Líder Yanomami, Davi Kopenawa. Foto: HAY/ divulgação.

O xamã Davi Kopenawa, principal liderança indígena do povo Yanomami, afirmou que a responsabilidade da presença do garimpo ilegal em Roraima é do Estado e dos políticos do cenário nacional, que carregam a culpa das crises e conflitos que acontecem nos territórios indígenas. Kopenawa citou o senador Hiran Gonçalves (Progressistas-RR) como uma dessas figuras. O parlamentar é autor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 48/2024, que visa incluir a tese do Marco Temporal na Constituição Federal.

“O senador Hiran não é uma boa pessoa, ele é contra meu povo Yanomami. Ele está lutando para deixar entrar mais invasores. Ele não tem uma alma boa e honesta. Ele diz que as ONGs [Organizações Não Governamentais] estão roubando. Se não tivessem ONGs, mais Yanomami estariam morrendo. Eles estão em Brasília falando mal de nós, o doutor Hiran, o senador Chico Rodrigues e o senador Mecias de Jesus, são homens maus, que não gostam de indígenas. Eles estão deixando morrer meus filhos, amigos, netos, irmãs e parentes”, disse o líder Yanomami.

A declaração ocorreu nessa sexta-feira, 22, durante o congresso do Ministério Público de Contas de Roraima (MPC-RR) sobre os povos originários e direitos humanos, que este ano teve como tema “Amazônia: A última Fronteira entre os Direitos de um País Sustentável e a Realidade dos Povos Tradicionais – Uma Perspectiva Dos Direitos Humanos”. O evento aconteceu no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Roraima (OAB-RR).

Há 26 dias, comunidades indígenas de Roraima realizam mobilizações e bloqueios de rodovias como protesto contra o Marco Temporal, a PEC 48 e a PEC 36, que libera qualquer atividade produtiva em terras indígenas. Davi Kopenawa ressalta, ainda, como está a luta dos povos indígenas nas últimas semanas e reforça que precisa do compromisso dos órgãos competentes para mandar ajuda medicas às comunidades.

“Estamos respirando com a força da natureza e de Omama [entidade Yanomami], que nos criou. Aos poucos, estamos melhorando, mas onde os garimpeiros ficaram por quatro anos, ainda não está bem. É preciso que a saúde trabalhe, porque não está chegando. Precisamos que mandem enfermeiros, médicos, dentistas, técnicos, assim como os medicamentos. Sem remédio, os índios Yanomami vão continuar morrendo. As crianças continuam morrendo, porque a doença ainda não saiu”, alerta a liderança.

Palestra

No auditório da OAB-RR, Davi Kopenawa ministrou a palestra com o tema “Exploração do território Yanomami e a luta pela sobrevivência”, e reforçou o posicionamento contra a utilização de máquinas pesadas usadas para mineração desregular em territórios indígenas.

Segundo dados da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a Terra Indígena Yanomami (TIY) tem área de 9.664.975,4800 hectares e sua população está distribuída entre os Estados de Roraima (RR) e Amazonas (AM).

Entre as consequências do garimpo ilegal destacadas pela liderança indígena, está a morte de fauna e flora e a diminuição de espécies de animais, bem como o mercúrio nos rios, que matam peixes e contaminam as águas.

“Queria falar, hoje, que eu estou revoltado pelo que acontece com meu povo, vocês não estão respeitando e nunca reconheceram quem está protegendo an alma do planeta. Esse encontro é muito importante, para cada ano a gente dialogar e vocês entenderem o que está causando perigo para os povos originários. É muito bonito a frase ‘povos originários e direitos humanos’, mas é preciso cuidar de verdade”, destacou Kopenawa.

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