A chacina em um bairro periférico de Belém (PA), no fim de semana, embora pareça que seja um problema da população daquele Estado, torna-se um alerta para a violência que se estabeleceu no país a partir da disputa de facções do crime organizado. Em Roraima, como sabemos, duas facções disputam o poder há um certo tempo, cujo recrudescimento foi a chacina na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), em janeiro de 2017, quando 33 presos foram brutalmente executados.

Depois desse episódio, as mortes violentas que ocorrem com maior frequência na Capital vêm revelando essa disputa sanguinária cujo comando parte de dentro do sistema prisional, que até aqui tem sido controlado na base do jogo duro, um tratamento rigoroso dentro de um sistema caindo aos pedaços. O caso mais recente foi o da execução de cinco jovens no início do mês, no bairro Nova Cidade, zona Oeste da cidade, setor da cidade tomada pelo tráfico.

Pelo que a imprensa divulgou, a carnificina ocorreu porque uma das jovens executadas foi acusada de ter envolvimento com um rapaz de outra facção criminosa. Porém, a maior parte das execuções com decapitação e corpos desovados em áreas inabitadas são pela disputa pelo tráfico de droga entre grupos rivais – assim como se suspeita de ser esta a motivação da chacina paraense.

O curioso nesses crimes, em Roraima, é que as carnificinas alarmam a sociedade, que se manifesta por meio das redes sociais, mas não o suficiente para mexer com as autoridades, pois até aqui as polícias mostram-se com contingente defasado e sem estrutura para trabalhar, faltando até mesmo gasolina para o policiamento ostensivo. É como se a polícia e o Estado dissessem: “Deixem eles se matarem, enquanto não temos condições de enfrentar o crime organizado”.

O grande problema é que, enquanto tenta segurar a “panela de pressão” dos presídios, por meio da força, o Estado permite que o crime se organize ainda mais dentro e fora dos presídios. Como nem se ouve mais falar em inaugurar o novo presídio de Rorainópolis, no Sul do Estado, e o sistema vive de remendos na Pamc, não se sabe até quando o governo vai segurar essa pressão para conter fugas, rebeliões e outros crimes e mazelas dentro dos presídios.

Enquanto o governo estiver “colando com cuspe” o sistema prisional e não adota uma política de verdade para enfrentar a crescente criminalidade, a tendência é a repetição da violência cada vez mais sanguinária pelo poder e pelas drogas. Sem organização por parte das autoridades para melhorar o sistema prisional e adotar outras ações, inclusive voltadas para impedir a entrada de adolescentes no crime, iremos alcançar uma onda de violência da qual ninguém estará mais livre, inclusive os agentes das forças policiais. O tempo dirá.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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