Início Jessé Souza Fronteira aberta e o grito de socorro

Fronteira aberta e o grito de socorro

jesseroraima@hotmail.com

Foto: arquivo

O reflexo da reabertura da fronteira pela Venezuela já era visível no primeiro dia após o desbloqueio. Em frente a Rodoviária Internacional de Boa Vista, onde há tendas de um ponto de acolhimento, o número de venezuelanos recém-chegados aumentou visivelmente. Nas ruas da cidade, surgiram várias famílias de imigrantes perambulando em busca de um local, com suas bagagens nas mãos e costas.

Enquanto na fronteira, no Município de Pacaraima, Norte do Estado, o comércio voltou a fluir, com os estrangeiros em busca de comida e outros gêneros de primeira necessidade, o novo movimento em massa de venezuelanos para a Capital só aumenta a preocupação com o quadro que já era desolador. Teremos mais gente em situação de rua, incluindo crianças e adolescentes, além da criminalidade diante da possibilidade de chegar de gente de má índole.

Os presídios abrigam um considerável número de presos estrangeiros, bem como o movimento de pessoas detidas nas delegacias, encaminhadas para audiência de custódia sob acusação de crimes ou delitos, já representa cerca de 30% dos suspeitos, conforme estimativas de agentes que lidam direto com esse serviço. A imigração desordenada sufoca os hospitais e aumenta a demanda de vagas nas escolas públicas municipais e estaduais.

Pelo quadro que temos observado em Roraima, estamos afundando nesse pântano sem enxergar uma solução além da Operação Acolhida, feita por algumas entidades com apoio do Exército, envio para outros estados de alguns venezuelanos selecionados por suas habilidades profissionais e a solidariedade de muitos roraimenses (misturado com a esperteza de conseguir mão de obra barata ou apenas pela comida).

Do Governo Federal espera-se muito desde o encrudescimento da crise, mas sem que o grito de socorro tenha sido atendido até aqui, a não ser visitas de ministros, vinda de comitiva de parlamentares acompanhados do filho do presidente e promessas verbalizadas na grande imprensa pelo próprio presidente Bolsonaro (PSL), inclusive alimentando Roraima como um El Dorado, algo que nem é novo, mas celebrado com euforia por quem ainda não caiu na real.

Difícil acreditar que o governo Bolsonaro esteja preocupado com Roraima, pois ele se vê envolto em escaramuças entre os seus aliados, provocadas por um guru de araque, ou atribulado na trincheira que ele mesmo armou ao posar como um mito que iria trazer uma nova política e novos tempos para o Brasil, mas que tem sido atropelado na medida em que segue ensandecido em combater “comunismo”, “marxismo” e “socialismo” que ele e seus seguidores enxergam em qualquer coisa.

Enquanto até mesmo no exterior o Brasil vem sendo motivo de chacotas e perdendo o respeito, o governo não dá a mínima para Roraima, como historicamente tem ocorrido. Nossa bancada no Congresso parece que caminha com sono, como se o problema não fosse com os nobres pares (lembrando que um dos senadores empregou um parente da família Bolsonaro, em seu gabinete, para receber um super salário).

Empenhado em aprovar a reforma da Previdência, inclusive cedendo à antiga politicalha da distribuição de cargos, eufórico em armar o cidadão para transferir ao povo a responsabilidade pela segurança pública e empenhado em cortar recursos para Educação, por enxergar nas universidades um antro de “comunistas”, não há espaço para se preocupar com a grave situação de Roraima. Somos apenas uma promessa longe de governantes e um jargão de riqueza enterrada no subsolo de terras indígenas. Salve-se quem puder!

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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