No interior Roraima, em São João da Baliza, um dos municípios mais remotos do estado, a prefeita Luiza Maura (PP) ganhou destaque não apenas por seu mandato — mas também pelas redes sociais. Em vídeos com coreografias, filtros e sorrisos, ela se mostra empenhada em “viralizar”. Porém, ao mesmo tempo, sua gestão enfrenta críticas severas por insuficiências estruturais e investigações que rondam o município e sua administração.
O município de São João da Baliza tem cerca de 8.858 habitantes, segundo estimativa do IBGE para 2022. Sua economia é baseada em agricultura e pecuária de subsistência, densidade populacional muito baixa e indicadores de saneamento ainda críticos: por exemplo, cerca de 34,8% da população está em domicílios sem rede de abastecimento regular de água.
Ou seja: em meio a tantas carências — infraestrutura, saneamento, emprego — a liderança local tem um palco visível nas redes, o que torna o contraste mais evidente.
A popularidade na urnas e no “feed”
Luiza Maura foi reeleita em 2024 com cerca de 79,5% dos votos (3.852 votos) em São João da Baliza. Nas redes sociais, ela utiliza conteúdo leve — danças, selfies, momentos do cotidiano — o que cria uma imagem de “prefeita conectada”, atraente para o público jovem e para quem vê o político tradicional como distante.
Entre os internautas, os comentários vão de “A prefeita mais gata do Brasil”, até “coroa gata! Às vezes nem é pelo PS5”, referindo-se a um vídeo game modelo Play Station.
Além das dancinhas e brincadeiras, a prefeita também publica fotos de momentos de lazer, como nesta pescaria.
Mas não é só celebração. Há pelo menos duas frentes que levantam questionamentos sobre sua gestão:
Investigação por fraudar seletivo de professores
Em março de 2025, o Ministério Público do Estado de Roraima (MP-RR) abriu investigação para apurar suposta alteração de notas e interferência no processo seletivo da contratação de professores no município. Durante as buscas foram apreendidos cerca de R$ 190 mil em espécie na residência da prefeita, além de eletrônicos e documentos.
Acusação de LGBTfobia e tentativa de extorsão
Em outra frente, a prefeita foi acusada de LGBTfobia por duas pessoas que alegam terem sido vítimas de ataques em razão da identidade de gênero. A prefeita nega e afirma que foi vítima de tentativa de extorsão.
Esses episódios fragilizam a imagem “leve” construída nas redes, especialmente em um contexto de município vulnerável e com alta demanda por boa governança.
O contraste entre fama digital e realidade municipal
Uma prefeita que posta dancinhas, interage, viraliza — isso chama atenção e muda a lógica do político tradicional. Mas também quando o município enfrenta falhas estruturais ou processos de investigação, a “marca digital” vira vulnerabilidade — e a pergunta que fica é: qual é o foco real? Curtidas ou conquistas para a população?
Em São João da Baliza, o palco das redes brilha — agora falta ver se os bastidores vão acompanhar.
