Foto: IBAMA

Uma séria notícia divulgada pela imprensa nacional e replicada para mídia local, na semana passada, parece não ter ganhado a importância e o impactado que o assunto merece, pela sua flagrante gravidade. Conforme o Comex Stat, portal do Ministério da Economia sobre comércio exterior, 194 kg de ouro oriundo de Roraima foram exportados para a Índia desde setembro de 2018, sem que o Estado tenha alguma exploração desse minério legalizada.

Significa dizer que todo esse volume de minério está sendo subtraído (e surrupiado) das terras indígenas, mais especificamente da Terra Indígena Yanomami, invadida por milhares de garimpeiros que trabalham embrenhados na mata em situação precária, alguns em regime análogo a escravo, pois só conseguem receber algo depois de pagarem pelo transporte, alimentação, estadia e o que for consumido lá dentro.

A busca clandestina de minério em terras indígenas não é recente em Roraima, mas aumentou sensivelmente desde o início do ano, a partir de quando o presidente Jair Bolsonaro (PSL) vem dando seguidas declarações favoráveis ao garimpo e prometendo reabrir a mineração (a mais recente foi em Belém-PA, na semana passada), além do fato de o Exército aliviar a fiscalização que amenizava o problema a partir de quando dificultava a entrada para essas áreas.

Não que o governo Bolsonaro seja o grande responsável sozinho pelo avanço do garimpo ilegal, mas representa um incentivo para que os financiadores da mineração arregimente mão de obra, na base da exploração de sonhos de gente humilde, que se submetem às mais duras explorações ao se embrenharem na mata em busca do brilho do ouro, nem que para isso custe suas vidas.

Além da exploração dessa gente humilde e pobre, que ficam com quase nada e muitas vezes retornam para a cidade com malária, há os severos danos ambientais com consequências para toda a sociedade, imediatas e futuras, e a ruína para as populações indígenas, já fragilizadas por suas próprias condições de isolamento e diferenças culturais. E ainda tem a evasão de divisas, uma vez que o maior volume do minério vai parar no exterior de forma clandestina.

Como muitos agem no facciosismo quando se trata de exploração mineral, sem se importar com os estragos ao meio ambiente e com a dizimação de populações indígenas, há um sério risco futuro para quem mora nas cidades, que é a crise hídrica que pode se agravar nos próximos anos, caso esse frenético garimpo que avança nos rios e matas não for freado.

O alerta vem sendo emitido há anos, em especial por pescadores e ribeirinhos, que têm notado que as águas de nossos principais rios, afluentes do Rio Branco, como o Uraricoera e o Mucajaí, estarem sendo tomados por uma lama espessa, comprometendo sobremaneira a qualidade da água, das praias e do pescado. O assoreamento desses mananciais também é outro grave dano que nos empurra para uma crise hídrica sem precedentes.

Se a União, por meio de suas instituições como Polícia Federal, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Exército, não tomar uma atitude séria e enérgica imediatamente, o Estado de Roraima pagará um preço muito caro, em um futuro muito próximo, devido a ação criminosa do garimpo ilegal. Já estamos sendo penalizados com a imigração desordenada, o que só agravará uma nova crise muito mais severa que ainda não conhecemos por aqui. O momento é para se preocupar.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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