A prefeita Teresa Surita (MDB) tem se incomodado com as críticas que têm recebido sobre sua prioridade absoluta em relação à construção da nova orla, o Parque Rio Branco. Quando algo a incomoda, ela corre para desabafar na sua bolha virtual, o Twitter. Lá, Teresa se passa como a única grande feitora desta obra, como se fosse uma ideia original dela, e tão somente dela.
Situações como essa são comuns na politicalha, quando os políticos tentam ser os grandes feitores únicos e absolutos, como se tivessem construído tudo e como se fossem a solução para tudo. É o mesmo comportamento do ex-senador Romero Jucá, que tem se fantasiado de senador no seu delírio particular.
Menos, Teresa. Menos… A ideia original da construção de uma orla ali onde era o Beiral, nas margens do Rio Branco, no Centro, foi do ex-governador e ex-prefeito Ottomar de Sousa Pinto, já falecido. Ele chegou até a desapropriar os terrenos do Beiral, descolocando a população para uma área no bairro Cidade Satélite. Mas os planos falharam e os moradores voltaram – e de onde os traficantes nunca saíram (mas essa é outra história).
É importante destacar que ninguém em sã consciência é contra obra qualquer nem seus benefícios futuros. O que o cidadão consciente está criticando é a inversão de prioridade e o pensamento fixo de Teresa com essa obra, enquanto a prioridade absoluta dos administradores públicos de todo mundo é a saúde pública e o bem-estar da população nesse momento de pandemia. Ponto.
Mas Teresa nem Jucá, seu mentor e mestre, são dono original da obra dessa nova orla. Ottomar Pinto tinha um projeto pronto para construir a primeira orla exatamente onde era o Beiral. Mas ele não conseguiu. Então Teresa, quando se elegeu prefeita, se apropriou da ideia. Mas, para parecer uma ideia original, alterou a ideia do projeto de Ottomar para o Porto do Cimento, no Berço Histórico de Boa Vista, responsável pela criação de Boa Vista e, por conseguinte, do Estado de Roraima.
E assim surgiu a Orla Taumanan que matou o Porto do Cimento, sepultando o principal ponto histórico de Roraima. Mal planejada, essa orla se tornou uma aberração, embora os críticos já a chamassem de “zaralho de asa”, por descaracterizar completamente as primeiras instalações da fundação de Boa Vista.
A plataforma baixa da Orla Taumanan alagou no primeiro inverno rigoroso, em 2011, um tremor que indicava ameaça de desabamento foi registrada em 2019 e hoje está interditada para reforço da estrutura depois de passar por uma recente reforma milionária. Isso provou que a obra não só foi mal planejada e executada, como era desnecessária. E Ottomar tinha razão do local onde ela deveria ter sido construída originalmente, exatamente onde era o Beiral.
Teresa omite tudo isso e hoje finge o ineditismo da nova orla, assim como a politicalha é só fingimento. O Porto do Cimento poderia ter sido salvo, o Berço Histórico não teria passado por severa alteração e muita grana teria sido economizada, já que a Orla Taumanan, construída em 2004, teve um custo de R$8 milhões e uma suspeita de desvio de R$2,8 milhões, conforme apontou uma investigação do Ministério Público Federal (MPF).
Além desses prejuízos históricos e financeiros irreparáveis com a “velha orla”, o “zaralho de asa”, o contribuinte boa-vistense vai bancar os custos dessa nova orla, que no final irá custar o milionário valor de R$134,4 milhões, fora os remendos e aditivos que são comuns quando se trata de obras públicas feitas com processos às ocultas.
Que ninguém se engane com o Parque Rio Branco. Ali tem muita grana envolvida por trás desse pensamento fixo de Teresa e Jucá. Enquanto isso, muita gente perdeu a vida durante a pandemia e outras centenas perderam o emprego, fecharam seus pequenos negócios, empobreceram mais ainda, enquanto os postos de saúde não conseguem oferecer um atendimento de qualidade.
O futuro bem próximo vai apontar o que deveria ter sido prioridade nesse momento… Mas já será tarde para muitos…
*Colunista