As universidades públicas brasileiras se fecharam tanto em seu mundo acadêmico que permitiram chegar a esse ponto de serem achincalhadas e descredibilizadas pela idiotização implantada no país, pelo grupo que está no poder, disfarçada de “desideologização” do ensino público. A opinião pública desconhece o que vem sendo produzido de bom nos campi universitários e está criminosamente induzida a acreditar que por lá só existem “maconheiros” e “esquerdopatas”.

E o pior de tudo é que passou a surgir uma canibalização interna, dos que acham que o idiota é somente aqueles declaradamente de esquerda ou dos que participam de movimentos sociais e sindicais. A idiotização em curso atinge a todos, independe de quem seja de direita, de esquerda, de centro ou seja lá qual for a posição ideológica ou sexual (sem trocadilho, por favor).

O curso de Jornalismo tem grande parcela de culpa nisso, pois enquanto está formando novos profissionais que vão atuar no mercado, deveria usar como laboratório os próprios conhecimentos que estão sendo produzidos nos campi como matéria-prima de suas matérias, agindo como legítima porta-voz da entidade e ponte com a sociedade ao redor. Antes da internet e das redes sociais, a desculpa era porque não havia recursos orçamentários suficientes para montar jornais laboratórios, sempre absurdamente caros.

Hoje a imprensa tradicional passa por uma grande transformação e, para produzir conteúdos jornalísticos, basta ter um celular com internet. As redes sociais, web rádios e blogs são instrumentos gratuitos para se fazer jornalismo, mas parece que muitos não estão interessados em sair da letargia material e intelectual. Aliás, os novos profissionais de comunicação terão que aprender a ser multimídia obrigatoriamente, ensinamento este que está passando longe dos acadêmicos de jornalismo.

A garotada está passando ao largo dessa grande transformação em curso, como se todos ainda estivessem no mundo analógico. Enquanto o governo instalou o patrulhamento para caçar “comunista” e “esquerdopatas”, alguns dentro das universidades estão caçando “xenófobos” a qualquer matéria que sai nos jornais, como se isso fosse a grande questão prioritária e como se patrulhar jornais e jornalistas fosse a missão maior.

O mundo está fervilhando, passando por intensas transformações, mas o mundo acadêmico se trancou dentro de seu muro, deixando a sociedade pensar que lá só tem indolentes e intelectuais de meia pataca, trogloditas que vão para os corredores fumar maconha. Isso é terrível para o futuro da educação e do próprio país, que está sendo idiotizado para acreditar que as universidades públicas devem acabar, o que significa um passo para a privatização.

Se o mundo acadêmico e a sociedade de uma forma geral não reagirem imediatamente, essa política da idiotização geral da nação vai vencer. Os imbecis agora estão armados com redes sociais e fazem barulho em qualquer grupo de WhatsApp. E as universidades públicas estão no silêncio absurdo e inacreditável, como se fossem formadas por seres especiais que não devem satisfação nenhuma à opinião pública. Ou reagem agora, para ontem, ou vão ter que falar para o último que sair apagar a luz (se ainda não tiverem cortado o fornecimento).

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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