Roraimenses que moram no exterior relataram ao Roraima 1 como tem sido a rotina deles em tempos de pandemia de coronavírus. Já ambientados na Alemanha, Argentina, Estados Unidos e Suíça, eles contaram à reportagem quais são as “armas” usadas para se manterem durante a quarentena e descrevem ações tomadas pelas autoridades dos países onde moram para conter a disseminação da covid-19.
O empresário e lutador de MMA internacional Naldo Silva, de 33 anos, mora em Las Vegas, no Estado de Nevada, nos Estados Unidos, há quatro anos. Quando conversou com a reportagem, ele estava em Utah, no oeste americano, visitando os filhos, e conta que estão todos isolados.
“Só vamos ao mercado praticamente uma vez por dia para comprar comida. E não vai todo mundo, apenas uma pessoa da família. Ela compra os mantimentos, mas tem de ir bem cedo, pois acaba rápida, embora o estoque seja reposto todos os dias. Se for à tarde, não encontra muita coisa”, conta.
Até esta segunda-feira (6), havia mais de 347 mil infectados por coronavírus nos Estados Unidos e mais de 10 mil mortos. O país se tornou o epicentro da doença.
“Se a gente ama nossos entes queridos, vamos ficar em casa. É uma forma de se precaver e proteger quem amamos. Vejo muitas pessoas brincando, mas a coisa é séria. Peço a todos, inclusive, a meus familiares em Roraima, que tomem os cuidados necessários, não saiam de casa. Vamos ter consciência”, recomenda Naldo Silva.
Falta de equipamentos
Carlos Zani tem 41 anos e vive há 15 nos Estados Unidos, em Connecticut. Trabalhando para uma empresa de limusines e carros executivos. Morando com uma brasileira de 61 anos, eles evitam o contato entre si por ela pertencer ao grupo de risco.
“Existe um protocolo. Não podemos chegar muito perto uns dos outros”, informa. Escolas e faculdades foram fechadas por tempo indeterminado. “O ano letivo está sendo realizado via computador, com aulas on-line”, acrescenta.
Assim como no Brasil, a procura por equipamentos de proteção e produtos de higiene nos Estados Unidos também é uma preocupação das autoridades americanas, conforme Carlos Zani.
“O que mais assusta é ver a falta de equipamento de proteção para as pessoas da linha de frente, máscaras, luvas e roupão. Essas pessoas estão arriscando a vida para salvar outras e tendo que reutilizar máscaras ou sacos plásticos de lixo por cima para poderem sobreviver”, relata.
Mantendo a rotina
Julie Martins nasceu e foi criada a maior parte da vida em Roraima. Atualmente, mora em Colônia, a quarta maior cidade da Alemanha, onde está há oito anos e trabalha como gerente de produtos. Ela destaca que, inicialmente, as pessoas não foram proibidas de sair de casa, mas bares, shoppings, clubes e restaurantes foram fechados, sendo autorizado apenas o delivery. Trabalhadores mandados para casa têm recebido uma ajuda do governo.
“Há pouco mais de dez dias, as empresas começaram a liberar os funcionários para trabalharem em casa. Quem não pode, recebe ajuda do governo, como um amigo que é cozinheiro e está recebendo 60% do salário. Outros profissionais que não têm tanta flexibilidade, caso não tenha outro jeito, ainda trabalham, mas todos procuram revezar os horários e evitar contato entre eles”, explicou.
Os estabelecimentos que continuaram funcionando, a exemplo de farmácias e supermercados, adotaram o controle do fluxo de pessoas e colocaram à disposição dos funcionários, especialmente dos caixas, uma proteção para evitar contato com os clientes e sinais no chão para que mantenham a distância de pelo menos um metro e meio entre eles.
Entre os países europeus, a Alemanha é o que tem uma das menores taxas de letalidade e foi citada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como exemplo de nação que conseguiu realizar muitos diagnósticos da doença. São pelo menos 500 mil por semana.
“Aqui tem uma hotline [linha de emergência] para que as pessoas possam ligar, caso apresentem algum sintoma ou tenham contato com infectados. Elas recebem instruções por telefone sobre como fazer o exame. E, em geral, a Alemanha tem feito muitos exames”, afirma Julie.
