Esta coluna já tratou disso, no início do período de quarentena por causa do coronavírus. Mas é necessário retomar o assunto. O foco do momento político não é avaliar o que temos até aqui, mas o que poderemos ter no futuro próximo, principalmente em relação à segurança na saúde pública, o que significa garantia de que estaremos bem e que teremos atendimento para sobreviver a esse e a futuros vírus.
Com relação a Boa Vista e a outros municípios, é possível perceber que nenhum administrador mostrou-se interessado ou preocupado com a estrutura do atendimento básico de saúde, que é o local onde primeiro se enfrenta o coronavírus a fim de impedir que a pessoa tenha seu quadro agravado e, por consequência, seja obrigado a buscar um leito no hospital e de lá sair enrolado por uma lona preta.
Em sua maioria, os candidatos a vereador e a prefeito sequer colocam em suas propostas a questão da saúde pública e a estruturação do sistema básico de saúde, o qual ficou comprovado que é primordial para enfrentar não apenas o avanço da pandemia, mas também de outras doenças que evoluem justamente por causa da falta prevenção e do diagnóstico precoce.
Em Boa Vista, a prefeita Teresa Surita (MDB) deixou de investir no atendimento básico, sem estruturar os postos de saúde ao longo de seus 20 anos de mandato, a ponto de se limitar a inaugurar obras iniciadas em administrações anteriores. A questão chegou a um nível tão grave que a prefeita demorou a agir, enquanto os médicos das Unidades Básicas de Saúde (UBS) mandavam os pacientes de volta para casa ou para o Hospital Geral de Roraima (HGR).
Se na Capital, que é uma cidade-Estado e onde se concentra a maior parte dos recursos, a situação estava nesse nível, nos municípios do interior a situação era bem mais crítica, o que empurrou centenas de pacientes em busca de atendimento nos postos de Boa Vista e no HGR, sob responsabilidade do Governo do Estado.
Perdendo o controle propositalmente
Em Boa Vista, a Prefeitura perdeu completamente o controle, não apenas pelo descaso com que a saúde pública foi tratada, mas pelo desleixo proposital com o assunto, pois fiscalizar é uma medida antipática politicamente, principalmente em ano eleitoral, e a prefeita precisava afrouxar a quarentena para poder fazer campanha eleitoral em favor de seu candidato a sucessor e para realizar ações visando suas pretensões eleitorais em fim de mandato.
E assim ocorreu, com a prefeita largando o atendimento básico limitado a oito postos de saúde, do total de 50, destinados a atender pacientes de Covid-19, bem como fechando essas UBS em feriados e fins de semana, como se a doença tivesse data para acometer as pessoas e como se os doentes pudessem esperar. E isso continua até hoje.
A questão avançou e chegou a um nível tão crítico a ponto de as pessoas doentes não conseguirem ser atendidas nos postos de saúde, seja porque cada unidade só atende 50 pessoas por dia, seja porque os médicos saem mais cedo do horário marcado, porque precisam cumprir plantões em outras unidades, ou porque a maioria está fechada depois das 20 horas.
Nesta semana, uma radialista relatou, em um grupo de WhatsApp, seu sofrimento ao enfrentar uma verdadeira odisseia ao implorar atendimento nos postos municipais de saúde, sendo submetida a omissão de socorro, insensibilidade e completa desinformação ao passar pelas UBS. Ela está viva somente pela graça de Deus.
O caos definitivamente se instalou na Capital, já que o HGR está colapsado e os postos de saúde seguem da mesma forma desde o início: despreparados no atendimento primário no combate à Covid-19, com poucos profissionais e reduzido número de postos para atender pessoas com sintomas do vírus.
Fingindo que está tudo bem
É aqui que está o grande problema desta campanha eleitoral, pois a prefeita e seu candidato fingem que está tudo bem e sequer tratam do tema em suas propostas apresentadas ao eleitor. E são poucos os candidatos que verdadeiramente estão preocupados com a saúde pública, que se tornou a principal questão daqui para frente, uma vez que de praças e jardins Boa Vista já está bem servida.
O eleitor deveria estar muito preocupado com isso, pois está em jogo não apenas o bem-estar dele e de seus familiares, mas especialmente a sua sobrevivência daqui para frente, uma vez que ninguém está livre do vírus e de enfrentar o descaso do setor público quando adoecer, correndo sérios riscos de, a qualquer momento, sucumbir à doença.
E isso significa que, na pior da hipóteses, sequer poder mais desfrutar do que a cidade tem, que a lógica dessa atual política e da campanha eleitoral cheia de promessas de que eles, os políticos, estão preparando uma cidade para a pessoa viver melhor.
Sobrevivência em jogo
Sem saúde, de nada adiantará tudo isso que estão mostrando nas propagandas eleitorais e nas inaugurações de praças e prédios. É aqui que está resumida a essência de toda essa campanha eleitoral. Estão mentindo para todos nós. Trata-se da nossa sobrevivência que está em jogo, mas os políticos fazem questão de omitir e mentir.
Enquanto muitos eleitores não estão ligando para a questão da saúde pública como um caso de sobrevivência, existem políticos que estão metendo a mão nos recursos destinados para o combate ao coronavírus. Essa é outra questão a ser observada prioritariamente pelo eleitor.
Que ao menos ninguém se esqueça do “escândalo da cueca”, em que um dos cabeças da campanha da candidata apoiada pelo governador Antonio Denarium, a deputada federal Shéridan Oliveira (PSDB), está envolvido. Trata-se do caso do senador Chico Rodrigues (DEM), pego com dinheiro em suas roupas íntimas durante operação da Polícia Federal que investiga desvio de recursos destinados para o enfrentamento à Covid-19.
É a nossa vida que está em jogo, mas os políticos não estão nem um pouco interessados por isso. Eles só pensam no voto e nos recursos que enchem os cofres públicos. E o povo seguindo na cegueira…
*Colunista