Veio do Equador o exemplo. Mas quem liga para isso? No Brasil, retiraram direitos trabalhistas conquistados historicamente sob lágrimas e sangues, mas ficou por isso mesmo. Aumentaram o preço da gasolina a níveis insuportáveis sob o silêncio geral. E agora tentam mais um golpe na aposentadoria do pobre trabalhador, com o povo ruminando de cabeça baixa rumo ao matadouro.
O esculacho continua na falta de política ambiental, na tentativa de sufocar direitos indígenas e com palavras de incentivo ao garimpo ilegal, cortes na Educação, ataques à liberdade de imprensa, o fortalecimento de milícias nas barbas governamentais, avanço do crime organizado… E ninguém diz nada. Até dizem, mas somente nas redes sociais, onde há um campo de batalha virtual que só provoca barulho dentro de suas bolhas.
No Equador, não. Depois de 12 dias de protestos, liderados pelos indígenas, o governo teve que recuar e revogou o pacto de ajustes econômicos ditados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) que atolava mais ainda os pobres, além de aumentar o preço da gasolina, depois de conceder um empréstimo de 4,2 bilhões de dólares.
Após a onda de protesto que colocou as autoridades equatorianas em xeque e obrigou o governo a decretar estado de exceção, com a militarização e o toque de recolher, o governo decidiu entrar em acordo com as comunidades indígenas ao substituir o decreto que esfolava os mais pobres por um novo que será construído por entendimento com a sociedade e que privilegie os mais necessitados.
Antes de selar a paz, o governo já havia proposto um bônus de 20 dólares mensais a cada trabalhador que seria subsidiado pelas empresas privadas, como forma de esfriar os protestos, ao mesmo tempo que mudou a sede do governo para fugir da batalha que se travava nas ruas da Capital. Não deu certo e a saída foi aceitar o acordo.
No Brasil, o governo faz o que quer, tripudia e não mostra um rumo para dar soluções aos graves problemas que se acumulam. Mas a população parece apática, assistindo agora a família Bolsonaro trocar insultos com as lideranças do PSL, o partido que o acolheu, com revelações preocupantes. E ninguém faz nada.
É como se fosse aquela música de Chico Buarque: “Não existe pecado do lado de baixo do equador”. Nem panelaço nem qualquer outro movimento que mostre a indignação de quem está sendo esmagado no arrocho diário com o preço da gasolina que penaliza toda a população.
*Colunista