Segundo a OMS, o país ultrapassou a marca das mil mortes no fim de semana e tem quase cem mil casos confirmados de coronavírus. A Alemanha estuda reduzir a quarentena em 19 de abril, com um retorno gradual às atividades e uso obrigatório de máscaras em locais públicos.
Na linha de frente
Heloísa Marques nasceu em Boa Vista e mora há 34 anos na Suíça. Trabalhando como auxiliar de enfermagem, ela está na linha de frente de combate ao coronavírus, como outros profissionais da área de saúde.
“A gente convive todos os dias com as notícias, a realidade e as informações dadas pelo governo, sobre quais medidas devemos adotar. Usamos luvas, máscaras, aventais de plástico, descartáveis, que são trocados toda hora em que necessitamos entrar num quarto. Tudo é trocado o tempo todo”, destaca.
Outra medida adotada pela Suíça, em tempos de pandemia, foi a abertura de crédito para microempresários. A técnica de enfermagem destaca que o sistema de saúde da Suíça é eficiente, mas faz uma observação.
“O governo está pedindo a solidariedade de médicos, técnicos de enfermagem, enfermeiros para que ajudem, pois já há profissionais que estão doentes e não podem mais trabalhar. Eu temo por isso, pois creio que vão faltar [profissionais], embora digam que não devemos nos preocupar, pois ainda temos muitos leitos de UTI disponíveis. Mas, vai chegar o momento em que a mão de obra vai ser pouca”, avalia.
Na Suíça, são quase 20,5 mil infectados e cerca de 670 mortes.
Hermanos
Guilherme Borges Rodrigues, de 20 anos, também nasceu em Roraima e, desde janeiro deste ano, mora com o pai em Rosário, na Província de Santa Fé, Argentina, onde estuda medicina. Ele relata que a quarentena no país vizinho em virtude da pandemia de coronavírus está bem controlada.
“As pessoas estão respeitando bastante. As ruas estão vazias. De vez em quando, passa alguém com sacolas nas mãos. A minha rotina ainda meio ‘parada’, mas o bom é que tenho bastante conteúdo para estudar, o que dá para ocupar o tempo”, afirma.
A polícia faz rondas pelas ruas da Argentina para evitar aglomerações. O transporte público, segundo o estudante, ainda funciona normalmente, mas os passageiros têm de manter distância de 1,5 metro uns dos outros.
“O medo gera respeito, e as pessoas estão respeitando bastante. Ainda mais que a Argentina tem um alto número de idosos”, acrescenta.
De acordo com a OMS, na Argentina são quase 1,5 mil casos confirmados e 42 mortes. Guilherme conta que pelo menos 248 pessoas haviam se recuperado até a semana passada.
Alto número de idosos
Nádia Soares não é roraimense, mas morou em terras Macuxi de 2014 a 2017, antes de se mudar para Portugal. Mas a mineira ainda mantém laços estreitos com Roraima, onde deixou uma irmã e amigos.
“As medidas de segurança aqui foram tomadas desde o meio do mês passado, quando o governo decidiu que tudo deveria ser fechado. Empresas, fábricas, a exemplo da Volkswagen, e todas as pequenas e grandes que tinham aglomeração de pessoas”, informa.
Nádia trabalha como motorista de Uber em Lisboa e vê as ruas, antes lotadas de moradores e turistas, completamente desertas. Ela acrescenta que todos estão com medo, pois Portugal é um país pequeno com um grande número de idosos.
Até este fim de semana, Portugal tinha pouco mais de 11,2 mil casos confirmados e o número de mortos estava em 295. Segundo a ministra da Saúde portuguesa, o pico da epidemia de covid-19 no país deve ocorrer “por volta de 14 de abril”.
Quadro atual
A pandemia já matou quase 70 mil pessoas em todo o mundo e mais de 1,2 milhão foram infectadas desde dezembro do ano passado, segundo dados da Agência France Presse (AFP) divulgados na noite desse domingo (5) com base em fontes oficiais dos vários países afetados.
Porém, segundo a AFP, o número de casos diagnosticados reflete atualmente apenas uma fração do total real de infecções, já que um grande número de países testa apenas os casos que requerem atendimento hospitalar.
Entre os diagnosticados, até esse fim de semana, pelo menos 238.800 são considerados curados pelas autoridades de saúde.