Eleitos com o discurso de 'não políticos' acabaram se misturando com a velha política (Imagem: Divulgação)

O discurso do “não político”, adotado especialmente nas eleições gerais de 2018, deixou sua máscara cair nas eleições deste ano, imagem de maior expressão em nível nacional representado por Wilson Witzel (PSC) e Marcello Crivella (Republicanos), acusados do mesmo mal da velha política, a corrupção. Em Roraima, a farsa do antipolítico ajudou a eleger alguns, com destaque para o governador Antonio Denarium (sem partido), embora ele sempre estivesse caminhando com os políticos tradicionais.

Desta forma, Denarium e o hoje deputado federal Antonio Nicoletti (PSL), além do discurso do “não político”, eles surfaram na onda bolsonarista que varreu o país. Mas as últimas máscaras não demoraram a cair. A mais recente foi a do Nicoletti, que declarou apoio ao candidato do grupo da prefeita Teresa Surita e do ex-senador Romero Jucá (ambos do MDB), na disputa pela presidência da Câmara Municipal de Boa Vista. O casal é um dos maiores símbolos da velha política.

Se Nicoletti agora se misturou ao grupo de Jucá, a quem o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizia ainda como candidato que jamais teria qualquer chance em seu governo, significa que a queda de máscara é dupla, a do “não político” e a de bolsonarista. Não há mais nada oculto agora, justamente por quem fez uma campanha municipal baseada no que existe de mais retrógrado na velha política, o recurso judicial para silenciar críticos.

Denarium não caminhou só no labirinto que o levou para fora do espectro do “não político”. Antes mesmo de assumir o governo, ele já se misturava com os velhos políticos da cena roraimense, e com eles formou um grupo para apoiar a candidatura municipal encabeçada pela deputada federal Shéridan Oliveira (PSDB).

O grupo sofreu uma vergonhosa derrota depois do “escândalo da cueca”, protagonizado por uma das peças do núcleo do grupo, o senador Chico Rodrigues, o vovô Chico, como dizia Shéridan ao elogiar os atributos do aliado em palanque.

Nesse bolo também foi  a máscara que mais parecia manter acesa a chama do “não político”, o deputado federal Haroldo Cathedral (PSD). Ele ensaiou o ato mais praticado pelos velhos políticos, que é eleger parentes e familiares para formar uma dinastia, assim como fazem os demais. Mas o filho, Zé Cathedral, naufragou como vice de Shéridan, que amargou um humilhantes quinto lugar.

É bom que o eleitor fique atento a estas movimentações, pois a cada momento há uma trama para engabelar a opinião pública e fisgar os eleitores a cada pleito. Em nível nacional, temos dois “não políticos” que foram parar no xilindró. Em Roraima, ainda há muita coisa para acontecer.

Lembrando que Denarium, ao se juntar à velha política, negociou não apenas a viabilização de sua candidatura para a reeleição, mas também a renúncia de ações judicias que poderia cassá-lo por corrupção eleitoral.

Que venha 2021 com o “novo normal”, outro discurso que cheira a engabelação.

 

*Colunista

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