Os fatos vão passando e, pela velocidade com que as informações são produzidas e o grande volume de postagens nas redes sociais, as pessoas vão perdendo a memória diante desse turbilhão que se passa na internet e nos veículos de comunicação tradicionais. Senão, vejamos.
Não faz muito tempo, enquanto o país fervilhava com as discussões sobre a reforma da Previdência, que vai mexer profundamente com a vida de todos os brasileiros, muitos estavam ocupados em debater se houve ou não corneagem entre atores globais da telenovela das 21h, fervorosamente acompanhando os lances sobre quem era inocente ou culpado ou quem decidiu de seguir quem no Instagram.
Logo em seguida, quando deixou de ser interessante a fofocada entre globais famosos, em terra Macuxi surgiu o “escândalos dos prints”, que teve como pivô uma estudante adolescente até então desconhecida, dando início a um abrasado debate sobre quem estava na lista e dos que se posicionaram contra e a favor da garota, a qual, pelo visto, tinha mesmo uma grande lista de contatos que incluía autoridades de todos os tipos e gostos.
É assim a realidade brasileira, movida por fofocas, tragédias e factóides. Em seguida, o ataque a uma escola numa cidade paulista, acabou por desviar todos os focos de fofocas e ocultou o menu de qualquer escândalo em Brasília, tanto na política quanto nos programas vespertinos de besteirol da TV. Enquanto tudo isso ocorria, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, não se fartava de promover polêmicas em seu Twitter, longe de suas atribuições ao importante cargo .
Surpreendentemente, temos um vice-presidente, general Hamilton Mourão, que tem se mostrado centrado tanto em suas decisões quanto em suas falas, sempre buscando manter o equilíbrio entre as instituições, se posicionando em favor da democracia, defendendo a liberdade de imprensa, a pluralidade e os interesses nacionais longe do extremismo e do ufanismo da família Bolsonaro com seu guru da tragédia (sim, o país é dirigido agora por orientações de um guru).
Mas o mal do Brasil não é necessariamente só o político. O mal também é o brasileiro mesmo, que se habituou a entrar em delírios coletivos por qualquer motivo, principalmente quando se tratar em cultuar ídolos, inclusive na política, tanto de direita quanto de esquerda. Cultua-se ídolos da TV, da política, do mundo do crime e até mesmo de videogames violentos.
O culto a Bolsonaro, por exemplo, não está sendo muito diferente ao culto a Lula. A idolatria torna o brasileiro refém de qualquer extremismo, factoide ou besteirol que surge nas redes sociais ou nos canais da TV aberto. Por meio da idolatria, há uma corja de pastores neopentecostais que ficam milionários comercializando a fé de seus fiéis e desvirtuando o que prega a Bíblia.
E assim vamos construindo uma realidade perigosa no Brasil, com um claro desmonte na Educação, enquanto o brasileiro se alimenta de ídolos, de besteirol, fofocas e fake news que domina a política. Se não abrirmos o olho a tempo, estaremos entrando em um retrocesso sem precedentes, do qual não conseguiremos sair dele tão fácil. Os sinais estão óbvios, só não enxerga quem está predisposto a seguir ruminando de cabeça baixa para o matadouro.
*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br