Região de Essequibo, em disputa. Arte: reprodução.

O governo da Guiana anunciou na última sexta-feira (14) a ampliação no orçamento militar para este ano. De acordo com o presidente do país, Irfaan Ali, o governo vai aumentar os gastos militares para US$ 202 milhões (aproximadamente R$ 1,09 bilhão) em 2024. Segundo o governo da Venezuela, a postura mostra uma “vontade de guerra” por parte da Guiana em meio à disputa pelo território de Essequibo e chamou o chefe do Executivo guianense de “Zelensky caribenho”, em referência ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

O anuncio do governo da Guiana foi feito durante o lançamento oficial do navio patrulheiro  “GDFS Shahoud”. O valor para 2024 representa um aumento de US$ 95 milhões (cerca de R$ 515 milhões na cotação atual) em relação a 2023. De acordo com Irfaan Ali, o objetivo do país é se proteger e manter a “paz na região”.

“A Guiana está em uma posição geográfica muito estratégica. Por causa disso, temos uma responsabilidade regional. É por isso que nossa aliança estratégica com os Estados Unidos e outros aliados ocidentais é crítica. Porque coletivamente nós temos uma responsabilidade sobre a segurança da região”, afirmou Irfaan Ali.

Guiana e Venezuela vivem hoje uma tensão diplomática em torno do território disputado de Essequibo. Em dezembro de 2023, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, convocou um referendo para que a população opinasse sobre a reincorporação de Essequibo – que era venezuelano até o século 19. A maioria votou pelo sim.

De acordo com a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez, o chefe do Executivo da Guiana se estabelece como o “Zelensky caribenho” e cumpre os desejos dos “seus mestres americanos”.

“Repudiamos o desejo de guerra de Irfaan Ali, que se estabelece como o Zelensky caribenho ao ameaçar a tranquilidade e a paz da nossa região ao adorar os seus mestres americanos e da Exxon Mobil. Essequibo é da Venezuela, será assim para sempre! O sol da Venezuela nasce em Essequibo!”, afirmou a vice em sua conta no X (ex-Twitter).

A declaração de Irfaan Ali vem na esteira da movimentação política da Venezuela na última semana. O governo venezuelano pediu na última terça-feira (11) à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que a Guiana volte a negociar o território de Essequibo. A ideia de Caracas é que a discussão seja feita com base no Acordo de Genebra de 1966. Segundo o representante do país na ONU, Samuel Moncada, a discussão precisa ter um desfecho “efetivo, prático, aceitável e satisfatório” para as duas partes.

A tensão sobre a região aumentou desde a realização do referendo. Outros atores internacionais entraram na disputa, com ameaças dos EUA e o envio de um porta-aviões do Reino Unido para a costa da Guiana.

Em maio, uma oficial militar dos EUA também visitou a Guiana. A embaixada estadunidense no país chegou a dizer que a diretora de Estratégia, Política e Planos do Comando Sul dos EUA, Julie Nethercot, esteve na Guiana para supervisionar o “planejamento estratégico, o desenvolvimento de políticas e a coordenação da cooperação em segurança para a América Latina e o Caribe”.

Dias depois, a embaixada dos Estados Unidos na Guiana anunciou a realização de exercícios militares no país sul-americano. A representação estadunidense na Guiana afirmou que dois aviões militares dos EUA fizeram um sobrevoo sobre Georgetown e a região. O governo da Venezuela respondeu em publicações na rede social, nas quais ministros chamaram a medida de “ameaça à paz regional”.

Entenda a disputa

Com 160 mil km², o território do Essequibo é objeto de disputa desde o século 19, mas a controvérsia ganhou novos contornos após 2015, quando a empresa estadunidense Exxon Mobil encontrou enormes reservas marítimas de petróleo na costa do enclave.

A Guiana, então, entregou concessões para que a empresa pudesse explorar as reservas que são estimadas em mais de 11 bilhões de barris de petróleo e fizeram o PIB guianês ser o que mais cresce no mundo, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A decisão desagradou Caracas, que alega que Georgetown não poderia ter emitido concessões de maneira unilateral em um território não delimitado. O governo do presidente Nicolás Maduro chegou a acusar seu homólogo guianês de seguir os interesses da Exxon Mobil e incitar um conflito na região. Já a Guiana acusa o vizinho de “intenções expansionistas” e desde setembro vem permitindo exercícios militares dos EUA na fronteira.

Em 2023, a Venezuela realizou um referendo para ouvir a opinião da população sobre a incorporação de Essequibo. Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, cerca de 10,5 milhões de eleitores participaram do referendo e 95,93% aceitaram incorporar a Guiana ao mapa e conceder cidadania aos mais de 120 mil guianenses que vivem na região.

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