Prefeita Teresa Surita não quis obras de artistas roraimenses no painel principal (Foto: Giovani Oliveira)

O que interessa ao grupo de Romero Jucá (MDB), ex-senador ávido por voltar ao poder, é ganhar dinheiro e enraizar-se na política roraimense por meio de suas refinadas e sorrateiras estratégias. Não interessa a eles valores locais, história, cultura nem muito menos reconhecimento a quem é daqui.

É isso o que ficou evidenciado, mais uma vez, na decisão da prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), em dar migalhas aos artistas locais, enquanto contratou um único artista de fora, por quase meio milhão de reais, para fazer o mural principal da nova orla, o Parque Rio Branco, como é chamado o novo bibelô político da prefeita.

Assim como Teresa mandou destruir o Porto do Cimento, o símbolo maior da História de criação do Estado Roraima, para no lugar ser erguida a Orla Taumanan às margens do Rio Branco, obra cercada de suspeitas e que hoje mostrou-se uma aberração mal construída, agora a prefeita desrespeita os artistas e a cultura locais para fazer o mural que vai ser a marca visual da nova orla.

Para simular que deu chances aos locais, Teresa abriu edital para que os artistas locais disputassem o valor de R$6 mil por cada mural, podendo cada um concorrer a no máximo três murais. Foram 55 obras inscritas, entre as quais 25 artistas foram selecionados para pintar 34 murais. Obviamente que os locais não ficaram com o espaço principal e, pelos contratos, todos juntos, eles vão receber R$150 mil, valor este que sequer chega à metade do que o artista contratado pela prefeita, sem licitação, irá abocanhar.

O edital foi lançado em plena campanha eleitoral, o que se pode deduzir que Teresa usou as migalhas dadas aos artistas locais como estratégia para também captar dividendo eleitoral. E somente agora, quando a eleição foi encerrada, ela divulgou a verdadeira face: foi contratado o grafiteiro Carlos Eduardo Fernandes Leo, conhecido como o Kobra, para pintar o mural principal, pelo valor de R$400 mil, que terá todo o destaque e que será transformado na imagem visual da nova orla.

Trata-se de um pichador da zona sul de São Paulo (toda vez São Paulo nos grandes contratos!), que hoje se tornou famoso mundialmente. Verdade que se trata de uma celebridade internacional, mas Roraima precisa fazer as pazes com sua gente e com sua história antes de querer se tornar uma metrópole de fachada. Mas isso não importa a Teresa, que segue as ordens do grupo Jucá, que também não se importa com a crítica de não respeitar as tradições e a História locais.

No Estado de Roraima, há artistas com competência e know how para fazer qualquer tipo de obra artística, inclusive esses bichos que compõem a Selvinha Amazônica. Mas os locais não apenas são desprestigiados como também espezinhados pelos governantes. Teresa é campeã nisso, a exemplo de contratar artistas de Parintins para os seus principais eventos. O curioso é que todos baixam a cabeça e dizem amém para essa política mesquinha.

É marca de Teresa destruir a cultura local, como ocorreu com o Projeto Raízes, não respeitando a originalidade do local do prédio da Intendência e o tombamento de prédios que sequer fizeram parte da História, bem como a destruição do Porto do Cimento, substituído pelo “zaralho de asa” chamado de Orla Taumanan, que alaga no inverno rigoroso e que está passando por sua terceira reforma consecutiva sob suspeita de irregularidade, conforme foi comentado no artigo de ontem.

Se os artistas locais pudessem se dar ao luxo de recusar dinheiro, eles bem que poderiam  se encher de indignação e devolver as migalhas oferecidas por Teresa, em protesto a mais esse duro golpe aos artistas roraimenses e à cultura local. Mas Teresa e Jucá sabem como engabelar as pessoas, especialmente nessa arte de dar a esmola com uma mão e, com a outra, encher os bolsos de empresas e artista de fora.

A propósito, são as empresas de São Paulo que já faturaram quase um bilhão de reais em 20 anos de Teresa na Prefeitura de Boa Vista. É um volume tão vultoso que esses R$400 mil do pichador paulistano da zona sul é um cafezinho para o grupo de Jucá.

*Colunista

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