Em outubro, o Parque Nacional do Viruá, em Roraima, passou por uma experiência inédita na prevenção dos incêndios florestais: o uso do equipamento sling dragon. Trata-se de um dispositivo para lançamento de esferas que desencadeiam a combustão instantânea da vegetação quando tocam o solo, a partir de uma reação química.
Os equipamentos foram adquiridos pelo Ibama, em dezembro de 2022, e são os primeiros da América Latina. Porém, esta é a primeira vez que o sling dragon é utilizado em uma unidade de conservação federal. A iniciativa é fruto de parceria entre Ibama e ICMBio para prevenir incêndios na Amazônia.
O objetivo é manejar a área protegida com o uso de fogo, como o ICMBio atualmente faz com os brigadistas em solo. A diferença é que o equipamento é mais seguro, pois o procedimento é feito a partir da aeronave e permite a queima prescrita de áreas bem maiores. Ou seja, um ganho em segurança e escala.
“Verificamos que o uso do sling dragon requer algumas condições, como o planejamento cuidadoso da área a ser queimada, o treinamento das equipes para um alinhamento entre o piloto e o chefe da queima e uma checagem bem realizada no equipamento antes da operação”, analisou o coordenador de Manejo Integrado do Fogo (CMIF/CGPRO/Diman), João Paulo Morita. “Constatamos que é um dispositivo que pode ser muito útil para unidades que possuem grande área para manejar e possuem áreas de difícil acesso”, completa.
Slings dragons
O analista ambiental Bruno Souza, responsável pelas queimas, conta que no Parque Nacional do Viruá foi notado um ganho de escala no uso do sling dragon. “Pudemos acessar regiões de difícil acesso e conseguimos fazer em dois dias o trabalho que demoraria semanas”, relata. Na avaliação de Morita, o equipamento poderá ser útil para outras unidades de conservação que se encaixem neste perfil.
Neste sentido, além da CMIF, outros profissionais com experiência no manejo integrado do fogo lotados em outras unidades estarão no Viruá para observar e usar o equipamento. Eles são da Floresta Nacional de Brasília (DF), Estação Ecológica da Serra das Araras (MT) e Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT). Como parte do planejamento de queima da unidade, Souza acrescenta que o Parque terá parcelas de queimas destinadas à pesquisa para acompanhar o impacto na vegetação e nas aves.
Apesar de ter sido testado pelo Ibama nas savanas amazônicas dentro de terras indígenas, o Parque Nacional do Viruá possui ecossistemas onde ainda não foi utilizado o equipamento.
“O Parque é bastante suscetível aos efeitos do El Niño”, diz Souza, se referindo ao fenômeno climático que altera a distribuição de calor e umidade, gerando consequências que podem agravar a ocorrência de incêndios. Estas e outras razões fazem com que a unidade seja alvo de incêndios florestais severos, que chegam a atingir mais de 80 mil hectares.
Queimas prescritas As queimas prescritas são uma das ferramentas que compõem a estratégia do Manejo Integrado do Fogo (MIF), que busca prevenir os incêndios florestais utilizando o conhecimento tradicional, a pesquisa e a educação ambiental. Nela, o brigadista utiliza fogo na “janela de queima” com condições climáticas adequadas para fragmentar parte da vegetação e, deste modo, na época de incêndio, naquela área não terá passagem do incêndio.
As queimas ocorrem no período natural do fogo, ou seja, entre as estações chuvosa e seca, o que na maior parte do país corresponde à primeira metade do ano. Porém, como Roraima está no Hemisfério Norte do globo, o período se inverte. Enquanto o restante do Brasil ainda está em estiagem, em Roraima, a época mais crítica dos incêndios florestais é nos meses de fevereiro e março.