Foto: Luan Pires
Mangueiras para garimpar no desvio de água na Cachoeira do Funil; na foto acima, cratera ameaça Tilim do Gringo

O Município do Amajari, Norte do Estado, é um dos que mais está sendo afetado pelas severas restrições adotadas pela Prefeitura diante da pandemia do coronavírus.  Ainda que naturalmente os turistas de outros estados já estavam impedidos de chegar a Roraima pelas medidas adotadas  em suas cidades, o comércio e as rotas turísticas foram todas fechadas por decreto municipal na Serra do Tepequém.

Foi uma decisão extrema em um cenário de incerteza diante do avanço da doença e que afetou severamente a comunidade do único ponto turístico consolidado do Estado  e que gera renda no Amajari, garantindo o sustento das famílias daquela comunidade que vive das atividades turísticas. Além disso, há um e outro  pregando o terrorismo entre os próprios moradores, querendo levar algum proveito particular nisso.

O tempo irá colocar tudo no seu devido lugar.  Porém, enquanto há uma medida dura amparada pela quarentena por causa da pandemia, o garimpo predatório avança em Tepequém sem qualquer preocupação e fiscalização por parte das autoridades afins e pelas lideranças.   Sabe-se que a legislação federal permite o garimpo artesanal que pode ser praticado sem causar  impactos ambientais, por meio de extração artesanal, sem uso de máquinas.

Nessas últimas semanas, quando o turismo foi proibido por meio do decreto municipal, garimpeiros aproveitam a ausência de turistas e de qualquer ação fiscalizatória para avançar a exploração predatória em várias partes da serra, em especial em localidades onde ficam alguns pontos turísticos importantes, ameaçando seriamente o meio ambiente e causando danos ao turismo.

Uma das áreas  atingidas em cheio pela ação garimpeira é a do Tilim do Gringo e a Cachoeira do Funil, rota esta com acesso pelo Igarapé Cabo Sobral, onde o garimpo artesanal sempre esteve em atividade, servindo inclusive de atrativo turístico para mostrar aos visitantes  como é feita a exploração manual em um área onde abrigou a maior concentração de garimpeiros nas décadas de 1940 a 1960. Inclusive os pequenos diamantes pegos artesanalmente são vendidos como souvenir, o que garante renda a esses trabalhadores remanescentes do auge do garimpo.

Mas a ação predatória provocou graves impactos entre o Tilim e o Funil, onde imensas áreas foram desbarrancadas para extração de ouro, o que significa outro perigo: o provável uso de mercúrio pelos garimpeiros.

O Tilim do Gringo, um corredor aberto  entre as rochas na década de 1950 para facilitar a garimpagem, é um dos pontos que impressiona o turista pela engenhosidade do canal aberto a base de dinamite. Esse local  o faz conhecer um pouco do garimpo do passado em Tepequém. É lá  onde uma enorme cratera foi aberta criminosamente por garimpeiros de ouro. Se algo não for feito para impedir o avanço da degradação, o garimpo pode ferir de morte um dos atrativos turísticos de Tepequém.

A Cachoeira do Funil, que fica na mesma rota do Tilim do Gringo, também está sendo seriamente ameaçada pela ação predatória. Lá está sendo usado maquinário, o que pode ser observado com farto material de prospecção, como imensas mangueiras usadas para garimpar.  Além da agressão ambiental e da poluição visual, tem a poluição da água, que se apresenta turva, visivelmente barrenta.

Algo precisa ser feito de maneira urgente. O coronavírus é um sério problema do momento, mas aqueles que ficam pregando o terror com a comunidade deveriam ser os primeiros a tomar providências. A pandemia vai passar, os problemas econômicos precisarão ser solucionados, mas é necessário preocupação com o turismo e o meio ambiente, os quais são os principais patrimônios da Serra do Tepequém e que mantêm economicamente aquela região.

Pelo que se apresenta, nem a Prefeitura do Amajari nem o Governo do Estado têm preocupação em desenvolver o turismo em Tepequém, talvez porque não dá para fazer esquemas e desvios, como estão acostumados. Para se ter uma ideia, a única visão de turismo do governo é o Monte Roraima, que fica na Venezuela.  E a propaganda feita para o Sul e Sudeste brasileiro ainda utiliza a imagem do Kukenán, não se sabe se por ignorância ou por deboche mesmo. Enquanto isso, a Serra do Tepequém sofre as duras consequências do desprezo governamental.

*Colunista

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