“Weiyamî: mulheres que fazem sol” (Editora Wei, 2022) é uma obra literária de autoria da poeta Sony Ferseck, com ilustrações de Georgina Sarmento, ambas pertencentes ao povo Macuxi, de Roraima. Lançada no mês de abril do ano corrente, a obra vem afirmar a autoria indígena na literatura macuxi.
Weiyamî invoca Wei, nome que traduzido da língua macuxi quer dizer “Sol”. Na cultura macuxi, sol é uma entidade feminina, razão pela qual a autora lhe invoca para afirmar a figura da mulher no protagonismo do verso.
Weiyamî: mulheres que fazem sol
Segundo Sony Ferseck, o título da obra é inspirado na cosmologia Makuxi que conta a história de que as “filhas de Wei, da Sol, iluminam os caminhos dos mortos pela Via Láctea, pelas plêiades” permitindo o grande reencontro com os que já encantaram (ou faleceram).
Composto de poemas em versos livres, a obra bilíngue mescla português e língua makuxi. Invocando Wei, a voz lírica afirma-se como filha, irmã, mãe e avó, nos caminhos da Via Láctea, para o reencontro com os que já partiram, desde o tempo de 1500 até agora. É o eterno reencontro também com a identidade indígena.
Na literatura brasileira, Wei é aludida como Véi, a Sol, na obra “Macunaíma: o herói sem nenhum caráter”, de Mário de Andrade, publicada em 1928. Ela é interpretada por Gilda de Mello e Souza como a segunda antagonista que vence Macunaíma e o força a tornar-se constelação. O apagamento das referências dos povos do Circum-Roraima é notório, pois nem na obra e nem na crítica eles são citados.
Na contramão desta prática que se vale das referências indígenas para afirmar a identidade nacional, sem os povos que constituem tais propriedades intelectuais, a autora Sony Ferseck cita as fontes que pesquisa e com as quais trabalha. Assim, ao longo da obra conhecemos as outras vozes e povos indígenas que ecoam nos poemas, como seu Alcuíno de Lima, da comunidade do Taxi, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol; seu Terêncio Silva e Zenita Lima; o Projeto Panton Pia’; seu José Melquíades Peres, da comunidade Aleluia, antiga Mel, perto do Koimelemóng; o etnólogo Theodor Koch-Grünberg; termo em taurepang, entre outros.
Acrescido à imagem que as palavras ensejam é possível dançar com as imagens tecidas e pintadas pela ilustradora Georgina Sarmento, que valoriza o corpo gordo e o corpo que envelhece, da mulher indígena, este corpo silenciado porém majoritariamente presente no DNA brasileiro. Aludindo à fibra de inajá e buriti, também ao kewei, a ilustradora usa linhas, miçangas, sementes e outros materiais para compor a linguagem da tradição feminina makuxi.
Conheça a autora
Sony Ferseck na poesia e Wei Paasi em Makuxi maimu (língua Makuxi), nasceu em 1988. É formada em Letras pela Universidade Federal de Roraima (2012); mestre em Literatura, Artes e Cultura Regional (2016), também pela mesma instituição. Atualmente é professora substituta do Instituto Insikiran de Formação Superior na UFRR e doutoranda em Estudos Literários pelo Poslit/UFF. Publicou os livros “Pouco Verbo” (Máfia do Verso, 2013) e Movejo (Wei, 2020). Co-fundadora da primeira editora independente de Roraima, Wei Editora, pela qual lança seu mais novo título.