Governador cassado Antonio Denarium (PP). Foto: divulgação.

O Palácio do Governo está em polvorosa após a aceitação do pedido de impeachment da Assembleia Legislativa de Roraima, nesta terça-feira (2). O documento, que foi protocolado naquela Casa em 18 de junho, cuja representação é assinada pelos ex-candidatos ao governo Rudson Leite (PV) e Fábio Almeida (PSOL), aborda, entre outras coisas, abuso de poder político e econômico, desvio de recursos públicos, nepotismo, superfaturamento de contratos e gestão inadequada de programas sociais e recursos destinados à saúde e infraestrutura.

O processo passou por todas as tramitações legais após o despacho. Foi analisado pelos procuradores da Assembleia, para só então receber o parecer de aceite por parte do deputado Solado Sampaio (Republicanos). Tem seguido o curso correto, e agora andará dentro das comissões pertinentes. Só depois disso, se aprovado, é que o pedido de impeachment chegará ao plenário Noêmia Bastos Amazonas para apreciação dos demais deputados.

É papel do Poder Legislativo investigar cada uma das acusações feitas ali pelos partidos de oposição. E entre elas estão ações que, se confirmadas, violam os princípios constitucionais de legalidade, moralidade e eficiência na administração pública. 

  • Uso político da distribuição de cestas básicas e cartões de crédito por meio de programas sociais, em número muito superior ao de anos anteriores ao período eleitoral de 2022, configurando abuso de poder político.
  • Uso promocional do programa social Morar Melhor, sem previsão orçamentária para 2022, beneficiando a candidatura de Denarium. O benefício não seguiu sendo pago para a população depois da eleição, no exercício do segundo mandato do governador.
  • Transferência de R$ 69,8 milhões a 12 municípios de Roraima, supostamente para mitigar danos causados por chuvas intensas, mas sem comprovação adequada dos danos e da necessidade dos recursos. Apenas prefeitos aliados à Denarium receberam o aporte financeiro do Estado.
  • Renovação a perder de vista de um contrato considerado ineficiente de locação de estrutura para o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, com custo anual de R$ 13 milhões, sem atender aos requisitos mínimos de qualidade, comprometendo a segurança e integridade de pacientes e funcionários.

É ou não é para se investigar? Diga aí você, leitor. Diante daquilo que é praticado pelo governo a olho nu, deveria mesmo Soldado Sampaio ser conivente e prevaricar? Fez o certo, mostrou que nem deve e nem teme o tráfico de influência ao qual está sujeito: caminho normalmente seguido pelo governador, quando as coisas saem de seu controle. Agora, a pedra no sapato é bem maior. 

Histórico de cassações

O governador teve a coragem de dizer nesta quarta-feira (3) que o deputado Sampaio tenta “desconstruir sua imagem”. Quanto a isso, é sabido por qualquer tamanduá atravessando a estrada que Denarium foi cassado três vezes pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RR), nos últimos tempos. Está no cargo enquanto recorre dessas decisões junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, inexplicavelmente (ou não) tem adiado a votação em plenário dos recursos do governador.

Salvo pelo gongo de um novo recesso em Brasília, o governador teme que a votação de seu impeachment ocorra antes da decisão do TSE, endossando ainda mais o votos dos ministros, que já conversam sobre o afastamento de Denarium e sobre eleições suplementares ainda este ano em Roraima.

Lembro aqui as razões pelas quais o governador de Roraima já foi cassado:

  1. Agosto de 2023. Ele foi acusado de criar e ampliar os programas sociais “Cesta da Família”, que distribuía cestas básicas, e o “Renda Cidadã”, um repasse financeiro mensal à famílias de baixa renda, para se promover nas eleições de 2022.
  2. Dezembro de 2023. Nessa, ele foi acusado de executar reformas em casas de eleitores por meio de outro programa social, o “Morar Melhor”, também no ano eleitoral de 2022. O programa oferece serviços de reforma, ampliação e conclusão de unidades habitacionais à população de baixa renda.
  3. Janeiro de 2024, por abuso de poder político e econômico. Na ocasião, juízes do TRE-RR também aplicaram uma pena de inelegibilidade por 8 anos. Ele recorreu e o processo segue no tribunal em Boa Vista.

O que podemos esperar agora? 

Em plenário, na Assembleia, o governador poderá ser afastado imediatamente do cargo, sendo pego de surpresa e tendo que deixar o Palácio Senador Hélio Campos às pressas. A recomendação dada a sua equipe mais próxima é para que os computadores e arquivos contidos neles comecem a ser formatados, para evitar quaisquer intercorrências de emergência. Papéis e outros documentos poderão ainda desaparecer misteriosamente dos gabinetes daquele andar.

Ao invés de o governador “lamentar a postura do presidente da Assembleia”, como fez, e lamentasse o não repasse de R$ 12 milhões para a empresa que fornece a alimentação dos servidores da Saúde estadual, o resultado seria muito mais proveitoso para a sociedade. Hoje, os servidores ficaram sem comida. Mês passado o problema foi na lavanderia; outro dia eram os terceirizados com salários atrasados. E assim a culpa vai de mão em mão.

O governador  deveria lamentar também a morte de mais uma criança na maternidade de lona, ocorrida no último domingo (30). A mãe de primeira viagem, de 21 anos, disse que ficou no último sábado (29) de meio-dia até 22h esperando por uma cesárea. Sentindo dores, perdendo líquido amniótico, o bebê não resistiu. No domingo, a morte da criança foi confirmada. A Sesau diz que a paciente teve problemas de diabetes gestacional, infecção urinária e leucocitose. Desta vez, não pôs a culpa na prefeitura, como é de costume. Quando uma criança morre na maternidade de lona, a resposta-padrão é “A paciente não fez o pré-natal direito”. Desta vez não tinham a quem culpar, culparam a mãe. Ela disse que vai procurar ajuda na Justiça.

Estas aí sim, deveriam ser as lamentações do governador das promessas não cumpridas, das obras não entregues e da Roraima “cada dia melhor”, na limitação de seu imaginário pouco vasto, pouco eficaz, que não consegue ver além de sua própria bolha, entre ricos do agronegócio e seus bajuladores.

Roraima tá dando certo? Só se for pro Disney e pro Parima. Pro Mecias e pro Hiran. É desespero, é enrolação, é jogando a culpa nos outros que eles seguem em frente… é o governo de Roraima, mostrando que consegue ser pior a cada dia.

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