O ano de 2022 foi muito difícil para a qualidade política em Roraima e essa retrospectiva é incômoda para todo aquele que se atenta aos feitos e malfeitos de um governo que se reelegeu com o discurso de muito trabalho e até agora só segue fazendo mais daquilo que já era esperado: fortalecer pequenos grupos de empresários aliados e deixar a população, que realmente precisa dos serviços governamentais, a espera de milagres.
O governador Antonio Denarium (PP) encerra o ano com falas confiantes mas com muitas contas a prestar na balança da verdade. De promessas não cumpridas a obras não entregues, a lista é infinda. Diferentemente do que foi gasto em publicidade e em campanhas políticas ao longo de 2022, não há maternidade, teatro, escolas novas ou novos hospitais abertos – tudo aquilo que foi publicitado está pela metade. Aquilo que é entregue ou inaugurado, é feito de forma antiprofissional, improvisada e pontual.
Um exemplo recente desta forma Denariana de governar é o Revéillon do Parque Anauá, que teve uma demão de tinta passada em seus portões e muros. Agora está sendo oferecida à população a ideia de que houve reforma e um novo parque estará pronto para a virada do ano. Confiram com os seus próprios olhos quando passarem por lá e vejam como a administração pública trata o dinheiro do contribuinte e sempre entrega menos do que o prometido.
Na Saúde, o ano termina com a notícia de terceirização pelo custo de mais de R$ 300 milhões para prestar boa parte do serviço que deveria ser bem feito pela Sesau. Com um contrato digno de mega-sena da virada, uma empresa privada vai se instalar por aqui para comandar o Hospital Geral de Roraima (HGR), tendo em vista que os cabeças da saúde pública estadual não sabem como sanar os problemas daquela unidade. Com pouco traquejo para lidar com temas sérios e sem mão de obra técnica especializada para comandar as mais relevantes secretarias de Estado, o governo arrasta o problema da ausência de profissionais e de estruturas adequadas à Saúde para o ano que vem. E esse é só o começo das promessas para 2023. Tem ainda a entrega da maternidade, a de concluir a segunda etapa do HGR, a de criar clínicas da Mulher, e por aí vai.
Na educação, tivemos mais escolas fechadas e o aumento da lista de unidades com problemas de estrutura e de pessoal. A forma que o governo do Estado encontrou para evitar uma reivindicação maior dos profissionais da educação foi repartindo o que não foi usado de Fundeb, dinheiro federal, para tentar ser lembrado como um gestor generoso para os profissionais da área. Educação vai além de pagar o que é de direito ao professor, governador. E R$ 8 mil (mais descontos) no fim do ano não pagam pela paz e nem pela saúde mental do profissional da educação ter que sobreviver a uma sala de aula sem estrutura nem políticas públicas que valorizem o servidor a médio e longo prazos.
Cultura e patrimônio histórico são um caso a parte. Como já dito aqui por mim tantas vezes, nada do que foi prometido para o primeiro mandato foi entregue. De Teatro Carlos Gomes, a uma nova sede para a Secretaria de Educação, A Casa da Cultura, as feiras, nada… é só mandando pintar a frente dos muros, e em alguns casos, olhe lá. Enquanto isso, o improviso vira marca registrada da gestão.
No agronegócio, o cartão de visita do governo, somente um seleto grupo de grandes produtores rurais viram seus patrimônios evoluírem, porque, na grande maioria dos casos, faltou condições de apoio e logísitica para o pequeno produtor conseguir se manter. As feiras estão de dar pena de tão deterioradas. As vicinais e pontes estão de fazer dó. Os planos se voltam para a Guiana porque só empresas do porte da dele é que vão conseguir chegar lá para fazer negócios. O pequeno vai continuar tentando ter espaço na feira do passarão, caindo aos pedaços.
Na economia, os aliados menores esvaíram-se, porque viram que as medidas tomadas pela gestão só beneficiam aos grandes. Sem incentivos, neste fim de ano a rede econômica já pouco teve o que comemorar e com o golpe do aumento do ICMS, ainda houve manifestação de repúdio do Comércio contra o governo e a Assembleia. No mesmo tempo em que o Detran e a Caer encontram maneiras de aumentar a arrecadação.
Outra lembrança devastadora de 2022, foi a compra de votos nestas eleições. Neste ano, particularmente, a ação criminosa chamou a atenção até mesmo da Justiça Eleitoral, que analisa processos contra candidatos que pagaram até R$1.500 por voto, em comunidades de baixa renda na capital e no interior do estado. Vergonhoso é o fato de muitos terem conseguido um mandato, ainda que diante de um meio tão ilegal e imoral. Dinheiro que já faz falta nos serviços públicos mais corriqueiros ao cidadão roraimense.
Que em 2023 haja uma retomada de consciência política na Assembleia Legislativa de Roraima para que se forme uma oposição decente, justa, equilibrada e sensata, para enfrentar os devaneios de Antonio Denarium e de seus comandados, inclusive o próprio presidente daquela Casa, pretenso candidato a continuar por mais dois anos no comando daquele Poder, deputado Soldado Sampaio (Republicanos). O mesmo parlamentar que diz ter sido forçado a votar pelo aumento do ICMS para 20%, e tratou a medida como “impopular, porém necessária” para o equilíbrio fiscal do Estado. E quem foi que desequilibrou as contas em 2022, deputado? Quantas vezes não foi dito pelo governador que havia dinheiro sobrando em caixa. Só de crédito-extra aberto pelo governo em benefício da Assembleia Legislativa ao longo deste último ano, daria para controlar muita despesa desequilibrada. Onde foi que erraram a conta?
E até onde sei, em lugares onde a Lei de Responsabilidade Fiscal é cumprida com tanto rigor, o primeiro passo para se controlar despesas é cortando gastos, bem diferente daquilo que foi feito esta semana em acordo explícito entre o Executivo e o Legislativo. Ao apagar das luzes de fim de ano, em sessão extraordinária depois do Natal, a Assembleia aprovou o PL de autoria do presidente do Legislativo concedendo reajustes salariais aos deputados, ao governador, ao vice, e aos secretários. O impacto deste “ajuste fiscal interno” será de milhões de reais ao longo já do próximo ano aos cofres públicos. O salário do servidor não se alinha à inflação, mas a justificativa de Soldado Sampaio é de que o primeiro escalão da política roraimense estava com os rendimentos muito desajustados. De fazer pena.
Que o novo ano nos traga condições dignas de poder viver, enquanto roraimenses e roraimados, nesta terra que sempre acolheu a todos, indiscriminadamente, e que agora vive sob o domínio dos poderosos que falam uma coisa e fazem outra completamente diferente. Enquanto os mais pobres sofrem as consequências do jogo político tão mal desenhado por aqui. Faço questão de acompanhar a próxima legislatura de perto, olho no olho, já em janeiro.
Um brinde à consciência política dos roraimenses. E que venha 2023.