O governador Antonio Denarium (PSL) sabe que se elegeu em uma onda de renovação que o colocou no poder por ser um não político, obviamente guindado pelo fato de ser do mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro (PSL), um fenômeno eleitoral que tem perdido popularidade por não corresponder aos anseios de quem acreditava na “nova política” pregada por ele.
No caso de Bosonaro, os analistas políticos já especulam que ele chegue ao fim de seu primeiro ano de mandato com índice de mais de 50% reprovação do seu governo. Em Roraima, onde alcançou alto índice de votação, a população já percebeu que o presidente não tem o menor interesse em socorrer o Estado diante dos estragos provocados pelo êxodo venezuelano.
A retórica de governo Bolsonaro é a mesma que se ouvia há anos de políticos, como a questão da demarcação indígena, a de enaltecer as riquezas minerais no subsolo de Roraima, a do interesse internacional pelas riquezas e a da paranoia da internacionalização a partir das terras indígenas. É o que se ouve até hoje, por aqui, como se fosse uma cantiga sem fim. Mas, de concreto, apenas a imobilidade de quem se apoia apenas em discursos.
Por sua vez, o governador Denarium acha que mantém a mesma popularidade e o apoio de quem se elegeu com ajuda de seu grupo empresarial. Pensa que o povo vai ficar engolindo o discurso de prioridade ao agronegócio como política absoluta de fazer “uma nova matriz econômica”. A distância do mundo real do que ele imagina pode ser vista no perfil de seu Facebook, onde nos últimos dias só há postagem sobre o agronegócio e sua família.
A soberba de achar que está no caminho certo já começa a afetar os seus atos, a ponto de não admitir a menor ponta de crítica por setores da imprensa, imaginando que todos devem render homenagens a sua aposta no agronegócio como prioridade. Seu ato de não admitir crítica tem sido seguido até por subordinados, inclusive existe registro de um repórter cinematográfico que teve seu equipamento apreendido em uma delegacia, algo que não se via mais por aqui há muito tempo, desde a transição da ditadura para a democracia, na década de 1980.
Enquanto o mundo maravilho do agronegócio povoa a mente de Denarium, os problemas crônicos seguem no governo. Os dados do 13o Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelaram o que já sabíamos por meio dos seguidos casos de mortes com jovens degolados na periferia da Capital: o Estado de Roraima é campeão em assassinatos no país, proporcionalmente. E isso não comove nem tira o sossego do governo.
Na saúde, no mesmo momento em que o governador fica postando fotos de sua família, ele deixa as famílias no caos da maternidade pública, onde população e servidores vivem o drama diário do Deus-nos-acuda. Como ele e a maioria das autoridades não mandam suas esposas para ter filhos naquela maternidade, não há qualquer sentimento de urgência para com aquele escandaloso problema.
Em outra ponta, na agricultura, enquanto ele brinda os grandes produtores com todos os paparicos e investimentos, as famílias de pequenos produtores rurais sofrem as duras consequências da falta de investimento e de estrutura nas estradas e pontes caindo aos pedaços no interior do Estado.
Só para dar um exemplo, a Vicinal 03 na região de Serra Dourada, entre os municípios de São Luiz do Anauá e Caracaraí, no Sul do Estado, tomada por atoleiros, agora está interditada devido a pontes que já eram improvisadas pelos produtores e que desabaram de tão precárias que eram. A título de informação, essa estrada dá acesso a outras vicinais (02, 04, 05, 06, 07 e Bem-Querer), mas é negligenciada tanto pelo governo quanto pelas prefeituras da região.
E assim poderíamos alongar sofrivelmente esse artigo apontando os graves problemas que afligem a população, no mesmo momento em que o governo local fantasia um Estado que só existe nos institucionais. Enquanto isso, o êxodo em massa de venezuelanos só complica o que já vinha ruim, sem atenção por parte do governo Bolsonaro e com a imobilidade do governo Denarium, que não consegue enxergar além do seu grupo empresarial e de seus negócios particulares e familiares.
Os deputados estaduais estão constantemente chamando a atenção para os graves problemas, na segurança, na educação e na saúde, onde há inclusive a atuação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Na sessão de ontem da Assembleia Legislativa, começou a surgir o escândalo do grupo empresarial que apoia esse governo. Falou-se até em CPI da Sonegação, algo que faz arrepiar muita gente, assunto este omitido solenemente por parte da imprensa.
O que o povo almeja é que tudo isso seja passado a limpo para que o Estado possa começar a entrar nos eixos, já que esse governo – que se elegeu falando que “dinheiro existia e o que faltava era gestão” e que prometeu acabar com a corrupção e com os desmandos – esqueceu de cumprir com seus deveres. Só assim para o Estado tomar um novo rumo; ou só quem vai sair beneficiado serão os grandes produtores e os familiares de quem está no poder, enquanto a população só definha.
E esse filme não só assistimos como participamos dele no passado bem recente…