espalhado por aí, Teresa aprovou mais de 60 convênios de descontos, PCCR, gratificações como GID e GIF, reposições, reajustes, progressões, promoções, abono, 14° e 15° salários, e tem um histórico de pontualidade no pagamento bem anterior, nesse mesmo modelo copiado pelo marketing do governador, o de anunciar data de pagamento pelas redes sociais.
Obviamente que os servidores do município ainda têm suas lutas, reivindicações e anseios, e este é um processo legítimo, necessário para que a gestão sempre avance e melhore, oferecendo dignidade ao trabalhador, e, na contrapartida, possa receber os resultados de eficiência de seu capital humano, que é a principal engrenagem da máquina pública.
Mudando o referencial
Partindo de um novo comparativo é que se consegue entender o fundamento dessas acusações: o governador só tem como se opor à Suely, por que o que Teresa fez pelo serviço público, dá de olé nos dois. O orçamento que a prefeitura de Boa Vista dispõe é muito inferior ao do Governo de Roraima, cuja folha de pagamento ultrapassa os R$ 200 milhões mensais. Argumentar que os salários do Estado são maiores do que os do município diante de um orçamento assim é outra comparação desleal.
A próxima gestão estadual precisa pensar e agir em prol do servidor, que já não se contenta mais com migalhas e que depende de um governante que compreenda suas dificuldades e lhes dê condições para exercer seus ofícios. Não adianta ter dinheiro em caixa se o funcionário público não tem uma caneta na repartição. Não adianta também comparar e dizer que pior estava antes, se o servidor está entendendo quão melhor pode ficar depois.