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Nadadora roraimense que treinava em igarapé é aposta do esporte paralímpico

Ana Clara Linhares, de 13 anos, já ganhou competições nacionais e sonha com mundial

Ana Clara Linhares. Foto: acervo pessoal

A adolescente Ana Clara de Oliveira Linhares, de 13 anos, é um exemplo de superação. Com a ajuda do esporte que mais ama, a natação, ela venceu muitas barreiras e hoje é uma atleta em destaque no paradesporto roraimense. A garota nasceu com uma deficiência chamada artrogripose congênita, que limita o movimento das articulações.

De acordo com a mãe, Lidiane de Oliveira, o primeiro diagnóstico era de que Ana Clara não conseguiria andar, mas ela manteve a esperança, incentivando a filha a vencer o primeiro desafio da vida. “Eu sempre tive a esperança que um dia ela poderia andar, nem que fosse com ajuda de muletas ou andador. Aos quatro anos de idade, Clara deu seus primeiros passos com ajuda de uma órtese, que pegava a perna toda. Foi uma felicidade tremenda”, lembra. Pouco tempo depois, Lidiane enxergou no esporte o estímulo que Ana Clara precisaria para auxiliar no seu desenvolvimento físico e psicológico.

Aos seis anos, a menina viu uma amiguinha nadando e disse para a mãe que também era capaz e que mostraria. “Nesse dia, ela entrou no igarapé do nosso sítio e pra nossa surpresa começou a nadar igual uma sereia, sem mexer as pernas, só os braços. Foi uma alegria tanto pra ela quanto pra família”, conta Lidiane, que a partir dali, começou a ouvir da filha pedidos para fazer aulas de natação. “Desde pequena, eu sou apaixonada por natação. Eu sempre quis fazer natação e eu quero ser conhecida no mundo todo”, conta Ana Clara.

A mãe não tinha como pagar e a realização do sonho foi adiada. Até que um dia Lidiane recebeu uma ligação do educador físico Mateus Antony, que dá aulas de natação no Centro de Referência Paralímpico de Roraima (CRP-RR), coordenado pela Universidade Estadual de Roraima (UERR) em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). De acordo com Antony, Ana Clara tem muito talento. “Desde a primeira aula pude ver sua facilidade e intimidade com a piscina, percebi que ela gostava de estar ali”, destaca.

Segundo ele, Ana Clara evoluiu muito rápido, por isso, logo conversou com ela sobre participar de competições. “Ela ficou bastante nervosa no início, mas já na sua primeira competição em Brasília, nas Paralimpíadas Escolares, fase regional, conquistou cinco medalhas de ouro, sendo classificada para a fase nacional em São Paulo. Lá, conquistou quatro ouros e um bronze. Ver a evolução da Ana Clara é muito gratificante. Mas, o mais importante é ver seu crescimento motor e social. Isso levará pra vida”, frisa.

A menina que treinava no igarapé do sítio da família hoje comemora a superação dos desafios. “Depois que eu entrei na natação eu descobri que também sou capaz de fazer tudo o que eu quero, tudo o que eu sonho. Eu só tenho a agradecer ao meu professor Mateus e ao professor Vinícius (coordenador do CRP-RR) por me dar essa grande chance de ser uma atleta reconhecida pelo estado de Roraima”, ressalta a pequena atleta.

No CRP-RR, também são oferecidas gratuitamente aulas de atletismo. As atividades ocorrem na Vila Olímpica de Boa Vista, de segunda a quinta-feira, nos turnos da manhã (Natação) e noite (Atletismo). Além do CRP-RR, a UERR incentiva o paradesporto em Roraima por meio do projeto de extensão “Atividades Físicas e Esportivas para Pessoas com Deficiência”, que disponibiliza gratuitamente aulas de Basquete em Cadeira de Rodas e Parabadminton, às segundas, quartas e sextas-feiras no Ginásio Hélio Campos.

Ao todo, as duas iniciativas reúnem mais de 50 pessoas com deficiência física, visual e/ou intelectual, com idades entre 08 e 35 anos. As inscrições estão sempre abertas. Os interessados podem entrar em contato com o coordenador Vinícius Denardin, professor do curso de Educação Física da UERR, pelo telefone 98120-2329. “A Universidade Estadual tem consolidado a sua atuação de referência ao esporte para pessoas com deficiência no estado de Roraima”, enfatiza.

Conforme Denardin, o tema inclusão faz parte da grade curricular. “A UERR tem incentivado cada vez mais a participação de acadêmicos de Educação Física nos projetos de extensão direcionados às pessoas com deficiência. Alguns regressam como professores”. Denardin cita como exemplo o professor da Ana Clara, Mateus Antony, que concluiu a graduação na UERR ano passado e hoje faz parte do CRP-RR.

O dia 3 de dezembro é o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992 para estimular os debates em torno dos direitos dessa parcela da população. A mãe da Ana Clara sabe o valor que têm as políticas públicas de inclusão. “Eu como mãe, parabenizo o professor Denardin e a UERR por esse projeto que ajuda muitas crianças com deficiência a se encontrarem no esporte, ganhando assim, mais qualidade de vida”, agradece.

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