Depois do fechamento da Venezuela, diante da grave crise vivida no país de Nicolás Maduro, para onde se destinava o maior fluxo de turistas locais e de outros estados, em busca dos atrativos da Gran Sabana, em especial, o Monte Roraima, os brasileiros começaram a descobrir a Serra do Tepequém, que também fica na região Norte do Estado, no Município do Amajari.
O boom definitivo foi no feriado da Independência do Brasil deste ano, 7 de Setembro, quando não apenas turistas, como também a população de uma forma geral, fugindo da quarentena, literalmente invadiram Tepequém e fizeram a descoberta definitiva do turismo naquela localidade. O fenômeno dessa invasão a pontos turísticos ocorreu também, na mesma data, em outros estados, particularmente nas áreas litorâneas.
Mas, bem antes disso, a Serra do Tepequém já vinha se consolidando como o único polo turístico realmente organizado, graças à comunidade local, com apoio de algumas instituições, e aos empresários que têm investido na construção de pousadas para atender à demanda de turistas, que na maior parte vem de Manaus (AM), de outros estados e até do exterior.
Embora o turismo no Tepequém tenha se consolidado, os governos nunca deram a atenção devida, sequer com estrutura para manter o acesso, a RR-203, em boas condições para o turista chegar e os empresários reduzirem o custo de seus investimentos, bem como para a comunidade manter sua qualidade de vida, onde custo de vida é altíssimo, cujo um dos fatores sãos as péssimas condições da rodovia.
Como o negócio do turismo foge ao controle da máfia dos políticos safados, alguns encontraram um jeitinho de lucrar assim mesmo. No governo anterior, da finada administração de Suely Campos, foi anunciada uma obra de reforma da rodovia estadual RR-203, cujos serviços começaram com o recorte do asfalto para supostamente tapar os buracos com remendos.
Mas a obra parou por aí mesmo, com esses recortes se transformando em imensas crateras, cujos trechos atualmente ficaram completamente sem camada asfáltica, tornando-se numa buraqueira que impõe aos turistas e moradores uma aventura de um vergonhoso rally, provocando prejuízos financeiros, desalento e estresse aos viajantes, além de inibir um maior fluxo de turista, reduzindo à comunidade do Tepequém a possibilidade de maior geração de renda.
O atual governo, do empresário Antonio Denarium (sem partido), já deu início à obra de recuperação da RR-203, a partir do entroncamento da BR-174 norte até a Vila do Paiva, que é a sede de Tepequém. A obra vai custar R$ 10 milhões, recurso este oriundo da Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).
Trata-se de uma dívida do governo, independente de quem esteja à frente da administração, com o turismo e com os que moram e investem na Serra do Tepequém. E com o histórico de descaso com aquela obra, é necessário que os órgãos de controle estejam atentos à aplicação desse recurso, pois não se trata apenas de garantir a boa aplicação do dinheiro público, mas também da garantia de melhor qualidade de vida para quem depende do turismo naquela região.
Não apenas isso. É necessário mudar a realidade do descaso com o dinheiro público. Fiscalizar a atual obra é importantíssimo, mas é essencial buscar respostas sobre o que aconteceu com os recursos anteriores destinados para a obra nunca realizada no governo de Suely Campos, que por coincidência é dona de fazenda naquela região.
Não se pode mais cair no esquecimento. É preciso punir quem errou ou se beneficiou dos desmandos, para que haja ressarcimento ao erário, caso se comprove alguma irregularidade. Então, é necessário que os órgãos fiscalizadores e de controle busquem resposta sobre a obra de reforma da RR-203 que começou e nunca terminou no governo anterior.
Só para refrescar a memória, já em 2004 o Governo de Roraima publicava ordem de serviço para a RR-203. Naquele tempo, a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf) publicou o Extrato da Ordem de Serviço de número 003/04, Processo número 006141/03, em favor da empresa DLC – Construtora e Comércio Ltda, para uma operação tapa-buraco da rodovia RR-203, inclusive da Vicinal Trairão. O valor foi de R$113.300,80.
Essa empresa tinha como representante Disney Barreto Mesquita, que por coincidência foi o primeiro chefe da Casa Civil do governo Denarium, o qual saiu depois da grave crise na saúde pública, com seguidas trocas de secretários que saíam denunciando uma corrupção sistêmica na Secretaria Estadual de Saúde (Sesau).
Relembrar esse fato foi apenas para contextualizar como as coisas estão interligadas em Roraima: um assunto sobre recuperação de estrada na Serra do Tepequém acaba desbocando na corrupção na saúde pública. Por isso mesmo é necessário que se deem respostas sobre o que ocorreu com a obra de recuperação da estrada de Tepequém que nunca foi realizada.
O fato deste atual governo ter decidido realizar a obra não significa que devemos esquecer o que ocorreu no governo passado. Aliás, Denarium se elegeu prometendo fazer uma ampla auditoria no governo. O caso da RR-203 vem bem a calhar para que o cidadão volte a cobrar a promessa do governador de passar o Estado a limpo.
Quem sabe ele comece pela estrada do Tepequém, dando nome aos bois… Já seria um bom começo (ou não há mais interesse desse governo em passar a limpo?!).
*Colunista