O município de Mucajaí, ao Sul de Roraima, demonstrou interesse em participar do consórcio nacional para compra de vacinas contra Covid-19. A cidade do interior se junta à Boa Vista, que já aprovou e sancionou a lei para a aquisição dos imunizantes. O município, com cerca de 17,8 mil habitantes, tem 1.850 casos confirmados da doença. Desses, 30 morreram desde o início da pandeima
Ao todo, de acordo com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), que organiza a compra coletiva, 2,4 mil municípios brasileiros já se manifestaram para receber as vacinas. A compra pelos municípios já é permitida após o presidente Jair Bolsonaro sancionar a lei que permite que estados e municípios comprem vacinas contra a Covid-19, após o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar a aquisição e distribuição dos imunizantes por estados e municípios caso o governo federal descumpra o Plano Nacional de Imunização.
Porém, enquanto há de um lado o interesse em agilizar o processo de aplicação das doses contra o novo coronavírus, esse cenário também cria debates sobre os riscos de ampliação de desigualdades com as aquisições por cada município ou estado.
“Passa a ser cada um por si e Deus por todos”, afirma o epidemiologista e professor do departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant. Para ele, é preciso observar a história de sucesso do País em eliminar doenças como sarampo, poliomielite e varíola, o que só foi possível com a definição de papéis para cada um dos entes federados, com uma padronização nacional.
“Ao abrir a possibilidade de compra da vacina por município ou por outras entidades, criamos uma competição onde o capital começa a exercer um domínio sobre o processo de compra e não mais a equidade, o cuidado. Então nós, provavelmente, vamos acabar visualizando municípios tendo acesso à vacina antes de outros mais vulneráveis ou que não têm capital para competir nesse jogo financeiro”, opina.
O especialista lamenta que o contexto atual do País seja de baixa vacinação e procuras individualizadas, que mostram que “o governo federal não conseguiu exercer o papel de líder de uma rede” nem respeitar “o princípio da equidade do SUS, que diz que quem precisa mais tem que receber mais”, complementa.