Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na abertura da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), nesta terça-feira, 8, os presidentes dos oito países que detêm a floresta amazônica receberam de representantes da sociedade civil seis documentos elaborados durante as plenárias do “Diálogos Amazônicos”, entre os dias 4 e 6, contendo as demandas sociais e ambientais para a região.

Na ocasião, no documento entregue pelo titular da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Toya Manchineri, que representou os povos indígenas, foi pedido a demarcação de todos os territórios indígenas e a titulação dos territórios quilombolas reivindicados até 2025.

Declaração de Belém

O governo federal se comprometeu a utilizar esses documentos de base fundamental para a criação da Declaração de Belém que, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), será um plano de ação detalhado e abrangente para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

“A Amazônia não é e não pode ser tratada como um grande depósito de riquezas. Ela é uma incubadora de conhecimentos e tecnologias que mal começamos a dimensionar. Aqui podem estar soluções para inúmeros problemas da humanidade, da cura de doenças ao comércio mais sustentável. A floresta não é um vazio a ser ocupado, nem um tesouro a ser saqueado. É um canteiro de possibilidades que precisa ser cultivado“, disse o presidente em seu discurso nesta terça.

Propostas da sociedade civil

Abaixo, segue o resumo das principais propostas apresentadas pela sociedade civil aos presidentes:

Proteção dos territórios

Relatório 1: “Promoção e Salvaguarda dos Territórios, Ativistas, Sociedade Civil e Povos Tradicionais na Construção Sustentável da Amazônia e Erradicação do Trabalho Escravo nos Territórios”.

Pontos Principais:
  • Reconhecimento estratégico das tecnologias sociais nos territórios, especialmente, na economia sustentável e práticas tradicionais;
  • Demarcação urgente e proteção das terras indígenas;
  • Desenvolvimento de processos coletivos de defesa da Amazônia;
  • Capacitação de defensores indígenas dos Direitos Humanos.
Saúde e Segurança Alimentar

Relatório 2: “Saúde, Soberania Alimentar e Nutricional na Amazônia: Medidas Emergenciais e Políticas Estruturais”.

Pontos Principais:
  • Implementação de uma política de produção e distribuição de alimentos responsáveis, considerando diversidade cultural, étnica e de gênero;
  • Progresso na regularização fundiária para garantir os direitos dos territórios de populações indígenas, quilombolas, tradicionais e agricultores familiares;
  • Formulação de políticas públicas que fortaleçam a produção existente e o abastecimento para comunidades com dificuldades de acesso a alimentos;
  • Combate ao racismo ambiental e fortalecimento da produção e organização das mulheres, promovendo acesso à terra e defesa do território.
Preservação

Relatório 3: “Visão para o Futuro da Amazônia: Ciência, Tecnologia, Inovação, Pesquisa e Transição Energética”.

Pontos Principais:
  • Aprimoramento da gestão integrada do solo, considerando a água como fator vital para a vida e produção;
  • Mobilização de recursos para produção de ciência, conhecimento e tecnologia a partir da Amazônia, em diálogo com os povos locais;
  • Compromisso dos países membros da OTCA em preservar pelo menos 80% da Amazônia até 2025;
  • Eliminação da mineração ilegal e uso de mercúrio até 2027;
  • Proibição da mineração de ouro na Amazônia;
  • Fechamento de mercados ilegais de mercúrio, ouro e outros produtos.
Mudança Climática e Agroecologia

Relatório 4: “Adaptação às Mudanças Climáticas, Agroecologia e Economias Sustentáveis na Amazônia: Manejo Responsável e Novos Modelos de Produção para o Desenvolvimento Regional”.

Pontos Principais:
  • Declaração de emergência climática na Pan-Amazônia e desenvolvimento de um Plano Estratégico Regional de Ação Emergencial;
  • Ações urgentes para preservar e equilibrar a floresta, evitando um ponto de não-retorno e assegurando pelo menos 80% do bioma até 2025;
  • Criação de plano para eliminar desmatamento ilegal, degradação e contaminação até 2025, e plano similar para desmatamento legal até 2027;
  • Restauração de florestas degradadas por meio de sistemas agroflorestais, com ênfase em espécies amazônicas;
  • Investimento em restauração florestal (biocultural) considerando os atores sociais locais;
  • Promoção de integração e sinergia entre unidades de conservação existentes;
  • Estabelecimento de acordos de cooperação e ações transfronteiriças para combater práticas predatórias que contribuem para incêndios, desmatamento e contaminação.
Povos Indígenas da Amazônia

Relatório 5: “Povos Indígenas da Amazônia: Um Novo Projeto Inclusivo para a Região”.

Pontos Principais:
  • Rejeição da tese do marco temporal e implementação de salvaguardas jurídicas contra propostas semelhantes;
  • Políticas de saúde e educação intercultural e de qualidade;
  • Revisão das legislações para atender aos indígenas em contextos urbanos, abrangendo educação, cultura e saúde específicas;
  • Valorização e fortalecimento das línguas indígenas, com co-oficialização;
  • Criação de universidades indígenas e inclusão de ciência e história indígena nas universidades;
  • Demarcação de todos os territórios indígenas e titulação de territórios quilombolas até 2025.
Racismo Ambiental

Relatório 6: “Amazônias Negras: Racismo Ambiental, Povos e Comunidades Tradicionais”.

Pontos Principais:
  • Promoção de uma economia produtiva para combater desigualdades entre populações afro na região amazônica;
  • Enfrentamento conjunto do racismo ambiental e promoção de direitos;
  • Enfrentamento do racismo ambiental como tema central na Cúpula da Amazônia e na COP30;
  • Criação de Comitê de Monitoramento da Amazônia Negra, incluindo debate sobre encarceramento e ações antirracistas nas instituições de ensino;
  • Expansão de políticas de igualdade racial;
  • Titulação de comunidades quilombolas.

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