Foto: Sopone Nawoot/Getty Images

A doença que até meados dos anos 40 não tinha cura e levava pacientes ao isolamento, hoje é prevenível, tratada e curável. Mas, ao contrário do que se imaginava no século passado — que seria eliminada no século XXI —, a tuberculose ainda circula no Brasil e no mundo — e segue fazendo vítimas. A eliminação como problema de saúde pública é uma das metas do Programa Brasil Saudável, que reúne 14 ministérios para a eliminar — como problema de saúde pública — 11 doenças e 5 infecções determinadas socialmente.

Roraima é um dos estado com maior incidência da tuberculose no país: são 85,7 casos por 100 mil habitantes, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Quase três vezes maior que a média nacional, que é de 37 casos/100 mil. No estado, o boletim aponta ainda que foram confirmadas 482 novos casos da doença em 2023, e 18 mortes pela doença em 2022. O que para a médica infectologista de referência de tuberculose da Secretaria de Saúde estadual, Nayara Melo dos Santos, tem algumas razões.

“Muitos casos ficaram sem diagnóstico durante a pandemia [da Covid-19]. Então, do ponto de vista de panorama, já era esperado, mas não tão gritante. Aqui, em Roraima, temos uma particularidade muito grande, de ser o estado com uma grande população indígena — que é uma população que está sob risco aumentado — e a população também de imigrantes vindos de países vizinhos, principalmente da Venezuela”.

De acordo com a médica, as condições de moradia, alimentação e falta de acesso aos serviços de saúde favorecem o desenvolvimento da doença nessas populações.

“São pessoas que vêm andando do país vizinho, que não têm acesso à uma alimentação adequada – e toda a questão da desnutrição é fator de risco para o desenvolvimento da tuberculose — são pessoas que chegam, não conseguem vaga em abrigos e ficam em situação de rua. Ou mesmo a questão [da aglomeração] dos abrigos, por reunirem muitas pessoas num só lugar”, completa a gestora.

Tuberculose: contágio e vulnerabilidade

A principal forma de contágio da doença é aérea — quando uma pessoa doente sem tratamento com o bacilo tosse, espirra ou fala. O principal sintoma ainda é a tosse persistente, chamada tosse prolongada, que costuma durar três semanas ou mais. E os determinantes sociais ainda são fatores que perpetuam a existência da tuberculose no país, como explica a coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Ministro da Saúde, Fernanda Dockhorn.

“A tuberculose está ligada muito ao ambiente, onde a pessoa vive, às condições de vida da população. Então, as populações (que vivem) onde há muita pobreza, (onde) têm muitos aglomerados, o ar não circula tão bem e a tuberculose está presente ali. As pessoas em situação de maior vulnerabilidade social, muitas vezes, têm dificuldade de acesso a serviços e (o) diagnóstico (acaba sendo) tardio”.

Tuberculose: Atenção Primária, a porta de entrada para o tratamento

Adelton Abreu de Souza, de 46 anos, é agente de portaria de um shopping em Boa Vista (RR), um local que recebe milhares de pessoas diariamente. Depois de uma sequência de gripe, sinusite e outras síndromes respiratórias, a tuberculose se manifestou. Cansaço, febre e crises de tosse foram os primeiros sintomas. O diagnóstico assustou o agente, que questionou o médico sobre a forma de transmissão.

“‘Doutor, como foi que eu peguei isso?’ Ele falou que, como eu estava com a imunidade baixa — um mês de sinusite e um mês gripado —, a doença se manifestou. ‘Pode ter sido alguém doente, sem tratamento, que passou por você, tossiu e você inalou. Como estava com a imunidade baixa, pode ser que você tenha se infectado e adoecido’”.

O tratamento de Adelton já começou no mesmo dia em que foi diagnosticado. Nos primeiros dias, tomou cuidados em casa, usou máscara para não contaminar os familiares. Em 15 dias, já não transmitia mais a doença. Hoje, curado da tuberculose, ainda sente cansaço e entende a importância de ter seguido à risca o tratamento de seis meses.

Em Roraima e em todo o país, a Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada para o tratamento da tuberculose, como explica Fernanda Dockhorn. “Mesmo em um município pequeno, a Atenção Primária à Saúde deve ser sensível, tem que perceber quando tem suspeita ou não da doença. Todo medicamento é fornecido pelo SUS, de forma gratuita”. A adesão total ao tratamento — com duração de seis meses — é fundamental para que a pessoa fique curada.

Em casos mais graves e de tuberculose resistente aos medicamentos, a unidade de referência no estado é o Hospital Coronel Mota, em Boa Vista.

Tuberculose: atuação do Programa Brasil Saudável nos grupos mais vulneráveis

Criado em fevereiro como um programa de governo, o Brasil Saudável é uma estratégia coordenada pelo Ministério da Saúde com a participação de outros 13 ministérios. Juntos, desenvolvem ações frente às populações e territórios prioritários – tanto para combater a tuberculose quanto para outras 10 doenças e cinco infecções consideradas problemas de saúde pública.

As diretrizes do programa estão voltadas para o enfrentamento à fome e à pobreza, a promoção da proteção social e dos direitos humanos, o fortalecimento da capacitação de agentes sociais, o estímulo à ciência, tecnologia e inovação e a expansão de iniciativas em infraestrutura, saneamento e meio ambiente.

A meta do programa de eliminação da TB como problema de saúde pública é reduzir a incidência para menos de 10 casos por 100 mil habitantes e fazer cair o número de mortes pela doença para  menos de  230 por ano, até 2030. O que para a coordenadora Fernanda Dockhorn, é uma meta possível, mas depende de um esforço coletivo. “O Brasil está no caminho, a gente tem o Brasil Saudável como ferramenta para ampliar as ações interministeriais e garantir proteção social para as pessoas com TB, atendimento adequado para quem é privado de liberdade, por exemplo”.

Para saber mais sobre a tuberculose e sobre o programa Brasil Saudável, acesse: www.gov.br/saude.

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