Enquanto áreas centrais recebem recapeamento por cima do asfalto, bairros estão na lama e atoleiros (Fotos: Divulgação)
Ao lado do ex-senador Romero Jucá, prefeita Teresa Surita anuncia obras de drenagem e asfaltamento no valor de R$40 milhões (Foto: Claudia Ferreira/Semuc/PMBV)

 

Quem anda pelas principais avenidas no Centro de Boa Vista logo observa que essas vias estão sendo recapeadas, ainda que estejam em boas condições. O asfalto é retirado para logo em seguida receber uma camada asfáltica novinha em folha. A Prefeitura de Boa Vista está gastando R$258 milhões com drenagem, pavimentação e urbanização, em processos nebulosos, os quais não explicam exatamente o que são essas obras e onde são realizadas.

 Não é a mesma realidade dos bairros da zona Oeste, onde vive a população periférica da Capital. Lá, as chuvas do inverno transformam ruas e avenidas em imensas lagoas, principalmente onde há resquício de asfalto tomado por crateras ou vias de terra batida, as quais se tornam atoleiros a cada chuva, armadilhas formadas para quem transita por elas.

No dia 05 de março deste ano, a prefeita Teresa Surita (MDB), ladeada pelo seu mentor e mestre, o ex-senador Romero Jucá (MDB), quando ele ainda aparecia em público como se fosse o prefeito, anunciou ordem de serviço para início de obras nos bairros da Capital com drenagem, pavimentação e urbanização (veja aqui). Mas, antes disso, já existiam 16 contratos, que totalizam R$218 milhões, para obras de drenagem que deveriam amenizar o sofrimento da população que moram nos bairros da periferia.

Logo em seguida, as obras iniciaram na Avenida Ene Garcez, onde está o complexo Ayrton Senna, que é o bibelô político de Teresa. O mesmo está ocorrendo com a Avenida Capitão Júlio Bezerra, uma das vias radiais da Praça do Centro Cívico. Nessas duas avenidas, sequer haviam buracos que prejudicassem o tráfego. Bastava uma operação tapa-buracos para deixá-las em perfeitas condições por mais alguns anos. Mas não. Essas vias tiveram o asfalto arrancado para receber uma nova camada por cima. A Avenida Capitão Júlio Bezerra não por acaso é a que dá acesso aos bairros nobres.

O curioso é a destinação desse resíduo de asfalto. Ninguém sabe para onde é levado esse asfalto que é retirado das avenidas centrais. Esse resíduo deveria ao menos estar servindo para tapar buracos de ruas e avenidas da cidade, onde o asfalto não chegou nem chegará, muito menos uma operação tapa-buracos.

As chuvas que estão caindo na cidade serviram para desnudar a realidade de uma cidade que está gastando uma fortuna destinada para drenagem e asfaltamento, cujas obras são vistas apenas nas áreas centrais de Boa Vista. A obra mais recente festejada pela Prefeitura é a da Avenida Carlos Pereira de Melo, que, por coincidência, é a principal via de acesso à residência de Teresa, um latifúndio urbano no bairro Cidade Satélite, onde o marido dela instalou uma fazenda de plantio de mogno africano no valor de R$12 milhões, conforme mostrou uma reportagem do Globo Rural (veja aqui).

É inconcebível que a Prefeitura tenha gastado R$258 milhões de recursos federais, sendo que os bairros periféricos comem o pão que o diabo amassou, com alagamentos e buracos por falta de pavimentação e drenagem. Tudo isso passando ao largo dos órgãos fiscalizadores, incluindo o Ministério Público, e a maioria dos vereadores, que estão caladinhos, como se isso não lhes dissessem respeito.

Com toda atenção voltada para o coronavírus, com Teresa fazendo guerra com o Governo do Estado, desviando a atenção de todos, a Prefeitura vai colocando asfalto onde não precisa e deixando os bairros periféricos debaixo da lama. O curioso é que há veículos de comunicação que não publicaram uma matéria sequer para expor a situação de quem teve sua casa alagada ou a rua de sua casa transformada em lagoas.

Alguém precisa fiscalizar a aplicação desses quase R$260 milhões de recursos federais. Não se pode admitir que máquinas e operários arranquem asfalto nas áreas centrais, enquanto a periferia não recebe sequer uma operação tapa-buracos. É um escândalo a vista de todos, mas que ninguém não quer enxergar ou finge não enxergar.

*Colunista

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