Imigrantes venezuelanos cruzam a fronteira com o Brasil às centenas diariamente (Foto: Divulgação)

Roraima proporcionou uma votação expressiva para o presidente Jair Bolsonaro por depositar nele a esperança de que poderia ser diferente, uma vez que ele insistentemente, ainda em campanha, chamava o Estado de “a menina dos olhos”, quando aqui esteve. Eleito, repetiu outras vezes a frase, mas sempre referindo-se à riqueza mineral que Roraima abriga em seu subsolo.

Depois disso, já vieram ministros e até uma bancada parlamentar federal acompanhada do próprio filho do presidente. De lá para cá, nada mudou. Foram apenas promessas, enquanto o Estado afunda na crise migratória, na garimpagem ilegal em terras indígenas, no alto custo de vida, incluindo aí o absurdo preço do combustível, na falta de uma energia confiável,pois também ficou na promessa a construção do Linhão de Tucuruí, empacada na terra indígena na divisa dos estados de Roraima e Amazonas.

Hoje devem chegar o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, renovando a esperança de que possa realmente ser diferente a fim de encaminhar soluções para amenizar o impacto da grave crise migratória vivida pela população roraimense, em especial na fronteira com a Venezuela, no Município de Pacaraima, e em Boa Vista, que recebe estrangeiros em maior número.

A situação de Pacaraima acabou por apressar a vinda de Moro e Mourão, uma vez que a onda de violência gerou revolta na população brasileira que vive na fronteira, a qual foi reprimida com peso excessivo pelas forças federais, revelando uma inversão descabida, pois os constantes crimes praticados por desocupados e bandidos venezuelanos e/ou brasileiros não receberam o mesmo nível de repressão policial.

A crise migratória é mais intensa em Pacaraima por ficar numa pequena cidade espremida entre a linha de fronteira e as comunidades indígenas de São Marcos. Mas os problemas são igualmente amplos e preocupantes em Boa Vista, a Capital de Roraima, onde a chegada em massa de venezuelanos provoca graves problemas sociais e a ampliação da violência urbana, já em situação agravada devido à ação do crime organizado, que degola cabeças de rivais cujos corpos são desovados nos matagais nas cercanias da cidade.

Os prédios públicos abandonados pela inépcia dos governos locais foram transformados em cortiços ocupados por venezuelanos, que improvisam moradias precárias. Desses locais surgem não apenas pais de famílias em busca de emprego ou na mendicância, mas também desocupados que vieram para o Brasil sem a intenção de serem cidadãos fugindo da crise migratória de seu país, mas de seguir a vida de malandragem ou de crime.

Por ficarem perto da rodoviária internacional e da sede da Polícia Federal, para onde os estrangeiros se dirigem com a finalidade de tentar se regularizar no país, os bairros São Vicente, Pricumã e 13 de Setembro se tornaram áreas de sérios problemas ocasionados pela onda migratória. Mas toda a cidade vive problemas semelhantes, com crianças pedintes, adultos em estacionamentos e semáforos, furtos, favelização, subemprego, ociosidade e outras situações advindas da pobreza.

A Operação Acolhida, que tem contribuído sobremaneira para amenizar o impacto, chegou ao seu limite. A interiorização foi apenas uma fachada, que permitiu levar alguns dos estrangeiros com melhor formação profissional e educacional para outros estados, enquanto os menos capacitados ou sem capacitação ou escolaridade alguma foram ficando e se estabelecendo de qualquer forma, na mendicância, na favelização ou sobrevivendo do subemprego.

Sim, ficaram bons estrangeiros, bons pais de famílias, bons cidadãos. Mas a massa de desesperados é maioria a engrossar nossos problemas sociais e econômicos, os quais são bancados sozinhos pelo poder público local e arcado pelo contribuinte roraimense já sufocado pelas mazelas da política local. É isso que Moro e Morão precisam enxergar e propor soluções imediatas.

Não podemos ficar mais apenas nas promessas e na batida frase de “a menina dos olhos”. Precisou haver mais um conflito em Pacaraima para que as autoridades locais fossem lá propor soluções e para que mais dois enviados de Brasília se apressassem a vir. Essa realidade era para se tratada de forma permanente e de maneira prioritária desde o princípio.

O temor é que a situação se amenize e todas sumam de novo, deixando Pacaraima à própria sorte e o Estado de Roraima bancando sozinho o preço da ausência do Governo Federal, que até aqui se conformou com uma Operação Acolhida que trata uma pequena parcela de estrangeiros com todas as regalias e deixa a maioria dos venezuelanos vivendo na miséria. Isso não é mais concebível. É preciso muito mais do que caravanas de autoridades em passeio e promessas que sempre caem no vazio.

*Colunista

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