Futuro do Estado de Roraima é incerto e não sabido; apenas alguns ficaram ricos (Foto: Divulgação)

Depois da festa governamental, a realidade de Roraima nos seus 32 anos na condição de Estado. O fato é que não avançamos em praticamente nada nas principais questões, ficando à mercê das transferências de recursos federais, exatamente quando ainda éramos Território Federal desde a década de 1940, com o pires na mão esperando as migalhas caírem do banquete em Brasília.

Por consequência, a economia do Estado seguiu dependente da folha de pagamento do governo e demais poderes constituídos, da mesma forma como éramos há três décadas, quando ainda não tínhamos autonomia administrativa. Dependente dessa economia do contracheque, o comércio foi o único setor que tem avançado, bem ou mal, gerando emprego e renda.

O Governo do Estado também segue na mesmice de outrora, sem um plano ou um projeto que vislumbre ao povo roraimense a sair dessa mesmice, sem qualquer política para fomentar uma nova matriz econômica, em que o Estado segue cada vez mais pobre e os políticos cada vez mais ricos. O que existe é apenas um arremedo, alimentado pela fantasia do governador Antonio Denarium (sem partido).

Tal fórmula do engessamento do Estado – refém dos recursos federais e do salário do funcionalismo público, com o comércio aquecendo somente a cada fim de mês, quando o servidor recebe o pagamento -, a ponto de os governantes fazerem questão de manter a máquina a serviço da política partidária, do mesmo jeito do tempo de Território Federal.

Política mais do mesmo

O governador Antonio Denarium, eleito sob o discurso de que iria fazer tudo diferente, acabou por aderir à fórmula que enrique somente os políticos e que deixa o povo mais pobre, caindo de cabeça na campanha eleitoral para eleger a candidata do seu novo grupo, cuja candidata à Prefeitura de Boa Vista é a deputada federal Shéridan de Oliveira (PSDB), que nem em Roraima mora mais, ao sabor de seus relacionamentos pessoais.

Denarium não apenas entregou o seu governo nas mãos desse grupo, que abriga os mesmos políticos que sempre se beneficiaram do empobrecimento do Estado. Inclui ainda um acordo para tentar se eleger em 2022 com base nessa velha política: a desistência pelo PSDB da ação judicial que pedia a cassação do governador por compra de voto no interior do Estado. Mais do mesmo de um Estado que há três décadas só abrigou políticos desse naipe.

O governador que aí está faz tudo igual aos demais, usando a máquina para eleger sua candidata, em especial a Educação e Segurança Pública, pressionando o funcionalismo público não efetivo, da mesma maneira como sempre foi feito ao longo desses anos de empobrecimento do Estado.

Buraqueira como símbolo maior

Enquanto isso, o Estado segue à deriva, sem ter o básico para atrair novas empresas, como uma matriz energética confiável, e a regularização fundiária para garantir segurança jurídica aos grandes e pequenos produtores. Isso vem sendo repetido ano após anos, sem que alguém efetivamente adote políticas de governo que mudem a realidade.

Nem no quesito infraestrutura básica o atual governo, a exemplo dos demais, consegue manter um plano de manutenção e recuperação das principais rodovias que fazem movimentar a economia, seja para o Amazonas como para os países vizinhos, Venezuela e Guiana.

A BR-174, que é o cordão umbilical de Roraima, que liga o Estado ao Amazonas, ao Sul, e à Venezuela, ao Norte, é um vergonhoso exemplo do descaso e descompromisso dos governos e dos políticos com o desenvolvimento do seu povo e de sua gente.

A buraqueira dessa principal rodovia, em toda sua extensão, é o símbolo da política da mesmice. Sem falar das estradas e vicinais por onde circulam alimentos e pessoas que produzem, as verdadeiramente que geram emprego e renda no campo.

A mesma pasmaceira segue nos demais setores. Roraima sequer consegue ter um abastecimento de água potável segura, com falta de água constante nos bairros, do Centro à periferia, sem contar com os municípios do interior, onde o esgotamento sanitário praticamente não existe e onde sequer há aterros sanitários para resolver a questão do lixo urbano e problemas ambientais sérios que a ausência resulta.

Somente alguns ficaram ricos

Enquanto isso, apenas alguns ficam ricos no Estado, a exemplo dos dez grandes produtores que montaram um matadouro e frigorífico para exportar carne bovina para Manaus (AM) – entre eles o governador -, um reduzido grupo de grandes produtores que plantam soja – entres eles, de novo, o governador –, empresários que vivem de faturas dos governos e latifundiários que se beneficiam da atual (des)política de terras – entre eles, outra vez, o governador.

