Como se já não bastassem as inúmeras indicações políticas do senador Mecias de Jesus (Republicanos) dentro do governo de Roraima, ter conseguido emplacar o filho como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), compadres no comando de autarquias e empresas públicas, suplência de Dr. Hiran (PP) na mão, agora o senador dos garimpeiros tenta indicar mais um de seus aliados à vaga de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
O deputado Jorge Everton (União Brasil), nome disposto pela própria Assembleia Legislativa, disputa atenção com Regys Freitas, que é reitor da UERR. O favorito do presidente daquela Casa, Soldado Sampaio (Republicanos), e do governador Antonio Denarium (PP), é o reitor. Mas esta não foi a decisão de Mecias, que faz campanha intensa para o deputado.
Com visão de longo alcance, o senador sabe quem pode ser uma pedra no sapato, diante de seu sonho de disputar as eleições ao governo de Roraima, em 2026. Para chegar até lá com as contas aprovadas, ter um dos seus dentro da Corte de Contas é uma bela cartada. Pressionado, Sampaio já teria deixado claro ao governador que não concorda com o posicionamento e intervenção do senador. Denarium teria, inclusive, aberto as portas do Partido Progressista para Soldado Sampaio, que não descartou a hipótese de deixar o Republicanos.
Enquanto Mecias se espalha, o plano de Antonio Denarium é preparar o vice-governador Edilson Damião (Republicanos) para a próxima campanha, já filiado ao PP. É o cenário que se desenha.
Dentro da Assembleia, Mecias tem o melhor dos articuladores: o deputado Marcos Jorge tem feito a interlocução com os demais parlamentares, com o argumento de que o novo Conselheiro precisa sair de dentro daquele Poder, inflexivelmente. Tem que ser um deles. Com esse discurso, Jorge Everton tem a aprovação esmagadora da maioria dos deputados. Marcos Jorge, que seria o nome para substituir Sampaio na presidência da Assembleia já a partir do ano que vem, não dá ponto sem nó.
Enquanto isso, dentro do Republicanos, o assunto é tratado de forma taxativa: ou Sampaio aprova o nome, ou corre o risco de perder a predileção do senador para ser o candidato a prefeitura de Boa Vista em 2024.
Por esse caminho, o jogo tem sido duplo. O partido também tem dado esperanças ao vereador da capital, Ítalo Otávio, que entrou em ritmo acelerado para mostrar serviço e convencer o poderoso senador de que pode dar conta do recado, caso Sampaio seja retirado de cena.
Em tom de pré-candidato pelo Republicanos, Ítalo Otávio escolheu o caminho do impedimento para atrapalhar Arthur Henrique (MDB). O vereador que preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal de Boa Vista, barrou, inclusive, o PCCR (Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração) enviado à Câmara sob a alegação de que “o prefeito não dialogou o suficiente com as categorias”. Notória manobra política, já que a função da CCJ é analítica sobre a redação jurídica do documento, e não sobre as negociações sindicais que deveriam ou não ser atendidas.
Quem tá perdendo é o servidor.
Mais uma secretaria
Nem os deputados aliados tiveram segurança para votar a criação de uma nova secretaria, proposta pelo governo de Roraima. A SEGOD, Secretaria de Governo Digital, que pretende digitilizar toda a estrutura de governo, acessibilizando os serviços públicos on-line, fará exatamente o que empresas licitadas já fazem dentro da estrutura atual: escanear documentos e criar aplicativos que não são de comum acesso à população que sofre sem serviços básicos, que dirá internet.
Pois bem, a nova secretaria deve custar mais de R$ 5 milhões por mês aos cofres públicos, e vai gerar mais de 60 cargos comissionados, para um governo que diz econômico e visionário.
Com exceção do deputado Coronel Chagas (PRTB) que insistiu pela votação imediata da criação da nova pasta, os demais colegas pediram tempo para analisar de onde vai sair esse dinheiro.
Novo secretário indígena
No quinto ano de mandato, somente hoje, 12 de abril de 2023, o governador Antonio Denarium escolheu um indígena para comandar a secretaria estadual dos Povos Indígenas. Terêncio Lima Sobrinho é da etnia Macuxi, e foi um nome bem recebido pelas comunidades locais.
Esta semana o governador também publicou fotos em tom de amizade com Joenia Wapichana, presidente da Funai, em evento no Palácio do Governo. Uma postura bem mais democrática do que a desempenhada pelo governador até então.
Daqui uns tempos ele vai querer ser chamado de Denarium Macuxi.
Mulheres na ALE
Ontem, participando da sessão plenária na Assembleia Legislativa de Roraima, pude perceber como as parlamentares são nitidamente tratadas com um tom de diminuição pelos seus pares. Joilma Teodora (Podemos) foi chamada três vezes de Joilma TeodorO. Aprendam a chamar pelo menos o nome certo das colegas de parlamento.
Com um número desvantajoso em plenário, elas parecem flutuar em meio aos comentários sobre suas roupas, sobre a qualidade dos projetos que apresentam e, principalmente, sobre sua força enquanto políticas.
Respeitem as deputadas pois elas entraram aí pelo mesmo método que os senhores: pelo voto, pela decisão popular. Antes Ângela Águida vestida de laranja para aprovar o ‘abril laranja’, da causa animal, do que deputado que iniciou o mandato em janeiro andando de Celta e agora, em abril, já tem SW4.
Que as deputadas se unam e se protejam, ao invés de baixar a cabeça para concordar com a delimitação dos espaços de poder que foi imposta a elas.