Depois dos primeiros estranhamentos com a chegada em massa de migrantes venezuelanos, parece que o assunto perdeu o peso da importância nas discussões. Na semana passada, um fato passou sem ganhar o devido destaque: o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) denunciou 19 venezuelanos por uma integrar facção criminosa.
Significa que está acontecendo o que esta coluna vinha afirmando desde o seu começo, que é o risco dos migrantes engrossarem a criminalidade a partir da fragilidade da fronteira e da falta de políticos públicas para encarar todos os problemas advindos do êxodo em massa de venezuelanos na Capital e interior.
A Operação Acolhida empacou na mesmice de suas ações e nem se ouve mais falar em interiorização dos estrangeiros. Muito menos se vê as autoridades locais preocupadas com o grande número de crianças nos semáforos e adolescentes ociosos nos bairros periféricos.
Os 19 estrangeiros que ora foram denunciados pelo PM haviam sido presos em julho passado durante a Operação Triumphus, deflagrada pela Polícia Federal na desarticulação de um grupo criminoso que atuava dentro e fora do sistema prisional de Roraima.
Esses venezuelanos mal acabaram de chegar e já eram integrantes de uma facção criminosa, alguns deles com liderança dentro do bando, entre os quais coordenar “tribunal do crime”, gerenciar pontos de vendas de drogas e fazer a guarda de armas e munições para o grupo criminoso, conforme a denúncia, protocolada no dia 17 pela Promotoria de Justiça Especializada em Crimes Decorrentes de Organização Criminosa.
Não se tratavam de “coitadinhos” que encontraram facilidades no caminho do crime ao chegarem ao Estado. Desse grupo de 19 integrantes, 13 deles chegaram a cumprir pena na Venezuela, dos quais cinco por homicídio e latrocínio (matar para roubar) e os demais por prática de roubos, tráfico de drogas e furtos.
Isso significa uma fronteira de fácil acesso para criminosos, que logo foram arregimentados pelos criminosos brasileiros e que podem facilmente cooptar crianças e adolescentes que por venturam caírem em um futuro bem próximo na marginalidade, o que representa o grande risco da atual realidade nos bairros de Boa Vista.
Conforme consta na informação divulgada pelo MP, com base no depoimento de um dos denunciados, existem 740 venezuelanos na condição de integrantes da facção em Roraima, resultado do “intercâmbio” entre a organização criminosa e outra facção de origem venezuelana, cuja aliança foi construída a partir da fusão de integrantes “batizados” na facção nos anos de 2014 e 2018.
Que ninguém pense que os bandidos andam “catando” integrantes no meio da rua ou nas escuras e desvigiadas esquinas da cidade. O que eles chamam de doutrinação dos integrantes é feita através de conferências por telefone, uma adaptação para o “novo normal” do mundo do crime.
Aí está a radiografia do que chegou por meio da migração em massa desordenada, diante da frágil fronteira e da política de acolhimento controversa, e do que poderá vir pela frente se as autoridades brasileiras não estiverem atentas ao que está ocorrendo nos arredores dos abrigos e nos bairros onde a migração afeta sobremaneira, a exemplo do 13 de Setembro.
Até aqui, não se ouviu dos candidatos para a Câmara de Vereadores e à Prefeitura de Boa Vista nenhuma proposta para encarar a realidade da migração, a exemplo da atual administração municipal que foge do assunto depois de desastrada proposta da prefeita Teresa Surita (MDB) e do ex-senador Romero Jucá (MDB), quando este estava no Senado, de pagar aluguel para os estrangeiros, o que provocou uma corrida maior dos migrantes para a Capital roraimense.
É necessário cobrar dos candidatos que eles assumam uma postura séria diante de uma política de governo que inclua um enfrentamento aos efeitos da migração, ou teremos uma realidade muito pior do que esta que está desenhada na denúncia apresentada pelo MP contra o bando armado de venezuelanos em conluio com os criminosos brasileiros. O problema não é apenas da polícia, mas de um conjunto de ações política de governos.
*Colunista