Também conseguiram ficar ricos servidores de um seleto grupo, os quais mereceriam uma devassa em suas contas pela Receita Federal, pois seus salários não condizem com a realidade que ostentam nas redes sociais e nos visíveis sinais exteriores de riqueza, como carrões, mansões e fazendas, fora viagens e bens no exterior que eles dizem ter.

O fator Venezuela

Para deteriorar o quadro que já vinha ruim de longas datas, tem ainda o “fator Venezuela”, que se esfacelou e atingiu Roraima de cheio, empurrando para Boa Vista e outros municípios do interior do Estado a grande massa de venezuelanos desesperados em busca de sobrevivência.

Os setores públicos foram os primeiros atingidos, em especial saúde e educação, que vinham sendo sugados há muito tempo por essa velha política dos grandes esquemas enraizados para fazer acordos e alimentar grupos sedentos por recursos públicos. Se Roraima já não conseguia gerar emprego e renda para os que aqui já estavam, essa realidade só piorou.

E o quadro vai piorar ainda mais após a pandemia, que provocou um grande impacto e que ainda provocará um quadro preocupante, já a partir de fevereiro do próximo ano, quando essa leva de brasileiros e venezuelanos desempregados deixar de receber o “vale corona”, o benefício social pago pelo Governo Federal, que tem ajudado a amenizar a crise provocada pelo coronavírus. No ano que vem, com fim dele, irá estourar a bolha do consumo presenciada até aqui. Virão dias ruins!

Na Prefeitura, cenário semelhante

Na outra ponta, na Prefeitura de Boa Vista, a situação é muito semelhante, onde o ex-senador Romero Jucá (MDB) comanda a prefeita Teresa Surita (MDB) na velha política de sempre, usando toda a força da máquina para eleger seu candidato a prefeito.

Por lá é outro vale tudo, usando inclusive a imagem da prefeita como se ela fosse a própria candidata. Vale tudo mesmo, porque não está em jogo somente os planos de Teresa para 2022, mas também a sobrevivência política do grupo de Jucá e o retorno dele para algum cargo público, do qual ele não consegue manter seus grandes negócios.

Jucá era o todo poderoso que fazia chover em Brasília, até não conseguir se reeleger senador, nas eleições passadas. Quando tinha todo o poder da caneta em suas mãos, por mais de duas décadas, não conseguiu resolver as grandes questões de Roraima, mesmo sendo liderança em praticamente todos os governos, da direita à esquerda, do centro ao centro-esquerda.

Como senador cheio de poder, Jucá apenas mantinha o mesmo extraordinário  esquema de direcionar verbas federais para seus grandes negócios na política, mantendo não somente a prefeita de Boa Vista em suas mãos, como também prefeitos do interior para onde ele canalizava as verbas federais. Quem não beija suas mãos fica na penúria, como já ficou a Prefeitura da Capital no tempo do então prefeito Iradilson Sampaio.

Foi dentro desse contexto, que enriquece somente alguns, que Boa Vista foi estruturada para se tornar um grande canteiro central  a fim de alimentar grandes empreiteiras, boa parte delas atualmente responder a ações judiciais por denúncias de improbidade administrativa.

O próprio Romero Jucá  se tornou campeão de processos judicias no Supremo Tribunal Federal (STF), 12 no total, boa parte deles por envolvimento na Operação Lava Jato. Teresa Surita também responde a uma lista de processos. E todos que servem ao seu grupo saem com algum processo nas costas, a exemplo do lobista Geraldo Magela, que dizia ter sido seu “laranja favorito”, que depois se tornou ódio eterno.

Enfim, a mesma constatação

Esse é o quadro do Estado de Roraima nesses 32 anos de criação. A constatação é a de que estamos patinando nos mesmos atoleiros e caindo nas mesmas crateras que impedem o desenvolvimento do Estado, permitindo somente alguns ficarem mais ricos, enquanto o povo, agora impactado pela migração em massa de venezuelanos, fica cada vez mais pobres.

É maçante ficar repetindo a cada aniversário de Roraima que não temos nada a comemorar. Mas não há outra forma de analisar a realidade diante desse quadro que se apresenta. Infelizmente, somente um seleto grupo tem muito a comemorar. Esses têm na campanha eleitoral o seu principal banquete, do qual eles deixam cair algumas migalhas para o povo.

*Colunista

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