O Ministério Publico de Roraima (MPRR) quer desmembrar a investigação sobre o assassinato do casal de produtores rurais Flávia Guilarducci e Jânio Bonfim de Souza, ocorrido em abril, no Cantá, por disputa de terras, após um depoimento de um dos envolvidos citar o governador Antonio Denarium (PP). Por ter perrogativa de foro, o caso teria de ser encaminhado para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao invés do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR).
Helton John da Silva, capitão da PM e um dos investigados, disse em depoimento que, após o assassinato do casal, o governador teria dado ordem direta à Delegada Geral da Polícia Civil para “resolver” a questão juntamente com o irmão do suposto autor dos disparos, o advogado Caio Porto, que segue foragido.
A partir desta informação, o MPRR destacou que não pode investigar autoridades com foro privilegiado, e só a Procuradoria Geral da República (PGR) é que pode dar sequência ao processo, o encaminhando para instâncias superiores.
O Caso
A investigação da Polícia Civil aponta que ao menos cinco pessoas, entre elas um capitão da Polícia Militar, estão envolvidas no crime. A suspeita é de que ele foi motivado por conta de uma disputa por terras.
As investigações sobre o caso apontam que Genivaldo Lopes é amigo de Caio Caio de Medeiros Porto, de 32 anos, que é vizinho do casal e suspeito de planejar e executar o crime, e estava presente no dia em que as vítimas foram ameaçadas de morte, em 22 de abril, um dia antes do crime. Ele também estava junto com Caio durante a compra de cerca de 20 munições para arma de fogo em uma loja especializada em Boa Vista.
Já Luiz Lucas é suspeito de ter acompanhado Caio em uma ameaça contra um outro vizinho do casal de agricultores e no dia dos disparos contra Jânio e Flávia, de acordo com as investigações da Polícia Civil.
Histórico
O governador de Roraima tem acumulado uma lista de parentes envolvidos em crimes cometidos no Estado, entre eles o irmão Orcine Almeida e a irmã Vanda Garcia, além dos sobrinhos Fabrício Souza Almeida e Antônio Oliverio Garcia Bispo.
Em maio, os dois sobrinhos do chefe do Executivo foram presos pela Polícia Civil de Roraima, após serem flagrados com 75 quilos de skunk, além de armas e munições. Os irmãos Fabrício Souza Almeida e Antônio Oliverio Garcia Bispo foram localizados após Fabrício ser apontado como dono de outros 70 quilos, apreendidos também naquele mês.
Além dele, dois irmãos de Denarium já foram alvos de operações da Polícia Civil e Polícia Federal. A Polícia Civil apreendeu armas e munições na casa de Orcine Almeida. A ação ocorreu como desdobramento da prisão dos sobrinhos do governador. Os agentes encontraram as armas dentro de um cofre, incluindo um fuzil. A casa fica localizada no bairro Araceli, apontada por Fabrício durante interrogatório, que revelou que as armas estavam na residência do tio.
Na ocasião, Secretaria de Comunicação do governo informou que o governador defendia a apuração rigorosa de todos os fatos relacionados ao caso apresentado pela Polícia Civil de Roraima, dentro da legalidade.
Lavagem de dinheiro
Por sua vez, a irmã do governador, Vanda Garcia, foi alvo de uma operação da Polícia Federal em fevereiro do ano passado, que visava investigar lavagem de dinheiro oriundo de venda de ouro ilegal. A polícia cumpriu mandado de busca, expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal em Roraima, na casa de Vanda que também tem condenação na Justiça Eleitoral por disseminação de fake news.
“Análises da PF revelaram um esquema que teria movimentado R$ 64 milhões em pouco mais de dois anos. Os valores seriam oriundos da compra e venda de ouro ilegal e contaria com o uso de empresas de fachada, que buscariam dar aspecto de legalidade às transações financeiras”, disse a PF à época.
Por fim, em janeiro deste ano, a Polícia Civil apreendeu mais de 200 quilos de maconha tipo skunk em uma fazenda do governador. Entretanto, foi constatado que o local estaria arrendado, sendo responsabilidade de outra pessoa.
