A turma do “agora que estamos arrumando a casa” tem investido pesado para mostrar na televisão um estado organizado, cheio de oportunidades e com um povo abastado de benefícios – algo que, notadamente, se desloca da realidade da maioria da população. Na insistência de reproduzir o discurso de que temos um Roraima melhor, o governador do Estado, Antonio Denarium (PP), agora aponta sua estratégia de marketing para um populismo à la Juscelino Kubistchek, com os seus “50 anos em 5”. A promessa de JK nos anos 60 era transformar o Brasil em cinco anos, com resultados tangíveis e equivalentes a cinco décadas de trabalho. Para isso, contaria com o maior processo de industrialização do país, governando para deixar seu legado, e entregando uma nova capital Federal, Brasília.
Na contramão desse avanço, em 2022, temos um Estado de Roraima ineficiente até para a prestação do mais básico, como o fornecimento contínuo de água, luz e internet para poder funcionar. Industrializar nosso estado desta forma, então, seria um milagre. Ainda assim, o governador diz que fez nos últimos 3 anos o que nenhum outro fez nos últimos 30. Seria ele um novo JK, que ao invés de entregar Brasília, entregaria um novo Roraima, com novo Parque Anauá, novas escolas, rodovias, vicinais, linhão de Tucuruí, indústrias, e uma infinidade de benefícios públicos. Lenda folclórica. O que vimos foi o contrário.
Os “30 anos em 3” de Antonio Denarium são às avessas: nas últimas três décadas nenhum governante paralisou dinheiro em caixa enquanto o povo padecia em meio aos problemas sociais. Em 30 anos Roraima nunca esteve tão mal cuidado em termos de cultura, arte, turismo, lazer, Ciência e tecnologia, desenvolvimento sustentável, e tantas outras áreas imprescindíveis para podermos celebrar uma gestão como sendo eficiente, e um gestor como de sucesso. Passou longe.
Nos últimos 30 anos nunca se evitou tanto falar sobre políticas indigenistas ou de inclusão social para os mais pobres. Nunca se deixou tanto de lado o desenvolvimento humano da nossa gente. Também nesses anos todos, nunca nossa natureza foi tão maltratada: os índices de desmatamento jamais foram tão altos como os que têm sido vistos agora. Nossos rios nunca estiveram com tanto mercúrio. Nossa fauna nunca esteve tão ameaçada. E nunca um governo se calou tanto sobre isso. Nunca. Falta muito para ter o que comemorar.
Já nos últimos três anos o que vimos foram seletos empresários ficando mais ricos, patrimônios privados sendo hipervalorizados e gente com necessidades estatais reais, o mais pobre, ficando à mercê da caridade do crédito do povo, sem nenhuma condição de poder sonhar com um futuro melhor. Os “30 anos em 3” do atual governador estão ainda submersos em polêmicas envolvendo tratos com a Assembleia Legislativa de Roraima, como nunca antes vistos na história política desse estado.
O que se tira dos últimos três anos de gestão é a certeza da absoluta incapacidade de lidar com o dinheiro público, tendo em vista o despreparo para a tomada de decisões fundamentais para o andamento do Estado. Exemplo disso são os reincidentes repasses de recursos extras multimilionários para o Poder Legislativo, e o pagamento de R$ 6 milhões por 30 respiradores que valiam 531% a menos, na vergonhosa administração da pandemia de covid-19. Vimos também já agora neste ano eleitoral, depois que a pandemia acabou, governo e Assembleia unidos para renovar o estado de calamidade pública, modalidade que permite a dispensa de licitação nas compras estatais. Foi isso o que vimos nos últimos três anos, e que valeram por 30.
O eleitor está mais atento e já entendeu que o governador gosta mesmo é de abusar dos clichês para tentar convencer os outros daquilo que nem ele mesmo foi convencido: “A casa está arrumada”, “Roraima está cada dia melhor”, “Em 3 anos trabalhamos por 30”… e o povo rezando por 30, para outubro chegar logo.
Calamidade pré-eleitoral
Em sessão extraordinária, a toque de caixa, 12 deputados da Assembleia Legislativa de Roraima, comandados por Soldado Sampaio (Republicanos), aprovaram a emergencialidade de 12 dos 15 municípios roraimenses, em decorrência das chuvas. Mais uma vez é dinheiro extra sendo liberado em período pré-eleitoral, para a utilização em contratos com dispensa de licitação.
Ficaram de fora São Luiz, Rorainópolis e, como esperado, Boa Vista. A capital foi novamente ignorada e apesar de também precisar de reparos e investimentos emergenciais no período de chuvas, não terá nenhum suporte financeiro extra, mostrando o caráter político e não técnico da tomada de decisões.
Alugueis de veículos da ALE
Foi suspenso o processo licitatório na ordem de R$ 7,4 milhões para alugar 55 veículos que ficariam à disposição da Assembleia Legislativa de Roraima. A Casa não detalhou o motivo que fez o presidente daquele Poder mudar de ideia, mas sabe-se que houve um pedido de impugnação do certame. A Casa, que já não tem estacionamento nem para a frota que já possui, deveria rever suas despesas, ainda mais em ano eleitoral onde é nítida a redução de atividades parlamentares.