Enquanto políticos disputam quem manda na saúde indígena em Roraima, populações indígenas ficam numa ultrajante situação de vulnerabilidade, literalmente jogados nas sarjetas de Boa Vista e Mucajaí. Com a crise migratória, os indígenas maltrapilhos andando em grupos com mulheres, crianças e idosos, pedindo comida, roupa e dinheiro ficaram “invisíveis” aos olhos das autoridades.
Cenas de grupos inteiros de indígenas embriagados em praça pública ou nas calçadas estão se tornando cada vez mais frequentes, sem que se veja uma manifestação por parte da Fundação Nacional do Índio (Funai), das entidades que defendem os direitos dessas populações, muito menos do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), já que o alcoolismo é considerada uma doença pela Organização Mundial de Saúde.
Os grupos de WhatsApp têm compartilhado cenas lamentáveis de grupos de indígenas completamente embriagados e jogados ao relento. A mais recente foi na praça do bairro Cidade Satélite, onde todo o grupo aparece em fotos e vídeos dormindo ao lado de garrafas vazias de cachaça. Apesar da repercussão nos grupos, nenhuma autoridade ou entidade se pronunciou.
No mês passado, um casal acompanhado de uma criança, também alcoolizados, brigavam no estacionamento de um posto de combustível na saída para o Município de Mucajaí, cidade onde também há cenas corriqueiras de índios perambulando embriagados. Por lá, crianças vão para frente do comércio pedir dinheiro.
A situação tornou-se tão séria que constantemente os índios brigam entre si ou se tornam agressivos com populares em via pública ou na frente dos comércios. Denúncias são feitas pela imprensa, mas nenhuma providência concreta é tomada a fim de impedir a migração dessas famílias ou retirá-las da situação de vulnerabilidade.
A ação do garimpo ilegal nas áreas indígenas tem contribuído para piorar a situação, uma vez que o alcoolismo passa a fazer parte da vida de várias comunidades, deixando esses índios dependentes da ajuda dos garimpeiros ou mesmo se submetendo a trabalhos precários para manter o vício ou se alimentar, já que esses povos perdem completamente sua identidade cultural.
Como o presidente Jair Bolsonaro tem se mostrado um árduo defensor do garimpo, sem tomar atitudes para impedir o avanço da garimpagem ilegal, não há como frear a sanha em busca do minério em territórios indígenas. De outra parte, ninguém se mobiliza para proteger os índios que migram de suas aldeias para a cidade, seja em busca de comida ou por causa do alcoolismo.
A política governamental está toda voltada para a crise migratória venezuelana, enquanto políticos locais disputam silenciosamente o poder para colocar as mãos nas montanhas de recursos federais destinados para a saúde indígena, além dos cargos estratégicos na Fundação Nacional de Saúde (FNS) e Funai.
E as cenas de índios bêbados, famélicos e maltrapilhos se repetem cercadas pela invisibilidade social em via pública. Alguém precisa tomar uma providência. Roraima já tem problemas demais, então é necessário que se evite mais esse antes que se torne uma migração em massa de índios fugindo de suas aldeias.
*Colunista