A manifestação de sábado feita pelos moradores do Município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, Norte do Estado, serviu como mais um grito de socorro sobre a deterioração daquela cidade por causa da desordem provocada pela imigração venezuelana. O alerta vem sendo dado há muito tempo, mas as autoridades só fingem que estão ouvindo e nada fazem.
Como já escrevi aqui, neste mesmo espaço, o governo Jair Bolsonaro não se mostra interessado em equacionar este sério problema, que é de interesse da manutenção da autoridade do Estado na fronteira com um país vizinho em farrapos. Os elogios que o presidente tem feito a Roraima é mais de um garimpeiro que só tem olhos para a riqueza do minérios do que para um presidente preocupado em desenvolver uma região estratégica.
A propósito, o comportamento de Bolsonaro é de uma pessoa que ainda não se descobriu presidente de um país importante na América Latina. Quando ele se refere a Roraima, diz sempre: “Se eu fosse Rei de Roraima…” É como se nosso Estado não pertence à Federação e ele desejasse ser um déspota do Estado para se apropriar somente das riquezas do subsolo. Bolsonaro tem a mentalidade de garimpeiro, atividade que ele já desempenhou nos anos 1980.
A manifestação em Pacaraima só reforça o quão distante o Governo Federal está dos anseios de quem sofre as duras consequências do que Bolsonaro chama de “comunismo venezuelano”. Ele já disse inclusive que se o governo de esquerda se confirmar, na Argentina, o Rio Grande do Sul pode se transformar em um novo Roraima, ou seja, irá ser invadido por argentinos em fuga.
São palavras que revelam que o presidente sabe muito bem do que se passa no extremo Norte, mas nada faz porque seu governo mostra-se inerte e incompetente para assumir suas responsabilidades. Da bancada federal, só ações midiáticas. Até o senador Chico Rodrigues, que nomeou um sobrinho de Bolsonaro em seu gabinete, finge que o problema não é com ele. A nomeação serve apenas como interesse da família do presidente. E só.
A realidade que Pacaraima enfrenta pode ser resumida em um vídeo divulgado por uma moradora de lá, durante os protestos de sábado, que viralizou nas redes sociais. Nada do que não já sabemos e do que Bolsonaro tenha conhecimento. O quadro que se tem é insustentável e pode gerar graves situações para brasileiros e venezuelanos, mais do que as mazelas já provocam por lá em um cenário de terra sem lei, apesar do duro esforço das autoridades locais e das polícias com apoio do Exército.
Situação semelhante é a de Boa Vista, que abriga a maior parte dos venezuelanos que fogem de seu país. A Operação Acolhida chegou ao seu limite e a interiorização ocorre numa lentidão incapaz de amenizar o impacto da imigração que só aumenta a cada dia. A onda de violência só aumenta e não será surpresa se surgirem grupos de extermínio como consequência de tudo isso.
O momento é crítico para Roraima. Não dá mais para assistir o presidente com discurso de garimpeiro enquanto o Estado, mal conduzido pelas autoridades locais, definha. O momento de agir é agora, antes que entremos numa fase de ilegalidade que já vivemos no passado, quando forças fora da lei passaram a agir no vazio deixado pelo poder público. Os rumores indicam um movimento estranho por enquanto silencioso.
*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br